Jovens estão construindo um sentido para a vida |
por Léo Rosa
para JusBrasil
Ser ateu é um modo de estar no mundo. Antes de ser implicação com a existência de divindades, o ateísmo é um desdobramento da reflexão filosófica sobre os limites entre o sentido da existência e o absurdo da existência.
Eternamente indaga-se o sentido da vida. Fala-se do assunto em sério, mas de tão vulgarizado, também já se o aborda como gracejo. A Antiguidade discutia o tema, e filósofos importantes dispensavam a ideia de deuses.
Os filósofos que admitiam a possibilidade de um poder gerador consideravam a hipótese de alguma energia propulsora, jamais de um deus guardião da moral, dos bons costumes, ou das atividades sexuais de alguém.
Eram, naqueles tempos, outros deuses; eram outros os seus sentidos. O deus abraâmida propagado na tradição europeia é outra coisa. Vindo dos judeus, tornou-se cristão, acabou católico, depois variou por confissões.
O deus católico é a divindade do chamado 13º apóstolo, Constantino. No século quarto, como imperador de Roma, com o poder que tinha, impôs essa crença ao mundo. Era simples: ou se era católico ou se era defunto.
É história sabida. O poder religioso atravessou a Idade Média, a Renascença e mesmo parte da Modernidade. Foram mil e quinhentos anos de feroz controle. Só com a Revolução Francesa a coisa começou a sofrer reversão.
Grupos ateus de internet, sobretudo, estão em franco combate com esse deus cristão\católico\protestante\evangélico. Isso é importante porque desmistifica, traz a discussão para o raso, desmoraliza o “santo nome do senhor”.
Essa, todavia, não é a questão de fundo. A relevância filosófica está nas decorrências existenciais do ateísmo. Declarado morto por Nietzsche, a realidade de deus é trazida novamente à pauta, sobretudo nos meios intelectuais.
E Nietzsche nem discute a existência do deus semita, di-lo morto. A recalcitrância religiosa insiste que o filósofo se trai: “proposta a morte, admitida a existência”. Nada disso. Nietzsche declara a morte da ideia de um deus.
Inexistindo um princípio (um criador que dê sentido às coisas do mundo), vivemos absurdamente. Seja: a vida não tem sentido, a morte não tem sentido, o viver não tem sentido. Nada tem nem faz sentido algum.
Ou deus, ou nada, dirá Kierkegaard. Se houver algum significado para a vida, o deus (cristão) será a sua fonte derradeira. Se não existe no princípio e no fim esse significado, nada terá significado para coisa nenhuma.
É um deus por exclusão, ou por carência justificadora. É um desesperado “tem que existir deus”. Sartre se apropria desse existencialismo e o faz ateu. De fato, dirá, não existe deus e a vida não tem mesmo sentido.
Como a existência precede a essência, quer dizer, como nós não somos projeto de um deus, temos que dar conta de nós mesmos. A vida terá o sentido que nós construirmos historicamente para a vida. Somos condenados a isso.
Sartre e Camus discrepam um pouco. Para Camus, mesmo o gesto histórico resta absurdo. Sartre defende a invenção de sentidos: a responsabilidade do engajamento nos rumos para os quais conduzir nossas circunstâncias.
Essa é a demanda do ateu: o que fazer da vida, do viver, da existência? Seguramente ninguém pode restringir sua militância à publicação de charges jocosas nas redes sociais, ainda que elas se prestem a uma ironia de combate.
O catolicismo alcança 34,3% da população jovem brasileira; ateus e agnósticos são 25,5%; evangélicos somam 14,9%. A pesquisa é da PUCRS, ou seja, vem de uma instituição insuspeita (http://migre.me/wm28g).
O fenômeno do ateísmo, por ocorrer entre jovens, tende a crescer. Como não está programada para buscar o céu, essa juventude talvez se engaje no delineamento de suas circunstâncias. Militar politicamente, diria Sartre.
Discutir a Sociedade, seus valores: o contrato de viver a vida. O Brasil não está para falar sobre convivência pública. O momento histórico é de descrença na política. O momento histórico é de retomada da política.
A política tradicional está religiosa: quase 100% dos nossos deputados se declara como tal (http://migre.me/wm2B8). Há outros meios de construção de sentidos. Os jovens os estão encontrando. Ainda bem. Graças a deus.
Eternamente indaga-se o sentido da vida. Fala-se do assunto em sério, mas de tão vulgarizado, também já se o aborda como gracejo. A Antiguidade discutia o tema, e filósofos importantes dispensavam a ideia de deuses.
Os filósofos que admitiam a possibilidade de um poder gerador consideravam a hipótese de alguma energia propulsora, jamais de um deus guardião da moral, dos bons costumes, ou das atividades sexuais de alguém.
Eram, naqueles tempos, outros deuses; eram outros os seus sentidos. O deus abraâmida propagado na tradição europeia é outra coisa. Vindo dos judeus, tornou-se cristão, acabou católico, depois variou por confissões.
O deus católico é a divindade do chamado 13º apóstolo, Constantino. No século quarto, como imperador de Roma, com o poder que tinha, impôs essa crença ao mundo. Era simples: ou se era católico ou se era defunto.
É história sabida. O poder religioso atravessou a Idade Média, a Renascença e mesmo parte da Modernidade. Foram mil e quinhentos anos de feroz controle. Só com a Revolução Francesa a coisa começou a sofrer reversão.
Grupos ateus de internet, sobretudo, estão em franco combate com esse deus cristão\católico\protestante\evangélico. Isso é importante porque desmistifica, traz a discussão para o raso, desmoraliza o “santo nome do senhor”.
Essa, todavia, não é a questão de fundo. A relevância filosófica está nas decorrências existenciais do ateísmo. Declarado morto por Nietzsche, a realidade de deus é trazida novamente à pauta, sobretudo nos meios intelectuais.
E Nietzsche nem discute a existência do deus semita, di-lo morto. A recalcitrância religiosa insiste que o filósofo se trai: “proposta a morte, admitida a existência”. Nada disso. Nietzsche declara a morte da ideia de um deus.
Inexistindo um princípio (um criador que dê sentido às coisas do mundo), vivemos absurdamente. Seja: a vida não tem sentido, a morte não tem sentido, o viver não tem sentido. Nada tem nem faz sentido algum.
Ou deus, ou nada, dirá Kierkegaard. Se houver algum significado para a vida, o deus (cristão) será a sua fonte derradeira. Se não existe no princípio e no fim esse significado, nada terá significado para coisa nenhuma.
É um deus por exclusão, ou por carência justificadora. É um desesperado “tem que existir deus”. Sartre se apropria desse existencialismo e o faz ateu. De fato, dirá, não existe deus e a vida não tem mesmo sentido.
Como a existência precede a essência, quer dizer, como nós não somos projeto de um deus, temos que dar conta de nós mesmos. A vida terá o sentido que nós construirmos historicamente para a vida. Somos condenados a isso.
Sartre e Camus discrepam um pouco. Para Camus, mesmo o gesto histórico resta absurdo. Sartre defende a invenção de sentidos: a responsabilidade do engajamento nos rumos para os quais conduzir nossas circunstâncias.
Essa é a demanda do ateu: o que fazer da vida, do viver, da existência? Seguramente ninguém pode restringir sua militância à publicação de charges jocosas nas redes sociais, ainda que elas se prestem a uma ironia de combate.
O catolicismo alcança 34,3% da população jovem brasileira; ateus e agnósticos são 25,5%; evangélicos somam 14,9%. A pesquisa é da PUCRS, ou seja, vem de uma instituição insuspeita (http://migre.me/wm28g).
O fenômeno do ateísmo, por ocorrer entre jovens, tende a crescer. Como não está programada para buscar o céu, essa juventude talvez se engaje no delineamento de suas circunstâncias. Militar politicamente, diria Sartre.
Discutir a Sociedade, seus valores: o contrato de viver a vida. O Brasil não está para falar sobre convivência pública. O momento histórico é de descrença na política. O momento histórico é de retomada da política.
A política tradicional está religiosa: quase 100% dos nossos deputados se declara como tal (http://migre.me/wm2B8). Há outros meios de construção de sentidos. Os jovens os estão encontrando. Ainda bem. Graças a deus.
O autor do texto é doutor em direito pela UFSC, psicólogo e jornalista.
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