R. me contou que seu bisavô paterno se casou com uma cobra.
Não é uma metáfora, de um homem que se casou com uma mulher de temperamento de serpente. É cobra mesmo.
Induístas creem que divindades se expressam por meio de bichos |
R. é uma estudante indiana que está morando em minha casa, em contrapartida ao um ano em que minha filha número dois (tenho quatro) ficou no Japão.
A indiana me chama de “pai”, e eu a de “filha”, de acordo com recomendação do Rotary, que é a entidade patrocinadora do intercâmbio cultural.
R. é inteligente, articulada, bem informada, fala híndi, inglês e agora português, que aprendeu em quatro meses. Em português, já entende até ironia.
Ela é hindu.
Segue, portanto, uma tradição religiosa e cultural que reverencia animais, como a vaca, o macaco e a serpente.
Os hinduístas acreditam que as divindades se expressam por intermédio de bichos.
Daí, para eles, se casar com serpente, por exemplo, é grande honra.
R. é como a maioria dos católicos brasileiros. Não leva a religião muito a sério, por influência, acho, do seu pai, que é liberal.
Na Índia, estudou em um colégio católico, onde não há proselitismo religioso.
Ela me garantiu que, em sala de aula, nunca teve de rezar um pai-nosso, diferentemente, portanto, do que ocorre em algumas escolas públicas do Brasil, que é, como se sabe, um estranho país “laico-católico-evangélico”.
Ela come — com gosto — carne bovina, mas só no Brasil. Quando voltar à Índia, com certeza terá saudade do animal sagrado no prato.
R. é da casta alta, como todo hinduísta.
Eu já lhe disse duas ou três vezes que acho o sistema de castas uma aberração.
Ela concorda, mas reconhece que nada pode ser feito porque essa discriminação está entranhada na cultura indiana.
Se bem entendi de nossas conversas, o sistema de castas só terá fim quando a Índia deixar de ser a Índia.
Eu perguntei se conhece na Índia algum ateu.
Disse que sim, que conheceu um na escola.
Ateu na Índia é raridade, é alguém que pode ser exibido em um circo de seres estranhos.
Com 1,2 bilhão de pessoas, a Índia tem apenas 33.000 ateus. Ou seja, 0,0027% da população.
Depois que R. me disse que tem como bisavó uma cobra, eu me senti na obrigação de lhe contar uma curiosidade do catolicismo.
Eu falei que os católicos, como se fossem canibais, acreditam piamente que o vinho que o padre bebe na missa e a hóstia são, respectivamente, sangue e carne de Cristo.
Em minha opinião, isso é mais chocante do que casar com cobra.
R. vai voltar para a Índia com pelo menos uma história incrível para contar.
Os hinduístas acreditam que as divindades se expressam por intermédio de bichos.
Daí, para eles, se casar com serpente, por exemplo, é grande honra.
R. é como a maioria dos católicos brasileiros. Não leva a religião muito a sério, por influência, acho, do seu pai, que é liberal.
Na Índia, estudou em um colégio católico, onde não há proselitismo religioso.
Ela me garantiu que, em sala de aula, nunca teve de rezar um pai-nosso, diferentemente, portanto, do que ocorre em algumas escolas públicas do Brasil, que é, como se sabe, um estranho país “laico-católico-evangélico”.
Ela come — com gosto — carne bovina, mas só no Brasil. Quando voltar à Índia, com certeza terá saudade do animal sagrado no prato.
R. é da casta alta, como todo hinduísta.
Eu já lhe disse duas ou três vezes que acho o sistema de castas uma aberração.
Ela concorda, mas reconhece que nada pode ser feito porque essa discriminação está entranhada na cultura indiana.
Se bem entendi de nossas conversas, o sistema de castas só terá fim quando a Índia deixar de ser a Índia.
Eu perguntei se conhece na Índia algum ateu.
Disse que sim, que conheceu um na escola.
Ateu na Índia é raridade, é alguém que pode ser exibido em um circo de seres estranhos.
Com 1,2 bilhão de pessoas, a Índia tem apenas 33.000 ateus. Ou seja, 0,0027% da população.
Depois que R. me disse que tem como bisavó uma cobra, eu me senti na obrigação de lhe contar uma curiosidade do catolicismo.
Eu falei que os católicos, como se fossem canibais, acreditam piamente que o vinho que o padre bebe na missa e a hóstia são, respectivamente, sangue e carne de Cristo.
Em minha opinião, isso é mais chocante do que casar com cobra.
R. vai voltar para a Índia com pelo menos uma história incrível para contar.
A intercambista pediu que eu não revelasse seu nome para não comprometê-la na Índia.
Justiça proíbe uso da religião para obtenção de voto. Na Índia
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