A ativista Sabrina Bittencourt (foto), 37, matou-se no sábado, 2 de fevereiro de 2019, em Barcelona, Espanha. Deixou marido, Rafael Velasco, e dois filhos.
[Ler também: Embaixada diz não ter atestado de ativista que teria se suicidado]
Sabrina era integrante da ong Vítimas Unidas. Ela ajudou as mulheres que acusam o curandeiro João de Deus de abuso sexual. Também participava Combate ao Abuso no Meio Espiritual.
A ativista vinha orientando Dalva, a filha de João de Deus que acusa o pai de abuso.
A própria Sabrina sofreu um estupro quando tinha 16 anos. Ficou grávida e fez o aborto. Sofria de depressão havia tempo.
Em uma entrevista, Sabrinha disse que estava colhendo informações para denunciar outros religiosos estupradores.
Uma de suas últimas denúncias se referia ao tráficos de crianças [vídeo abaixo] e de mulheres como escravas sexuais. Também acusou João de Deus de ter matadores.
No sábado, às 20h05 — pouco antes, portanto, de cometer o suicídio —, ela publicou no Facebook uma carta [íntegra abaixo] onde diz por que tinha desistido de viver.
Ela cita líderes religiosos, religiões e a ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos.
Com a família, Sabrina mudava-se de país frequentemente por temer sofrer atentado.
Na rede social, Gabriel Baun, seu filho, escreveu: “Ela [Sabrina] não queria ser morta pelas quadrilhas, nem pelo câncer. Minha mãe lutou até o final. Ela não desistiu. Ela só se libertou do inferno que estava vivendo. “Minha mãe passou o ano todo me preparando, mas nunca estamos preparados mesmo. Ela fez mais de 300 vídeos com todas as instruções. Deixou tudo com provas, organizado. Tem um pacote de cartas”.
Sabrina começa sua carta de suicida citando a vereadora assassinada Marielle.
Segue a íntegra da carta.
“Marielle me uno a ti. Somos semente. Que muitas flores nasçam dessa merda toda que o patriarcado criou há 5 mil anos! Eu fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos. VOCÊS TERÃO MILHARES DE MÃES NO MUNDO INTEIRO. Minhas irmãs e irmãos na dor e no amor, cuidem deles por mim… Eu sempre disse que era só uma pequena fagulha. Nada mais. Só pó de estrelas como todos. USEM A SUA PRÓPRIA VOZ. A SUA PRÓPRIA VONTADE. TOMEM AS RÉDEAS DE SUAS PRÓPRIAS VIDAS E ABRAM A BOCA, NÃO TENHAM VERGONHA! ELES É QUEM PRECISAM TER VERGONHA. Não aguento mais. Todas as provas, evidências, sistemas de apoio, redes organizadas e sobretudo, meu legado e passagem por aqui está entregue ou chegará às mãos corretas. As REDES DE APOIO AOS BRASILEIR@S FORAM CRIAD@S E SE EXPANDIRÃO NA VELOCIDADE DA LUZ! Não se desesperem. Dessa vida só levamos o mais bonito e o aprendido. Paulo Pavesi, eu sinceramente sinto muito pela morte do seu filho. Tenha certeza, que se eu soubesse da sua história na época, implicaria minha vida e segurança como fiz com centenas de pessoas. Damares, eu sei que você não teve tratamento psicológico quando deveria e teve sequelas, servindo de marionete neste sistema de merda que te cooptou, acolheu e com o qual você se sente em dívida o resto da sua vida. Não tenho dúvidas que você amou e cuidou da sua “Lulu” como gostaria de ter sido cuidada e protegida na sua infância, mas ela nao é uma bonequinha bonita que você poderia roubar e sair correndo… Giulio Sa Ferrari, eu te considerei um irmão e você sabia de todas as minhas rotas de fuga… eu vi em você a pureza de um menino que nunca foi notado por uma sociedade neurotípica que não entendia os neuroatípicos, mas reputação é algo que se constrói e não é de um dia ao outro. Gabriela Manssur, muito obrigada por me fazer ter esperança de que elas serão ouvidas e atendidas em suas necessidades. João de Deus, Prem Baba, Gê Marques, Ananda Joy, Edir Macedo, Marcos Feliciano, DeRose Pai, DeRose filho, todos os padres, pastores, bispos, budistas, espíritas, hindús, umbandistas, mórmons, batistas, metodistas, judeus, muçulmanos, sufis, taoístas, meus familiares, Marcelo Gayger, Jorge Berenguer, eu desconheço a sua infância e a sua criação pelo mundo, mas sei no meu íntimo que TODO MENINO NASCEU PURO e foi abusado, corrompido, machucado, moldado, castrado, calado, forçado a fazer coisas que não queria, até se converter talvez, cada um à sua maneira, em tiranos manipuladores (em maior ou menor grau) que ao não controlar os próprios impulsos, tentam controlar a quem consideram mais frágil e assim praticam estupros, pedofilia, adicções diversas… Eu sei, eu sinto, eu vi. Mas ainda assim, preferi SEMPRE ficar do lado mais frágil nesta breve existência: mulheres, crianças, idosos, jovens, povos originários, afrodescendentes, refugiados, ciganos, imigrantes, migrantes, pessoas com deficiência, gays, pobres, lascados, fudidos, rebeldes e incompreendidos… Essa vida é uma ilusão e um jogo de arquétipos do bem e do mal, de dualidades… desde que o mundo é mundo. Vivo num outro tempo desde que nasci e sempre senti que vivia num mundo praticamente medieval. Volto pro vazio e deixo minha essência em PAZ. Aos meus amigos, amadas e amantes, nos encontraremos um dia! Sintam meu amor incondicional através do tempo e do espaço. SIM e FIM.”
Aviso de novo post por e-mail
Cientistas identificam gene relacionado ao suicídio
Suicídio de uma pessoa causa transtornos em outras cinco
Cirurgiões pensam em suicídio mais que a maioria, diz estudo
‘Quero me matar, mas seria cruel para com minha família’
A responsabilidade dos comentários é de seus autores.
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Sabrina era integrante da ong Vítimas Unidas. Ela ajudou as mulheres que acusam o curandeiro João de Deus de abuso sexual. Também participava Combate ao Abuso no Meio Espiritual.
"Eu sempre disse que era só uma pequena fagulha. Nada mais. Só pó de estrelas como todos" |
A ativista vinha orientando Dalva, a filha de João de Deus que acusa o pai de abuso.
A própria Sabrina sofreu um estupro quando tinha 16 anos. Ficou grávida e fez o aborto. Sofria de depressão havia tempo.
Em uma entrevista, Sabrinha disse que estava colhendo informações para denunciar outros religiosos estupradores.
Uma de suas últimas denúncias se referia ao tráficos de crianças [vídeo abaixo] e de mulheres como escravas sexuais. Também acusou João de Deus de ter matadores.
No sábado, às 20h05 — pouco antes, portanto, de cometer o suicídio —, ela publicou no Facebook uma carta [íntegra abaixo] onde diz por que tinha desistido de viver.
Ela cita líderes religiosos, religiões e a ministra Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos.
Com a família, Sabrina mudava-se de país frequentemente por temer sofrer atentado.
Na rede social, Gabriel Baun, seu filho, escreveu: “Ela [Sabrina] não queria ser morta pelas quadrilhas, nem pelo câncer. Minha mãe lutou até o final. Ela não desistiu. Ela só se libertou do inferno que estava vivendo. “Minha mãe passou o ano todo me preparando, mas nunca estamos preparados mesmo. Ela fez mais de 300 vídeos com todas as instruções. Deixou tudo com provas, organizado. Tem um pacote de cartas”.
Sabrina começa sua carta de suicida citando a vereadora assassinada Marielle.
Segue a íntegra da carta.
“Marielle me uno a ti. Somos semente. Que muitas flores nasçam dessa merda toda que o patriarcado criou há 5 mil anos! Eu fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos. VOCÊS TERÃO MILHARES DE MÃES NO MUNDO INTEIRO. Minhas irmãs e irmãos na dor e no amor, cuidem deles por mim… Eu sempre disse que era só uma pequena fagulha. Nada mais. Só pó de estrelas como todos. USEM A SUA PRÓPRIA VOZ. A SUA PRÓPRIA VONTADE. TOMEM AS RÉDEAS DE SUAS PRÓPRIAS VIDAS E ABRAM A BOCA, NÃO TENHAM VERGONHA! ELES É QUEM PRECISAM TER VERGONHA. Não aguento mais. Todas as provas, evidências, sistemas de apoio, redes organizadas e sobretudo, meu legado e passagem por aqui está entregue ou chegará às mãos corretas. As REDES DE APOIO AOS BRASILEIR@S FORAM CRIAD@S E SE EXPANDIRÃO NA VELOCIDADE DA LUZ! Não se desesperem. Dessa vida só levamos o mais bonito e o aprendido. Paulo Pavesi, eu sinceramente sinto muito pela morte do seu filho. Tenha certeza, que se eu soubesse da sua história na época, implicaria minha vida e segurança como fiz com centenas de pessoas. Damares, eu sei que você não teve tratamento psicológico quando deveria e teve sequelas, servindo de marionete neste sistema de merda que te cooptou, acolheu e com o qual você se sente em dívida o resto da sua vida. Não tenho dúvidas que você amou e cuidou da sua “Lulu” como gostaria de ter sido cuidada e protegida na sua infância, mas ela nao é uma bonequinha bonita que você poderia roubar e sair correndo… Giulio Sa Ferrari, eu te considerei um irmão e você sabia de todas as minhas rotas de fuga… eu vi em você a pureza de um menino que nunca foi notado por uma sociedade neurotípica que não entendia os neuroatípicos, mas reputação é algo que se constrói e não é de um dia ao outro. Gabriela Manssur, muito obrigada por me fazer ter esperança de que elas serão ouvidas e atendidas em suas necessidades. João de Deus, Prem Baba, Gê Marques, Ananda Joy, Edir Macedo, Marcos Feliciano, DeRose Pai, DeRose filho, todos os padres, pastores, bispos, budistas, espíritas, hindús, umbandistas, mórmons, batistas, metodistas, judeus, muçulmanos, sufis, taoístas, meus familiares, Marcelo Gayger, Jorge Berenguer, eu desconheço a sua infância e a sua criação pelo mundo, mas sei no meu íntimo que TODO MENINO NASCEU PURO e foi abusado, corrompido, machucado, moldado, castrado, calado, forçado a fazer coisas que não queria, até se converter talvez, cada um à sua maneira, em tiranos manipuladores (em maior ou menor grau) que ao não controlar os próprios impulsos, tentam controlar a quem consideram mais frágil e assim praticam estupros, pedofilia, adicções diversas… Eu sei, eu sinto, eu vi. Mas ainda assim, preferi SEMPRE ficar do lado mais frágil nesta breve existência: mulheres, crianças, idosos, jovens, povos originários, afrodescendentes, refugiados, ciganos, imigrantes, migrantes, pessoas com deficiência, gays, pobres, lascados, fudidos, rebeldes e incompreendidos… Essa vida é uma ilusão e um jogo de arquétipos do bem e do mal, de dualidades… desde que o mundo é mundo. Vivo num outro tempo desde que nasci e sempre senti que vivia num mundo praticamente medieval. Volto pro vazio e deixo minha essência em PAZ. Aos meus amigos, amadas e amantes, nos encontraremos um dia! Sintam meu amor incondicional através do tempo e do espaço. SIM e FIM.”
Com informações do Facebook e da ong Vítimas Unidas e foto da rede social.
O CVV É UM SERVIÇO DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO.
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‘Quero me matar, mas seria cruel para com minha família’
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