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Cristãos praticantes da Europa Ocidental são apenas 18% da população


Maiores índices de
pessoas sem religião
 estão na Suécia, Bélgica,
 Dinamarca e Espanha

por José Eustáquio Diniz Alves
para EcoDebate

A maioria da população da Europa Ocidental se considera cristã (católica ou evangélica), mas os cristãos não praticantes são ampla maioria no continente. Na média, os cristãos praticantes são 18%, já os cristãos não praticantes são 46%, os sem religião (unaffiliated) 24% e outras religiões apenas 5%, conforme mostra o gráfico acima.

A pesquisa Being Christian in Western Europe do Instituto PEW (29/05/2018) mostra que os cristãos não praticantes (definidos como pessoas que se identificam como cristãos, mas frequentam os cultos da igreja não mais do que algumas vezes por ano) compõem a maior parcela da população em todos os países da Europa Ocidental, exceto na Itália (onde há empate em praticantes e não praticantes).

Os cristãos que frequentam a igreja (aqueles que frequentam os serviços religiosos pelo menos uma vez por mês) são 40% na Itália, 35% em Portugal, 34% na Irlanda, 28% na Áustria e 27% na Suíça. Em todos os outros países os cristãos que frequentam a igreja são menos de 25% da população. Na Suécia e na Finlândia, por exemplo, são somente 9%.

Os cristãos não praticantes são 68% na Finlândia, 55% no Reino Unido e na Dinamarca, 52% na Áustria e entre 40 e 49% na maioria dos países. No Reino Unido, por exemplo, há aproximadamente três vezes mais cristãos não praticantes (55%) do que cristãos que frequentam a igreja (18%).

 A menor percentagem de cristãos não praticantes está na Holanda (27%) e na Noruega (38%), porém, nestes dois países, o que prevalece são as pessoas que se declaram sem religião, sendo 48% na Holanda e 43% na Noruega.

Outros países com alta percentagem de pessoas sem religião são Suécia (42%), Bélgica (38%) e Dinamarca e Espanha com 30%. Os países com menor percentual de pessoas sem religião são Irlanda, Itália e Portugal, todos com 15%. Na média, os sem religião são 24% na Europa Ocidental.




O mapa abaixo mostra o percentual da população que se declara cristã (praticantes ou não praticantes). Os maiores percentuais estão em Portugal (83%), Itália, Irlanda e Áustria, com 80%, Finlândia (77%), Suíça (75%), Reino Unido (73%), Alemanha (71%) e Espanha com 66%. A Holanda, com somente 41%, é o país com menor percentagem de cristãos do continente.

91% das pessoas da Europa Ocidental foram batizadas como cristãos, mas 81% cresceram como cristãos e 71% se consideram correntemente cristãos, mas somente 22% frequentam pelo menos uma vez por mês os serviços religiosos. Existe uma tendência de os jovens se envolverem menos com as atividades religiosas.

O estudo do Pew Research Center, envolveu mais de 24.000 entrevistas por telefone com adultos selecionados aleatoriamente, reconheceu que a identidade cristã continua a ser um marco significativo na Europa Ocidental, mesmo entre aqueles que raramente vão à igreja. Não é apenas uma identidade “nominal” desprovida de importância prática. Pelo contrário, as visões religiosas, políticas e culturais dos cristãos não praticantes muitas vezes diferem das dos cristãos que frequentam a igreja e adultos religiosamente não filiados.

Por exemplo, embora muitos cristãos não praticantes digam que não acreditam em Deus “como descrito na Bíblia”, eles tendem a acreditar em algum outro poder superior ou força espiritual. Em contraste, a maioria dos cristãos que frequentam a igreja diz acreditar na representação bíblica de Deus. E uma clara maioria de adultos religiosamente não filiados (sem religião) não acredita em nenhum tipo de poder superior ou força espiritual no universo.

Outro exemplo, a grande maioria dos cristãos não praticantes, como a grande maioria dos sem religião (não-afiliados) da Europa Ocidental, é favorável ao aborto legal e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os cristãos que frequentam a Igreja são mais conservadores nessas questões, embora, mesmo entre cristãos que frequentam a igreja, haja apoio substancial – e em vários países, apoio majoritário – para o aborto legal e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Estes dados ajudam a entender porque houve uma vitória do “sim”, por larga maioria vitória no referendo sobre a legalização do aborto na Irlanda. A maioria dos irlandeses optou pela legalização do aborto no país de forte tradição católica e que conta com uma das legislações mais rígidas da Europa sobre a questão.

O objetivo do referendo foi perguntar aos eleitores se eles concordam ou não em revogar a antiga legislação, conhecida como 8ª Emenda. Ela determina que o direito à vida do feto é igual ao direito à vida da mãe. Com a revogação, o Parlamento passa a poder legislar sobre o assunto. Caso isso ocorra, a nova legislação permitiria o direito aborto até 12 semanas, por decisão da mulher e com autorização médica.

Portanto, cerca de dois terços dos europeus ocidentais se consideram cristãos, mas são cristão mais abertos para a ciência e para uma maior tolerância com comportamentos sociais e reprodutivos diferentes daqueles defendidos pelo dogma religioso.

José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.


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