Pular para o conteúdo principal

Por que ateus apoiam menos a pena de morte que religiosos? Três hipóteses


Católicos são
mais propensos
à pena capital

por Duda Teixeira
para site da Veja

Pelo senso comum, as pessoas religiosas são mais altruístas, mais misericordiosas e, portanto, tendem a ser contra a pena de morte. Será?

Uma pesquisa do Datafolha publicada em janeiro de 2018 concluiu que 57% dos brasileiros apoiam a pena capital. Ao analisar os resultados divididos por religião, o instituto descobriu que os que mais apoiam a punição máxima são os católicos: 63% deles gostam da ideia. Os ateus são os mais reticentes. Apenas 46% defendem a pena.

Mas a pesquisa tem limitações. Em toda a amostra, apenas dezenove entrevistados se revelaram ateus. “Para fazer algum tipo de análise, teríamos que ter pelo menos 30 casos, e ainda assim teríamos uma margem de erro bem alta, com alto grau de imprecisão”, diz Jean de Souza, analista do Datafolha.

Outros estudos feitos pelo mundo, porém, confirmam que os ateus, ao menos, são menos propensos a apoiar a pena de morte.

Nos Estados Unidos, onde 31 estados aplicam a punição, uma enquete do Gallup descobriu que 62% dos ateus apoiam a pena de morte. Entre os protestantes, que são o maior grupo religioso, o índice é de 66%.

Existem ao menos três teorias para explicar esses resultados. Aí vão elas:

1ª - Os ateus são céticos

“Os ateus tendem a duvidar da autoridade mais do que outras pessoas. São céticos. Portanto, não é surpreendente que uma porcentagem maior deles seja contra a habilidade de o Estado tirar uma vida”, diz o filósofo americano Robert Dunham, diretor do Centro de Informações sobre a Pena de Morte (DPIC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.

2ª - Os ateus são moderados

Dunham também acredita que pessoas que seguem religiões mais fundamentalistas, sem intermediários para relativizar os textos, têm mais chance de apoiar a pena de morte. “Quanto mais fundamentalista é uma religião, mais autoritária é sua estrutura de valores e maior a probabilidade de seus fiéis apoiarem a pena de morte”, diz.

O presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA), Daniel Sottomaior, faz coro com Dunham: “O apoio à pena de morte encontra muitos exemplos na Bíblia e no Corão. A sharia, lei islâmica, adota a morte como pena para muitos comportamentos, como adultério, ateísmo e apostasia. Já os ateus, que não possuem nenhuma ligação com ela, estão mais inclinados em fontes seculares para suas leituras morais, incluindo a Declaração Universal dos Direitos do Homem“.

3ª - Os ateus têm moral

Muitos religiosos acham que os ateus são imorais. Sem uma divindade ou um texto que lhes sirva de referência, não sabem discernir o que é certo do que é errado. Mas essa capacidade é anterior ao nascimento das religiões, faz parte da evolução da espécie humana e pode ser encontrada até mesmo em bebês.

Segundo o cientista social americano Phil Zuckerman, autor do livro Viver a vida secular (Living the secular life, de 2015), a moral de cada um é construída ao longo da vida a partir principalmente das experiências próprias. O princípio básico que norteia esse processo é o da regra de ouro: tratar os outros da mesma maneira como quer que te tratem.

Diferentemente da moral dos religiosos, a dos ateus não é absorvida como algo estático que foi dito por uma divindade ou foi impresso em um código de leis. 

“Para os que não têm religião, a moralidade não é algo como se abster do sexo ou evitar o álcool, ou fazer algo que uma autoridade te diz para fazer, ou não fazer dependendo do medo das consequências de outro mundo. Em vez disso, a moral secular se baseia em não fazer o mal aos outros e ajudar os que precisam, ambos preceitos que nascem da regra de ouro”, escreveu Zuckerman.

Essa moral dos ateus (ou moral secular, nas palavras de Zuckerman) não depende de uma crença e sequer está está ligada ao medo de ser punido depois. 

Com isso, pode ser até mais forte e duradoura. Zuckerman dá como prova disso que os ateus, em geral, também se colocam contra a tortura, contra os castigos corporais em crianças, contra o militarismo e contra a ideia de que mulheres devem obedecer aos maridos. São menos racistas, mais tolerantes e tendem a apoiar o acolhimento dos imigrantes.

Esse texto foi publicado originalmente com o título "Por que ateus são contra a pena de morte?"



Maioria dos fiéis de Nossa Senhora defende pena de morte

Bispo católico defende pena de morte a gays e lésbicas




A responsabilidade dos comentários é de seus autores.


Comentários

Marcos Claudino disse…
Pelo ponto de vista puramente numérico, temos quase que uma eqüidade. Mas se analisarmos o conceito de que a fonte da moral é a religião, teríamos que esperar que a maioria incontestável de ateus fosse a favor, o que não é o caso.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Onde Deus estava quando houve o massacre nos EUA?

Deixe a sua opinião aí embaixo, no espaço de comentários.

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação

Pastor mirim canta que gay vai para o inferno; fiéis aplaudem

Garoto tem 4 anos Caiu na internet dos Estados Unidos um vídeo onde, durante um culto, um menino de quatro anos canta aos fiéis mais ou menos assim: “Eu sei bem a Bíblia,/Há algo de errado em alguém,/Nenhum gay vai para o céu”. Até mais surpreendente do que a pregação homofóbica do garotinho foi a reação dos fiéis, que aplaudiram de pé, em delírio. Em uma versão mais longa do vídeo, o pai, orgulhoso, disse algo como: “Esse é o meu garoto”. A igreja é a Apostólica do Tabernáculo, do pastor Jeff Sangl, de Greensburg, Indiana. Fanático religioso de amanhã Íntegra do vídeo. Com informação da CBS . Pais não deveriam impor uma religião aos filhos, afirma Dawkins. julho de 2009 Intolerância religiosa no Brasil

Cristãos xingam aluna que obteve decisão contra oração

Jessica sofre hostilidades desde meados de 2011 Uma jovem mandou pelo Twitter uma mensagem para Jessica Ahlquist (foto): “Qual é a sensação de ser a pessoa mais odiada do Estado? Você é uma desgraça para a raça humana.”  Outra pessoa escreveu: “Espero que haja muitos banners [de oração] no inferno quando você lá estiver apodrecendo, ateia filha da puta!” Jessica, 16, uma americana de Cranston, cidade de 80 mil habitantes de maioria católica do Estado de Rhode Island, tem recebido esse tipo de mensagem desde meados de 2011, quando recorreu à Justiça para que a escola pública onde estuda retirasse uma oração de um mural bem visível, por onde passam os alunos. Ela é uma ateia determinada e leva a sério a Constituição americana, que estabelece a separação entre o Estado e a religião. Os ataques e ameaças a Jessica aumentaram de tom quando um juiz lhe deu ganho de causa e determinou a retirada da oração. Nos momentos mais tensos, ela teve de ir à escola sob a proteção da

Anglicano apoia união gay e diz que Davi gostava de Jônatas

Dom Lima citou   trechos da Bíblia Dom Ricardo Loriete de Lima (foto), arcebispo da Igreja Anglicana do Brasil, disse que apoia a união entre casais do mesmo sexo e lembrou que textos bíblicos citam que o rei Davi dizia preferir o amor do filho do rei Saul ao amor das mulheres. A data de nascimento de Davi teria sido 1.040 a.C. Ele foi o escolhido por Deus para ser o segundo monarca de Israel, de acordo com os livros sagrados hebraicos. Apaixonado por Jônatas, ele é tido como o único personagem homossexual da Bíblia. Um dos trechos os quais dom Lima se referiu é I Samuel 18:1: “E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como a sua própria alma”. Outro trecho, em Samuel 20:41: “E, indo-se o moço, levantou-se Davi do lado do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram juntos, mas Davi chorou muito mais”. Em II Samuel 1:26, fica claro p

Adventista obtém direito de faltar às aulas na sexta e sábado

Quielze já estava faltando e poderia ser reprovada Quielze Apolinario Miranda (foto), 19, obteve do juiz Marcelo Zandavali, da 3ª Vara Federal de Bauru (SP), o direito de faltar às aulas às sextas-feiras à noite e aos sábados. Ela é fiel da Igreja Adventista do Sétimo Dia, religião que prega o recolhimento nesses períodos. A estudante faz o 1º ano do curso de relações internacionais da USC (Universidade Sagrado Coração), que é uma instituição fundada por freiras na década de 50. Quielze corria o risco de ser reprovada porque já não vinha comparecendo às aulas naqueles dias. Ela se prontificou com a direção da universidade em apresentar trabalhos escolares para compensar a sua ausência. A USC, contudo, não aceitou com a alegação de que não existe base legal para isso. Pela decisão do juiz, a base legal está expressa nos artigos 5º e 9º da Constituição Federal e na lei paulista nº 12.142/2005, que asseguram aos cidadãos a liberdade de religião. Zandavali determinou

Na última entrevista, Hitchens falou da relação Igreja-nazismo

Hitchens (direita) concedeu  a última entrevista de  sua vida a Dawkins da  New Statesman Em sua edição deste mês [dezembro de 2011], a revista britânica "New Statesman" traz a última entrevista do jornalista, escritor e crítico literário inglês Christopher Hitchens, morto no dia 15 [de dezembro de 2011] em decorrência de um câncer no esôfago.