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'Divino Amor' mostra um Brasil sob o poder do conservadorismo religioso

por Mariana Peixoto
para o Portal UAI

Foi na periferia do Recife que o cineasta pernambucano Gabriel Mascaro, de 35 anos, descobriu uma igreja evangélica que contradizia tudo o que a “classe artística brasileira”, para usar as palavras dele, pensa sobre cultos. “Há um certo desdém, as pessoas imaginam que os cultos são sem graça, aborrecidos. O que vi foi diferente. Havia um pastor com um guitar hero (jogo eletrônico) no púlpito, tocando uma guitarra de game com garotos de 12, 14 anos, como se fosse uma rave festiva.”

Divino amor, terceiro longa de ficção de Mascaro (autor do celebrado Boi neon, 2015), é um drama criado a partir de um contexto que muitos poderiam imaginar improvável. Mas que, a partir de uma alegoria, busca refletir sobre os caminhos que o Brasil está tomando.

Na primeira sequência do filme, assistimos a uma rave. Um narrador criança (Calum Rio, filho de Mascaro) explica o que está acontecendo. Em 2027, o maior evento brasileiro não é mais o carnaval, mas a festa do Amor Supremo. Sob o som da música eletrônica, os corpos dançam enquanto esperam a vinda do Messias.

Joana (Dira Paes) é uma das frequentadoras da rave. É escrivã de um cartório e, contrariando a rigidez de uma função meramente burocrática, tenta salvar casais que chegam para se divorciar. 

Casada com Danilo (Júlio Machado), que paga suas contas preparando coroas para enterros, é um exemplo de correção. A despeito de sua devoção a Deus, sofre por não conseguir engravidar. A concepção do bebê vai levá-la a uma crise no casamento e em sua igreja, mas não abalará sua fé.


Em um Brasil ainda laico, mas regido por uma força cada vez maior da religião, Divino amor une erotismo (a exemplo do que fez em Boi neon, Mascaro continua filmando com bastante plasticidade o ato sexual), religião e música.

“A partir da experiência que vi de pastores em cerimônias empolgantes, imaginei uma religião que usasse desses elementos para radicalizar uma agenda ultraconservadora”, explica o diretor, que, para fazer sua pesquisa, foi a cultos tanto em áreas periféricas do Recife quanto no espetaculoso Templo de Salomão, em São Paulo.

Para além dessa pesquisa, Mascaro traz em sua própria história uma relação com as religiões neopentecostais. “O processo do filme também envolveu uma relação afetiva. Sou de uma família de classe média baixa, cresci com vários amigos que foram se convertendo ao evangelho à medida que as igrejas se expandiam. Quando fiquei mais velho, passei a ter uma inquietação de realizador que se tornou uma urgência. Pensar o avanço da religião no Estado brasileiro acabou virando uma obsessão.”

Na distopia criada por Mascaro, os pastores dão consultas aos fiéis em drive thrus – sim, a salvação divina é possível como quem vai ao McDonald's. 

Depois do ambiente rural do longa anterior, o diretor filmou no Recife. “Um desafio gostoso sair do Boi neon, que mostrava uma paisagem de um Nordeste em transformação, para pensar num Brasil de 2027, um lugar também de transformação, só que cultural, da relação entre corpo e Estado e o controle social do corpo, em especial o feminino.”

O projeto do filme teve início há quatro anos. “Antes de o Bolsonaro sair candidato. E o filme foi lançado em Sundance, na mesma semana em que ele assumiu a Presidência. Cada sessão do filme, desde então, tem sido muito viva, porque o Brasil está mudando a cada semana”, afirma Mascaro. Estrear o longa justamente agora é motivo “de uma alegria imensa como realizador”. 

“Fiz um filme com total liberdade de criação. Espero que este direito continue a ser assegurado.”









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Comentários

Alex B disse…
Ué, cadê nosso crentelho de estimação? Não vai acusar o diretor do filme de intolerante, burro, desinformado, pregador de ódio, etc etc? Cadê você, queridão? (sabe que me refiro a você!")

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