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Pela primeira vez a maior potência será um país majoritariamente ateísta

por José Eustáquio Diniz Alves
para EcoDebate

Pela primeira vez na história da humanidade a maior potência mundial é também uma sociedade majoritariamente ateísta, onde a religião não tem uma força predominante e onde o Estado controla as crenças da população.

Os chineses são predominantemente ateus, mas a China não é um Estado laico, pois não há liberdade religiosa no país mais populoso do mundo.

Segundo Frank Jacobs (2018), com base em Worldwide Independent Network/Gallup International Association (WIN/GIA), o percentual de pessoas que se consideravam religiosas, em 68 países pesquisados pela WIN/GIA, caiu de 77% em 2005 para 62% em 2017. 

A religiosidade está em baixa e houve queda de 15 pontos percentuais em apenas 12 anos.

De modo geral, cresceu o número de pessoas sem religião. Mas o percentual de ateus convictos, na média global, passou de 5% em 2005 para 9% em 2017. Porém, este número apresenta grande variação regional.

A Europa é um continente com alta presença de habitantes que se declaram ateus: Eslovênia (28%), República Checa(25%), França e Bélgica (ambos com 21%), Suécia (18%), etc.

Todavia, o país com maior percentagem de descrentes está na China. Segundo a pesquisa WIN/GIA, apenas 9% dos chineses se consideram religiosos, 23% são sem religião e 67% se consideravam “ateus convictos” – mais que o dobro da percentagem do segundo país mais ateu do mundo, o Japão (29%) e quase três vezes os 23% da Coreia do Sul.

Em grande parte, estas altas percentagens de pessoas sem religião ou de ateus convictos se deve as atitudes do Estado que restringe as atividades religiosas, como as regras de educação que proibiram qualquer forma de atividade religiosa nas escolas e os regulamentos que dizem que os pais não devem promover crenças religiosas rígidas para suas crianças. 

Desde a Revolução de 1949, o Partido Comunista Chinês (PCC) tem desincentivado a difusão das religiões e promovido uma sistemática perseguição religiosa.

No Tibete, a cultura budista reivindicava autonomia para a prática religiosa. Mas o PCC buscou reorganizar os costumes e tradições tibetanas em favor dos princípios ideológicos do comunismo maoista. Em 1951, a assinatura de um Acordo de 17 Pontos, definindo as relações entre China e o Tibete, parecia direcionar as questões políticas para uma solução diplomática. No entanto, a orientação militar ofensiva da China provocou a fuga do Dalai-lama em 1959.

Entidades internacionais
 ressaltam que chineses
não vivem em
um Estado laico

Cerca de 120 mil tibetanos vivem em países estrangeiros, sendo que a grande maioria encontra-se em território indiano. As autoridades políticas do Tibete também vivem em situação de exílio. O chamado “governo no exílio” conta com três poderes e tem sua sede fixada na cidade de Dharamshala, região norte da Índia.

Em Xinjiang – região autônoma na fronteira centro-asiática – habitada pelos uigures do Turquestão Oriental – o PCC apresentou à ONU, desde 2001, documentos que alegavam que o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, também chamado ETIM, seria um “componente de vulto da rede terrorista liderada por Osama Bin Laden” e “parte importante de suas forças terroristas”.

O fato é que o governo chinês tem buscado evitar os protestos e revoltas da minoria muçulmana que fala um idioma próximo do turco. Denúncias recentes dizem que um milhão de pessoas – de uma população total de 11 milhões de uigures vivendo em Xinjiang –estavam sendo tratados como “inimigos do estado”, sendo vítimas de “aprisionamento em massa” em “centros de contra-extremismo”.

Os defensores dos direitos humanos e do Estado laico argumentam que o governo comunista está criando uma geração marcada por rancor profundo, onde os Uigures são tratados como súditos coloniais e vítimas de perseguição religiosa.

As perseguições contra os budistas tibetanos e ao uigures de Xinjiang não são fatos isolados. Os católicos que estavam em franca expansão antes de 1949 (cerca de 20 Arquidioceses e 85 Dioceses, com 5.637 padres) passaram a enfrentar restrições crescentes após a vitória de Mao Tsé-Tung. No começo da Revolução, as forças governamentais consideravam o catolicismo e o protestantismo como organizações a serviço da espionagem e do imperialismo capitalista para combater e sabotar o regime comunista.

Atualmente estimasse cerca de 12 milhões de católicos (cerca de 1% da população) na China, onde muitas igrejas são demolidas e os sacerdotes são forçados a entregar informações pessoais sobre os fiéis às autoridades. 

Em setembro de 2018, o Vaticano e o governo chinês anunciaram um acordo para reduzir degelo das relações diplomáticas rompidas há quase 70 anos. O primeiro passo foi o reconhecimento por parte da Santa Sé de bispos nomeados pelo governo chinês. Ou seja, o Estado continua interferindo na liberdade religiosa. Evidentemente, muito ainda vai ser debatido sobre este acordo que tem pontos positivos e negativos.

Em síntese, a China é o país com a maior percentagem de indivíduos que se declaram ateus e está a caminho de ser a maior potência econômica mundial. Uma potência econômica hegemônica e ateísta é um fato inédito na história. Não ter influência exclusiva religiosa nos assuntos de Estado é positivo. Mas fato inédito é haver uma potência econômica que não respeita as regras do Estado laico.

As complicações entre as orientações do Partido Comunista Chinês e a liberdade religiosa ainda vão dar muito o que falar durante o século XXI.

O autor é doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.



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