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Dinossauro carnívoro viveu há 90 milhões de anos em região do Paraná



por Jornal da USP

Estudo publicado em 26 de junho de 2019 no Scientific Reports, do grupo Nature, apresenta uma nova espécie de dinossauro, que viveu no período Cretáceo, há cerca de 90 milhões de anos.

O fóssil foi encontrado no município de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, e estudado por paleontólogos da USP, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Museo Argentino de Ciências Naturales e Museu de Paleontologia de Cruzeiro do Oeste. 

A nova espécie foi nomeada Vespersaurus paranaensis, a partir da palavra vesper (oeste ou entardecer em latim), em referência ao nome da cidade onde foi descoberta, e por representar o primeiro dinossauro do Estado do Paraná.


Representação tridimensional do
 esqueleto de Vespersaurus paranensis

Os fósseis da nova espécie revelam um animal pequeno, com pouco mais de 1,5 metro (m) de comprimento, que faria parte da linhagem dos terópodos, grupo de dinossauros carnívoros bípedes que também inclui o tiranossauro e o velociraptor.

Dentre os terópodos, o Vespersaurus paranaensis pertence ao subgrupo denominado Noasaurinae, que inclui dinossauros de pequeno porte até então conhecidos apenas na Argentina e em Madagascar, com possíveis registros também na Índia, indicando que essas terras estiveram unidas durante o Cretáceo, com provável conexão através da Antártica.

O Vespersaurus paranaensis é a oitava espécie de dinossauro descrita a partir de material brasileiro que pode ser seguramente atribuída aos terópodos.

Com quase metade do esqueleto conhecido, mesmo que com muito pouco do crânio, ele corresponde ao terópodo preservado de forma mais completa no país, sendo os demais conhecidos com base em crânios parciais, esqueletos mais incompletos ou mesmo poucos ossos isolados.

O novo dinossauro possuía vértebras escavadas por divertículos do sistema respiratório, que conferiam leveza ao seu esqueleto (como nas aves viventes), e um braço muito reduzido (com menos da metade do comprimento da perna), mas sua característica anatômica mais peculiar está nos pés.



Seu peso era praticamente todo suportado por um único dedo central, sendo o animal funcionalmente monodáctilo, de forma semelhante aos cavalos atuais. Já os dedos que flanqueavam esse dígito central possuíam grandes garras em forma de lâmina, que serviriam para cortar e raspar. 

“De forma análoga ao Velociraptor, com o qual o Verpersaurus não é aparentado, ele provavelmente usaria as garras do pé na captura e dilaceração de presas, que poderiam incluir os lagartos e pterossauros que sabemos também terem habitado a região” afirma o paleontólogo Max Langer, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) e líder do estudo.



As rochas do noroeste paranaense em que o Vespersaurus foi preservado se formaram em ambientes desérticos, indicando que o animal era adaptado a esse tipo de clima. 

Na década de 70, nessas mesmas rochas, o paleontólogo Giuseppe Leonardi havia descoberto um estranho conjunto de pegadas fósseis. Elas pareciam ter sido feitas por um pequeno dinossauro bípede e monodáctilo, mas à época não se conhecia nenhum animal com tais características ao qual elas pudessem ser atribuídas.


Reconstrução tridimensional dos
ossos do pé de Vespersaurus paranensis

“É incrível que, quase 50 anos depois, parece que descobrimos qual tipo de dinossauro teria produzido aquelas enigmáticas pegadas” comenta o geólogo Paulo Manzig, primeiro pesquisador a investigar os fósseis de Cruzeiro do Oeste e coautor do estudo.

O Vespersaurus paranaensis não foi a primeira espécie da “era dos dinossauros” encontrada no noroeste do Paraná. 

No mesmo sítio fossilífero em Cruzeiro do Oeste foram descobertos o lagarto Gueragama sulamericana e inúmeros indivíduos do pterossauro Caiuajara dobruskii

Para Neurides Martins, diretora do Museu de Paleontologia da cidade, o achado deve catapultar as pesquisas paleontológicas na região, que possui comprovado potencial para coleta de fósseis. 

“É uma área riquíssima, mas ainda pouco explorada, que seguramente irá aportar grandes novidades ao mundo da paleontologia”, diz a pesquisadora.







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