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Devoto de dogmas medievais, papa Francisco é mais perigoso que Ratzinger


"Não, papa
Francisco. Aborto
 não é moda"

por Cora Rónai
para O Globo

O papa Francisco é um perigo. E pode causar estragos maiores do que Ratzinger jamais sonhou

O papa Francisco é um senhor simpático e carismático, que sabe navegar na mídia. Faz ar compungido quando fala das desigualdades do mundo, faz cara feia para quem não é progressista, condena fabricantes de armas e denuncia o aquecimento global, reclama da burocracia do Vaticano e praticamente nega que o inferno existe.

O papa Francisco meio que perdoa os divorciados e meio que não julga os gays; o papa Francisco se veste de forma quase discreta e diz coisas quase modernas.

O papa Francisco é um perigo.

O papa Francisco parece o liberalismo personificado, mas é tão aferrado aos dogmas medievais da Igreja quanto o papa Ratzinger, que pelo menos não enganava ninguém com o seu passado de juventude hitlerista e os seus sapatos Prada. 

A palavra de um líder religioso aparentemente aberto e antenado ao seu tempo tem um peso muito maior do que a palavra de um homem que cultiva ostensivamente a tradição, e não faz a menor questão de ser popular.

O papa Francisco pode causar estragos muito maiores do que o papa Ratzinger jamais sonhou.

Há algum tempo, o papa Francisco autorizou padres a perdoarem o “pecado” do aborto; parecia que tínhamos, enfim, chegado ao século XXI. Pois sim. Esse perdão apenas evita que a Igreja perca ainda mais fiéis. 

Agora, num momento de fato decisivo, em que a proposta de legalização do aborto foi aprovada pela Câmara dos Deputados da Argentina por 129 votos a favor e 125 contra, o papa interfere e joga contra, dizendo que o aborto é “o nazismo com luvas brancas”.

Espero que o Senado não se deixe intimidar e confirme essa votação. Nós ainda estamos longe disso aqui no Brasil, com o Congresso arcaico que temos, mas cada vitória da legalização do aborto, onde quer que aconteça, é uma vitória muito, muito necessária para as mulheres — sobretudo as mais pobres, as mais desassistidas, as que mais se deixam influenciar por dogmas religiosos.

Li as palavras do papa Francisco no La Repubblica:

"Ouvi dizer que é moda, ou pelo menos habitual, que quando se fazem estudos nos primeiros meses de gravidez para ver se as crianças estão bem, e aparece alguma coisa, a primeira oferta é ‘tiramos’. O homicídio das crianças. Para se ter uma vida tranquila, tira-se a vida de um inocente. (...) Por que não vemos anões na rua? Porque o protocolo de muitos médicos diz: está ruim, vamos despachar”.

Não, papa Francisco, aborto não é moda. Ninguém faz aborto porque é divertido, ou porque quer “uma vida tranquila”. Infelizmente, nos países onde o aborto (ainda) é considerado crime, mulheres desesperadas recorrem às formas mais cruéis e perigosas de intervenção, que podem ter as consequências mais graves. As suas vidas são tudo, menos “tranquilas”.

Não sei dizer sobre os anões.



Populismo do papa Francisco está enganando muita gente

Papa diz que mulheres devem ser pacientes com maridos infiéis




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