Pular para o conteúdo principal

Fiquei à beira da morte e não vi o diabo nem deus

Quem morre acaba, finda, vira esqueleto, pó e adubo para a Terra — um destino glorioso


PAULO LOPES | memórias
jornalista

Ri quando um jovem médico, ao entrar no quarto do hospital onde eu estava internado, usou uma velha expressão para se referir à morte de uma pessoa.

“Houve um dia em que pensei que você fosse descansar”, disse.

Estou ficando velho, admito, mas acho que nunca vou me cansar da vida, minha única vida.

Internei-me no dia 17 de agosto de 2016 para me submeter a uma cirurgia simples, com a expectativa de ter alta em quatro dias.

Acabei ficando no hospital mais de 50 dias e, de fato, houve um momento em que quase morri.

Deu tudo bem com a cirurgia no estômago, mas, como dizem os médicos, houve “intercorrências”.

Tive embolia pulmonar (descobri que meus pulmões não são dos melhores, embora eu nunca tenha fumado), fiquei intubado por 10 dias (é "intubado" mesmo, com "i"), meus rins pararam, abriu-se uma fístula no meu estômago, uma infecção hospitalar me pegou e entrei em depressão. E ainda houve o desconforto de ter uma sonda entrando pelo nariz e um dreno no estômago.

Se eu tivesse caxumba, não estranharia, embora, em tese, eu esteja imunizado contra essa doença.

Acho que estive mais perto da morte desta vez do que há três anos, quando sofri um enfarto e tive de receber o implante de uma safena e de uma mamária. 

Nas duas vezes, fui salvo pela ciência e, agora, também pela competência e dedicação da dra. Ana Karina Soares, especializada em cirurgia bariátrica.  


Eu costumava dizer, no hospital, que era o único ateu que tinha dois anjos da guarda: a minha mulher, a Maria Fernanda, e a dra. Ana. 

A Fernanda praticamente se internou comigo, e a dra. Ana aparecia todos os dias no hospital, às vezes duas vezes, brindando-me com seu sorriso. 

Agradeço também o meu amigo e cardiologista Marcos Damião Ferreira, cuja sabedoria me ajudou a manter minha estabilidade emocional. Achei que ia pirar.

Tenho ainda de mencionar o médico Vlamir Morimitsu, que me acompanhou em meus piores dias de UTI, juntamente com a dra. Ana.

Eu “acordei” da intubação ao som de Pink Floyd providenciado pela minha mulher, que sabe que tenho fascinação por essa banda. 

No meu período de recuperação no hospital, quando fui transferido da UTI para um quarto, ouvi do pessoal da limpeza, de enfermeiras e até de médicos que eu tinha sido salvo por um... milagre. 

A Testemunha de Jeová que esteve no hospital, quando eu estava inconsciente na UTI, certamente achou que o que me curou foi a oração dela. Se eu tivesse morrido, alguém certamente levantaria a suspeita de que os culpados foram os médicos. É sempre assim. É Deus que salva, e são os médicos que matam.

Não tenho nenhuma lembrança dos dias em que fiquei próximo da morte. 

Não me lembro, por exemplo, de ter visto ao meu lado uma sombra de capuz preto com uma foice nas mãos ou anjinhos para me levar ao céu ou ainda o diabo para me conduzir ao inferno, que é o lugar de ateu, segundo os crentes fanáticos. 

Seu eu tivesse visto algum ente sobrenatural, seria alucinação por excesso de medicamento. 

Quem morre acaba, finda, vira esqueleto, e, depois, pó e adubo para a Terra — o que é um destino glorioso.

Transformar-se é a natureza de tudo que existe no universo. Achar que o homem possa ser exceção é pretensão de quem tem medo da morte e gostaria de ser eterno, sem se dar conta de que isso seria um martírio.

Quanto a mim, por enquanto vou vivendo. O que é muito bom.

O dia em que comecei a desacreditar em Deus

• Maçonaria não me quer por ser ateu, mas nem eu a aceitaria

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Jornalista defende liberdade de expressão de clérigo e skinhead

Título original: Uma questão de hombridade por Hélio Schwartsman para Folha "Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos"  Disputas eleitorais parecem roubar a hombridade dos candidatos. Se Fernando Haddad e José Serra fossem um pouco mais destemidos e não tivessem transformado a busca por munição contra o adversário em prioridade absoluta de suas campanhas, estariam ambos defendendo a necessidade do kit anti-homofobia, como aliás fizeram quando estavam longe dos holofotes sufragísticos, desempenhando funções executivas. Não é preciso ter o dom de ler pensamentos para concluir que, nessa matéria, ambos os candidatos e seus respectivos partidos têm posições muito mais próximas um do outro do que da do pastor Silas Malafaia ou qualquer outra liderança religiosa. Não digo isso por ter aderido à onda do politicamente correto. Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos. Acredito que clérigos e skinheads devem ser l

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias