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Com apoio da Igreja, amor de pais se transforma em crueldade


É compreensível que pais aproveitem todas as possibilidades, até as mínimas, para salvar um filho doente.

É um sentimento tão forte que, em certas circunstâncias, ele se transforma em crueldade.

Aos 11 meses de vida, o bebê Charlie Gard (foto) morreu no dia 28 de julho de 2017, com a retirada de aparelhos que o mantinham vivo.

A longa agonia de Charlie

Se a respiração artificial tivesse sido desconectada quando os médicos decidiram inicialmente, poupar-se-ia meses de sofrimento ao bebê.

Gard sofria de uma doença rara incurável, que o enfraquecia cada vez mais e o impedia de respirar, com perda da força muscular e dano cerebral.

Os médicos do Great Ormond Street Hospital, do Reino Unido, se pautaram pelo princípio Child Best Interest [“O melhor interesse da criança”], para abreviar a agonia do bebê, proporcionando-lhe uma morte digna.

Connie Yates e Chris Gard, os pais, recorreram à primeira instância Justiça britânica, que deu respaldo à decisão dos médicos.

Enquanto isso, o bebê permanecia no hospital, sofrendo.

Os pais apelaram ao Supremo, que confirmaram a sentença.

E Gard continuava com sondas no nariz, sob medicação.

Em fevereiro de 2017, os pais recorreram à Corte Europeia.

Eles queiram que o filho fosse submetido nos Estados Unidos a uma terapia experimental, usada em animais cobaias.

Também a Corte validou a decisão médica.

E o bebê permanecia em agonia.


A esta altura, o papa Francisco já tinha se interessado pelo caso, colocando o hospital infantil da Santa Sé à disposição dos pais.

Charlie Gard se tornou, então, uma bandeira de propaganda do movimento católico pró-vida, que se opõe há décadas à morte digna de doentes terminais.

Francisco não se importou publicamente com o sofrimento do bebê porque no cristianismo a dor é purificadora, é a chave para a entrada no céu. E pela doutrina cristã, Charlie já nasceu pecador.

Assim, com o respaldo da Igreja Católica, a insistência dos pais de Charlie em mantê-lo vivo se tornou em crueldade para com um bebê agonizante.

Por temer a dor da perda de um filho, os pais prolongaram o sofrimento do bebê.

Eles demoraram em se colocar no lugar do filho. Egoístas, não tiveram essa grandeza.

Os médicos (homens da ciência) e os juristas (operadores da impessoalidade das leis) se mostraram mais solidários com a condição humana em situação extrema do que os sacerdotes.

Com informações das agência e foto de arquivo familiar.




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