O advogado Ives Gandra da Silva Martins escreveu artigo no 'Estado de S.Paulo' dizendo que, no Brasil, uma minoria agnóstica hostiliza quem acredita em Deus.
Gandra não revelou onde esses agnósticos estão, mas há, no artigo, indicações de que eles estejam no Supremo Tribunal Federal, governo e imprensa.
Como se vê, trata-se de mais uma teoria de conspiração, parecida com a dos Iuminati, que dominam o mundo.
Para além das teorias de conspiração, a verdade é que desde sempre quem manda no Brasil são os crentes.
É claro que a Opus Dei, uma organização católica ultraconservadora da qual Gandra é um ilustre filiado, não tem nenhuma influência no país, fazendo jus a sua insignificância.
A rigor, não há nada de errado haver em postos importantes da República crentes ou descrentes. Desde que eles não tentem impor seu ponto de vista à sociedade.
Não tem sido assim em relação aos cristãos, que compõem a esmagadora maioria na população e no governo em todas as esferas.
Nos últimos dez anos, a intromissão de cristãos, principalmente dos evangélicos, em decisões de políticas públicas aumentou de maneira escandalosa, enfraquecendo a laicidade do Estado.
Na maior parte desse período, quem mandou no poder federal foi um partido cristão de esquerda.
O PT, é bom lembrar, foi criado com a sustentação das comunidades eclesiais de base, da Igreja Católica.
O cordão umbilical do PT com essas comunidades nunca se desfez.
Lembro, também, que a bancada de parlamentares evangélicos se fortaleceu com o apoio do PT, que passou a tê-la como aliada nas eleições e votações.
Durante seus governos, o PT se submeteu à agenda conservadora dos evangélicos em questões fundamentais, como o direito da mulher de decidir ou não pelo aborto.
Gandra, em sua teoria de conspiração, aponta o dedo para o Supremo Tribunal Federal, que, a meu ver, tomou decisões históricas, como o reconhecimento da união homoafetiva.
Não consta que o STF tenha sido tomado por agnósticos.
A maioria dos atuais ministros do Supremo (se não todos eles), aliás, é crente, indicada pelo PT.
Tanto que um crucifixo permanece ostensivamente no plenário do Supremo.
Não houve nenhum presidente da Casa que ousasse tirá-lo dali ou ao menos colocá-lo em lugar menos visível.
Para a Suprema Corte de um país de Estado laico, isso é uma afronta que não tem merecido a devida reação da sociedade.
Portanto, com todo respeito a Gandra, um senhor de 82 anos, essa história de que há no Brasil uma ditadura de agnósticos é papo de fanático religioso.
Advogado afirma que agnósticos hostilizam quem acredita em Deus |
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