por Juan G. Bedoya
para El País
Daniel Pittet (foto), aquele menino absolutamente pobre, tem agora 58 anos, é bibliotecário e foi a em Madri para lançar o livro sobre sua vida, intitulado Le perdono, padre. Sobrevivir a una infancia rota ("Eu lhe perdoo, padre. Sobreviver a uma infância interrompida').
Abrigado pelos jesuítas e pelo presidente da Conferência dos Bispos da igreja Católica, o cardeal Ricardo Blásquez, Pittet foi apresentado ao público pelo próprio papa Francisco. “Para quem foi vítima de um pederasta é difícil contar o que sofreu.
O testemunho de Daniel é necessário, precioso e corajoso”, escreve o pontífice argentino no prefácio da biografia do coroinha.
Pittet se casou, tem seis filhos e escreveu um livro terrível. “Depois de dezoito anos de terapia, consigo agora usar as palavras adequadas”, diz.
Pittet se casou, tem seis filhos e escreveu um livro terrível. “Depois de dezoito anos de terapia, consigo agora usar as palavras adequadas”, diz.
Além do prefácio do papa, a autobiografia inacabada desse valoroso e culto bibliotecário suíço traz um epílogo no qual, em 30 páginas, o seu estuprador confessa de forma tenebrosa.
É espantosa a quantidade de malfeitorias: ele abusou, diz, de outros 150 meninos, dos quais pelo menos oito acabaram cometendo suicídio.
O padre Allaz tinha caminho livre como estuprador. Era capelão dos jovens pré-adolescentes de toda a Suíça de língua francesa e envolvia as pessoas com sua retórica. “Enquanto ele estava fazendo sermões espetaculares, eu o enxergava nu como um velho porco”, conta, agora, a sua vítima.
Determinado a impor tolerância zero para os pedófilos protegidos em setores da Igreja Romana — acobertados por alguns bispos mais preocupados com o prestígio do que com o código penal —, Francisco se arrisca apoiando Daniel Pittet.
Determinado a impor tolerância zero para os pedófilos protegidos em setores da Igreja Romana — acobertados por alguns bispos mais preocupados com o prestígio do que com o código penal —, Francisco se arrisca apoiando Daniel Pittet.
“O menino ferido é agora um homem de pé, frágil, mas de pé”, diz.
Como um menino estuprado aos 9 anos se lembra de sua primeira vez?
O bibliotecário Pittet não faz concessões.
“Em um sábado como todos os outros, entra na catedral um sacerdote capuchinho, o padre Allaz, para celebrar a missa. Por que ele? Sentiu o cheiro de uma boa presa. Convida-me ao convento. Quer me mostrar um melro que fala. Tenho 9 anos, é algo mágico! Sem tempo para ver o melro, me faz entrar em seu quarto. Dá uma ordem: 'Abaixe suas calças!'. Tudo acontece muito rápido. Depois, me serve uma limonada. Nenhuma palavra. Bebo em silêncio. Acompanha-me até a porta, todo sorrisos. Diz bem baixinho: ‘Vamos ter que manter tudo isso entre nós’."
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