por Fabio Martini
para La Stampa
Há algo de revolucionário na confissão do papa Francisco de ter feito análise, de ter se beneficiado com isso e de ter sido tratado por uma psicanalista.
Desde o início do século XX, a Igreja sempre se opôs, com todos os meios, até mesmo “ilegais”, à psicanálise, percebida como perigosa concorrente, como “culpada” de ter quebrado o monopólio católico no confessionário e na introspecção das almas.
É claro, a acusação nunca foi declarada explicitamente, mas, durante pelo menos 50 anos, desenvolveu-se uma guerra sem fronteiras contra uma disciplina “herética” fundada pelo judeu ateu Sigmund Freud.
A psicanálise foi uma disciplina, pelo menos na Itália, vivida como desestabilizadora por todos os poderes constituídos. Nas origens, ela foi contrastada não só pela Igreja, mas também pelo fascismo, pelo idealismo de Croce e, no segundo pós-guerra, pelo Partido Comunista Italiano de influência soviética.
De fato, no início dos anos 1930, os pioneiros [na Itália], não por acaso, foram dois judeus – Edoardo Weiss e Emilio Servadio – e dois antifascistas socialistas, Cesare Musatti e Nicola Perrotti.
O Vaticano foi hostil porque intuía na psicanálise uma perigosa concorrente. Ele denunciava o seu “pansexualismo” e “materialismo”, mas, daquelas teorias, o que inquietava ainda mais era a ambição “totalitária”, uma atitude que acabou retirando da Igreja o monopólio da alma e os tantos segredos pessoais até então guardados no confessionário.
E ruiu até mesmo o monopólio sobre a atividade onírica, em relação à qual a Igreja havia elaborado, bem antes de Freud, uma “Interpretação” própria, segundo a qual, através dos sonhos, é o diabo que quer capturar a alma.
É por isso que a Igreja, em 1934, pediu a Mussolini – e obteve – a supressão da “Revista Italiana de Psicanálise”, à qual se seguiria, cinco anos depois, a dissolução da, embora pequena, Sociedade Italiana de Psicanálise.
Sufocada desde o nascimento com o acordo do fascismo, a psicanálise italiana, no segundo pós-guerra, sofreu a retomada das hostilidades por parte Igreja, a tal ponto que, em 1952, no “Boletim do Clero Romano”, chegou-se até a qualificar como “pecado mortal” toda prática psicanalítica.
Uma excomunhão aparentemente sem recurso, mas que, nos anos posteriores, gradualmente se desfez graças a pequenas aberturas de papas como Paulo VI e João XXIII.
Com tradução de Moisés Sbardelotto para IHU Online.
É claro, a acusação nunca foi declarada explicitamente, mas, durante pelo menos 50 anos, desenvolveu-se uma guerra sem fronteiras contra uma disciplina “herética” fundada pelo judeu ateu Sigmund Freud.
A psicanálise foi uma disciplina, pelo menos na Itália, vivida como desestabilizadora por todos os poderes constituídos. Nas origens, ela foi contrastada não só pela Igreja, mas também pelo fascismo, pelo idealismo de Croce e, no segundo pós-guerra, pelo Partido Comunista Italiano de influência soviética.
De fato, no início dos anos 1930, os pioneiros [na Itália], não por acaso, foram dois judeus – Edoardo Weiss e Emilio Servadio – e dois antifascistas socialistas, Cesare Musatti e Nicola Perrotti.
O Vaticano foi hostil porque intuía na psicanálise uma perigosa concorrente. Ele denunciava o seu “pansexualismo” e “materialismo”, mas, daquelas teorias, o que inquietava ainda mais era a ambição “totalitária”, uma atitude que acabou retirando da Igreja o monopólio da alma e os tantos segredos pessoais até então guardados no confessionário.
E ruiu até mesmo o monopólio sobre a atividade onírica, em relação à qual a Igreja havia elaborado, bem antes de Freud, uma “Interpretação” própria, segundo a qual, através dos sonhos, é o diabo que quer capturar a alma.
É por isso que a Igreja, em 1934, pediu a Mussolini – e obteve – a supressão da “Revista Italiana de Psicanálise”, à qual se seguiria, cinco anos depois, a dissolução da, embora pequena, Sociedade Italiana de Psicanálise.
Sufocada desde o nascimento com o acordo do fascismo, a psicanálise italiana, no segundo pós-guerra, sofreu a retomada das hostilidades por parte Igreja, a tal ponto que, em 1952, no “Boletim do Clero Romano”, chegou-se até a qualificar como “pecado mortal” toda prática psicanalítica.
Uma excomunhão aparentemente sem recurso, mas que, nos anos posteriores, gradualmente se desfez graças a pequenas aberturas de papas como Paulo VI e João XXIII.
Com tradução de Moisés Sbardelotto para IHU Online.
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