por Maria Fernanda Guimarães
Em vídeo resgatado da internet, a Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, pregando num culto, fala sobre a existência, no Nordeste do Brasil, de um manual de bruxaria que ensina às crianças pequenas a fazer roupas, comida, vassoura e até como ser bruxa.
E daí?
Daí que a ministra quer condenar, censurar e proscrever quem pratica feitiçaria. O que é vetado pela Constituição Federal. Numa reedição do período Inquisitorial, a ministra se esquece de que Bruxaria — palavra que em português pode significar muitas coisas — também é uma religião.
Em outro vídeo, Damares dizia que o livro era distribuído nas escolas do Estado de São Paulo.
Trata-se de uma narrativa muito familiar à ministra: a minha religião pode, a sua não.
O que é Bruxaria, cientificamente?
Historicamente, o conceito predominante de feitiçaria no mundo ocidental deriva das leis do Antigo Testamento contra a bruxaria, e entrou na corrente principal quando a crença na feitiçaria ganhou a aprovação da Igreja no início do período moderno. Portanto, é um ponto-de vista exclusivamente judaico-cristão.
O historiador e antropólogo norte-americano Jeffrey Burton Russell, um dos mais destacados historiadores de religiões e crenças, postula que existem na contemporaneidade três abordagens científicas sobre o que é bruxaria.
Primeira: a antropológica, em que bruxaria é sinônimo de feitiçaria, a presença do elemento mágico em todas as religiões.
Segunda: consiste na visão histórica do ocidente (a abordagem judaico-cristã) que coloca qualquer tipo de bruxaria como uma prática ligada ao culto ao diabo; satanismo.
Terceira: a sociológica, a da bruxaria hodierna, uma religião pagã ou neopagã, sendo o neopaganismo um ponto de vista normalmente defendido pelos fieis de uma religião chamada wicca (pronuncia-se uíca).
A questão histórica vai ficando complexa, porque a visão judaico-cristã está longe de ser a única perspectiva sobre feitiçaria.
O direito dos Bruxos é o mesmo dos Gideões
Em 2012, a sacerdotisa wicca, Ginger Strivelli, questionou nos EUA porque sua religião não tinha o mesmo direito que os Gideões de distribuir seu “livro sagrado”.
Na mesma época, um imame de Nova York disse que ia mandar distribuir 500 Alcorões para as crianças nas escolas, por isonomia com os Gideões.
O pedido de Strivelli realmente fez a secretaria de educação da Carolina do Sul reavaliar suas políticas sobre liberdade de culto e os Gideões foram obrigados a recolher as Bíblias que haviam distribuído naquele Estado.
A ministra Damares Alves precisa aprender: o Estado é laico e todos têm direito a professar a religião que bem entender ou a não acreditar em nada.
Inquisidores ‘da irmandade evangélica’ preocupam jornal
Damares usa projetor de fotos para criticar a performance ‘xerecas satânicas’
Filme mentiroso de Damares sobre infanticídio indígena continua no Youtube
Advogados pedem afastamento de Damares por mentir que tem mestrados
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Em vídeo resgatado da internet, a Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, pregando num culto, fala sobre a existência, no Nordeste do Brasil, de um manual de bruxaria que ensina às crianças pequenas a fazer roupas, comida, vassoura e até como ser bruxa.
E daí?
Daí que a ministra quer condenar, censurar e proscrever quem pratica feitiçaria. O que é vetado pela Constituição Federal. Numa reedição do período Inquisitorial, a ministra se esquece de que Bruxaria — palavra que em português pode significar muitas coisas — também é uma religião.
Em outro vídeo, Damares dizia que o livro era distribuído nas escolas do Estado de São Paulo.
Trata-se de uma narrativa muito familiar à ministra: a minha religião pode, a sua não.
O que é Bruxaria, cientificamente?
Historicamente, o conceito predominante de feitiçaria no mundo ocidental deriva das leis do Antigo Testamento contra a bruxaria, e entrou na corrente principal quando a crença na feitiçaria ganhou a aprovação da Igreja no início do período moderno. Portanto, é um ponto-de vista exclusivamente judaico-cristão.
O historiador e antropólogo norte-americano Jeffrey Burton Russell, um dos mais destacados historiadores de religiões e crenças, postula que existem na contemporaneidade três abordagens científicas sobre o que é bruxaria.
Primeira: a antropológica, em que bruxaria é sinônimo de feitiçaria, a presença do elemento mágico em todas as religiões.
Segunda: consiste na visão histórica do ocidente (a abordagem judaico-cristã) que coloca qualquer tipo de bruxaria como uma prática ligada ao culto ao diabo; satanismo.
Terceira: a sociológica, a da bruxaria hodierna, uma religião pagã ou neopagã, sendo o neopaganismo um ponto de vista normalmente defendido pelos fieis de uma religião chamada wicca (pronuncia-se uíca).
A questão histórica vai ficando complexa, porque a visão judaico-cristã está longe de ser a única perspectiva sobre feitiçaria.
Muitas culturas em todo o mundo continuam a ter práticas disseminadas e crenças culturais que são vagamente traduzidas para as línguas do mainstream científico (inglês, francês, alemão, espanhol, português, italiano e outras) como "feitiçaria ou bruxaria" e nada tem a ver com o Satã — o "mal encarnado" judaico cristão.
Opressão pela Religião
Assim, essa conotação mascara uma diversidade muito grande de cultos religiosos, em suas formas, crenças mágicas, práticas, ritos e lugares em suas sociedades.
Lembremos que durante a Era do Colonialismo, todas as crenças ameríndias e africanas foram classificadas pelos colonizadores como “feitiçarias/ bruxarias” o que levou a uma brutal destruição de culturas autóctones.
O que torna a ministra Damares Alves – por sua visão cristã estreita e intolerante — uma profissional completamente inadequada e mais que isso, danosa, para ter contato com índios.
Pela lei: liberdade de culto e crença, estado laico
A Constituição Federal de 1988 consagra (artigo 5°, inciso VI) a liberdade de crença e religião como um direito individual que deve ser respeitado. A liberdade de crença engloba a faculdade de crer e a de não crer.
Opressão pela Religião
Assim, essa conotação mascara uma diversidade muito grande de cultos religiosos, em suas formas, crenças mágicas, práticas, ritos e lugares em suas sociedades.
Lembremos que durante a Era do Colonialismo, todas as crenças ameríndias e africanas foram classificadas pelos colonizadores como “feitiçarias/ bruxarias” o que levou a uma brutal destruição de culturas autóctones.
O que torna a ministra Damares Alves – por sua visão cristã estreita e intolerante — uma profissional completamente inadequada e mais que isso, danosa, para ter contato com índios.
Pela lei: liberdade de culto e crença, estado laico
A Constituição Federal de 1988 consagra (artigo 5°, inciso VI) a liberdade de crença e religião como um direito individual que deve ser respeitado. A liberdade de crença engloba a faculdade de crer e a de não crer.
Isso porque a intolerância religiosa — para quem crê diferente em coisas diferentes ou para quem não crê, o que no fundo dá no mesmo — foi responsável por tragédias em todo o mundo, lutas e massacres em nome de credos diversos.
Condenar a existência de um Manual de Bruxaria para Crianças é uma afronta à Constituição.
Certamente, os adultos que compram O Manual de Bruxaria citado pela ministra Damares têm o ideal de estarem fazendo o melhor para as suas crianças.
Livros infantis para crianças de várias religiões: islamismo, budismo, wicca, protestantes, judeus e católicos |
Da mesma forma que um judeu gosta de comprar para seus pequenos, ABC do Mundo Judaico, de Moacyr Scliar; os budistas preferem A História de Angulimala, de Geshe Gyatso; os evangélicos elegem A ovelhinha querida, de Albertina Malafaia e atualmente os católicos presenteiam muito com Lições Para as Crianças, cujo autor é o Papa Francisco.
A lei exige proscrição de intolerância e de fanatismo
A Constituição Federal também prescreve que o Estado deve se preocupar em proporcionar a seus cidadãos um clima de perfeita compreensão religiosa, afastando as possibilidades da intolerância e do fanatismo.
A divisão bem definida entre o Estado e as Igrejas (religiões em geral) exige que não pode existir nenhuma religião oficial, devendo, porém, o Estado prestar proteção e garantia ao livre exercício de todas as religiões ou não-religiões.
Ao condenar o Manual da Bruxaria, a ministra peca por intolerância.
A lei exige proscrição de intolerância e de fanatismo
A Constituição Federal também prescreve que o Estado deve se preocupar em proporcionar a seus cidadãos um clima de perfeita compreensão religiosa, afastando as possibilidades da intolerância e do fanatismo.
A divisão bem definida entre o Estado e as Igrejas (religiões em geral) exige que não pode existir nenhuma religião oficial, devendo, porém, o Estado prestar proteção e garantia ao livre exercício de todas as religiões ou não-religiões.
Ao condenar o Manual da Bruxaria, a ministra peca por intolerância.
O direito dos Bruxos é o mesmo dos Gideões
Em 2012, a sacerdotisa wicca, Ginger Strivelli, questionou nos EUA porque sua religião não tinha o mesmo direito que os Gideões de distribuir seu “livro sagrado”.
Na mesma época, um imame de Nova York disse que ia mandar distribuir 500 Alcorões para as crianças nas escolas, por isonomia com os Gideões.
O pedido de Strivelli realmente fez a secretaria de educação da Carolina do Sul reavaliar suas políticas sobre liberdade de culto e os Gideões foram obrigados a recolher as Bíblias que haviam distribuído naquele Estado.
A ministra Damares Alves precisa aprender: o Estado é laico e todos têm direito a professar a religião que bem entender ou a não acreditar em nada.
Inquisidores ‘da irmandade evangélica’ preocupam jornal
Damares usa projetor de fotos para criticar a performance ‘xerecas satânicas’
Filme mentiroso de Damares sobre infanticídio indígena continua no Youtube
Advogados pedem afastamento de Damares por mentir que tem mestrados
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Comentários
Pessoa para dizer de Direitos Humanos (e sem essa de "família") obrigatoriamente deveria ser laica antes de tudo, garante mais alta qualidade sendo cética, bem científica.
Ao menos ela é relativamente toscona, bem no estilo bolsonarista. Pior são as pessoas ardilosas, que escrevem e dizem bem no linguajar para tudo que é público. Até convencem pessoas letradas, mas sem noção de Ceticismo, falácias e afins.
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