Martinho Lutero ajudou a moldar o regime nazista |
por Tânia Mastrobuoni
para La Repubblica
Apagar todos os vestígios do judaísmo da Bíblia, declarar “prejudicial” o Antigo Testamento, negar até que Jesus fosse judeu. Uma mistificação monstruosa que levou os nazistas a fundarem, em 1939, em Eisenach, um instituto para “desjudeizar” a tradição cristã. E que eles motivaram também através do violento antissemitismo da fase tardia de Martinho Lutero.
É o que conta a bela mostra sobre “Lutero e o nazismo”, montada no Museu da Topographie des Terrors, no antigo quartel-general da Gestapo, em Berlim.
O pai da Reforma protestante tornou-se, desde o início, uma figura fundamental da propaganda nazista. E não só pelo seu antissemitismo.
É o que conta a bela mostra sobre “Lutero e o nazismo”, montada no Museu da Topographie des Terrors, no antigo quartel-general da Gestapo, em Berlim.
O pai da Reforma protestante tornou-se, desde o início, uma figura fundamental da propaganda nazista. E não só pelo seu antissemitismo.
Desde a unidade alemã e da fundação do Reich em 1871, o homem que havia se rebelado contra o papa e que, de acordo com Thomas Mann, havia libertado o espírito dos alemães traduzindo a Bíblia para a língua deles era considerado um pai da pátria.
Na perene tendência à perversão de tudo, os nazistas o transformaram em um segundo Führer. O teólogo Hans Preuss, em seu livro “Luther, Hitler”, escreve que “ambos são chamados a salvar o seu povo. De ambos eleva-se o grito pelo Homem Novo da salvação”.
E o historiador Heinrich Bornkamm distorce o pensamento do reformador até retraçar nos seus escritos um antissemitismo não dirigido “contra o judeu em si”, mas motivado pelo conceito de raça.
Hans Delbrück morreu em 1929 e não assistiu à deriva da sua “História universal”, cuja última parte é confiada a um fervoroso nazista como Konrad Molinski. Na capa, duas figuras-símbolo da época moderna e da contemporânea, de acordo com a Alemanha da época: Lutero e Hitler.
Naqueles anos, consuma-se um divórcio dramático entre os teólogos e os historiadores protestantes alemães e os do resto do mundo, e, já em 1933, por ocasião dos festejos pelo 450º aniversário do nascimento do pai da Reforma, o governador da Turíngia pôde dizer, eufórico, que “Lutero é nosso”.
Certamente, na loucura coletiva, nascem também bolsões de resistência, como a Bekennende Kirche, a de Karl Barth ou de Dietrich Bonhoeffer. Este comentará, amargamente: “Vejo a palavra de Lutero por toda a parte, transformada de verdade em engano”.
Em 1939, um relatório da Gestapo detecta uma diferença substancial entre protestantes e católicos. Entre os primeiros, ela registra “orações sinceras pelo Führer e pelo povo alemão, que surgem de uma profunda compreensão dos acontecimentos de hoje”, ou seja, aqueles que estão empurrando a Alemanha e o mundo inteiro para o abismo da guerra.
Entre os católicos, no entanto, a Gestapo observa com desconforto que se fala de “tempos difíceis” com os quais Deus está pondo os alemães à prova, para que encontrem a “reta via à verdadeira Igreja e ao verdadeiro Deus”. Que não é o Führer nazista, evidentemente.
Nazismo tirou proveito do ódio de Lutero aos judeus
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