Pular para o conteúdo principal

Avanço da edição genética sem marcos éticos ameaça a humanidade, diz biólogo

 Bonet disse que estamos
 às vésperas de haver uma
 gigantesca evolução humano,
 mas não se sabe qual será o
resultado disso 

por Lluís Amiguet
para La Vanguardia

A nova técnica de edição genética CRISP é tão simples que dá o poder de modificar os genes dos seres vivos, antes restrito a uma elite científica, a milhares de geneticistas. A pergunta é sobre quanto tempo demorará para que alguns abusem da técnica.

Tomás Marqués i Bonet (foto), diretor do Instituto de Biologia Evolutiva de Barcelona, aponta que se trata de uma questão de limites. Enquanto utilizarmos a edição genética para curar, será um progresso inquestionável. 

A perversão começará quando a aplicarmos à melhora da espécie, porque não sabemos se essa tentativa, a longo prazo, não se voltará contra nós. 

O indiscutível é que a tecnologia foi mais rápida em nos dar o poder genético que a ética em nos dizer como usá-lo. O debate é inadiável.

Em que momento da evolução humana estamos?

Em um muito especial, em que podemos modificar a genética de forma fácil e generalizada graças a um novo método de edição genética muito mais simples do que os anteriores: o CRISP/CAS9.

É uma oportunidade e também um risco?

O maior risco está na edição insensata da genética humana e já houve experiências preocupantes, como a do geneticista chinês, Jiankui, que afirmou ter modificado dois bebês com o CRISP/CAS9.

Foi um aventureiro.

O fato é que estamos a ponto de dar um passo gigantesco na evolução humana: o primeiro foi dominar o fogo e começar a controlar o meio...

... E agora estamos a ponto de nos rebelar contra nosso destino genético.

Mas, até agora, não o controlávamos. De fato, criamos a cultura, a sociedade e a família como estruturas que protegem os mais frágeis da cruel seleção natural.

Se dominamos a genética, não poderemos evitar que nasçam frágeis?

Dominar a genética muda tudo, mas justamente por isso precisamos colocar limites ao nosso próprio poder.

Eliminar doenças hereditárias pode ser ruim?

É claro que não, mas nós, geneticistas, devemos ter muita cautela, porque uma coisa é curar doenças genéticas incuráveis e outra é começar a melhorar a espécie.

Um entrevistado já defendeu, aqui, melhorar a espécie via genética.

Toda a sociedade é que deve decidir se é eticamente aceitável. Porque se é possível comprar a evolução genética com dinheiro, haverá quem poderá pagar e quem não.

As vacinas e a penicilina também começaram sendo apenas para ricos.

De qualquer modo, a melhora genética, para além da cura das doenças hereditárias, é um debate que nós, cientistas, não podemos decidir sozinhos. As pessoas precisam saber o que devemos decidir e pronto.

O que dizem os bioéticos?

Nas conferências de bioética das quais participo, delimitam uma linha muito clara entre curar, que é aceitável, e melhorar a espécie, que não é.

Por que não?

Não sabemos as consequências destas supostas melhoras nos humanos, via genética, a longo prazo.

E se já há quem trabalhe em uma supervisão, um superouvido ou um supercérebro?

Temo que se for possível, acabará acontecendo, sim, por isso espero que, a longo prazo, qualquer avanço acabe beneficiando a todos.

Para quando?

Sou otimista e acredito que em uns 20 anos veremos grandes progressos na edição genética humana para melhorar a espécie. No momento, qualquer pessoa pode sequenciar seu genoma por 100 euros.

Para quê?

Para otimizar diagnósticos e medicamentos, embora você também tenha o direito individual de não saber sua sequência genética. Contudo, se seu pai fizer isso, já saberá 50%.

Difícil ignorar seus genes.

Até mesmo os de remotos ancestrais. Perceba que todos carregamos uma parte de genoma neandertal, cerca de 5%. Parte de nosso fenótipo — com suas doenças e vantagens adaptativas — provém dos alelos neandertais. A evolução assume coisas de outras espécies de maneira rápida.

Se é para o bem...

Todas as espécies extintas de hominídeos deixaram marcas na nossa. Por exemplo, os tibetanos estão adaptados pela hemoglobina às altitudes, mas se hibridizam com humanos não tibetanos, em uma geração, todos já gozam dessa vantagem.

Por que hoje todos somos sapiens?

Porque antes existiram muitas outras espécies humanas, mas só foram capazes de se adaptar a espaços geográficos pequenos. Os sapiens, ao contrário, conseguiram habitar todo o planeta.

Somos uma espécie imperialista?

Mas, temo que ecologicamente também somos uma praga.

É a teoria Gaia: arrasaremos este planeta e, depois, buscaremos outro.

Contudo, a evolução nos ensinou que as espécies dominantes duram pouco. Acredito que nós, humanos, seremos extintos antes que o planeta desapareça.

E se formos algo a mais que terráqueos?

Quando uma espécie progride da forma estratosférica como fizemos, não consegue gerir os recursos do meio ambiente, e quando se esgotam, é a espécie que começa a se extinguir.

E se já não fôssemos apenas humanos?

Note, nossa existência como espécie é, um pouco como minha carreira científica, uma conjunção de circunstâncias e de decisões: sou zoólogo de formação, mas trabalhei na IBM e já sabendo informática pude estudar a evolução dos grandes primatas.

Uma mistura de talento e oportunidades.

Mas, com seus limites e tempos. Por isso, devemos limitar nosso crescimento como espécie, antes de esgotar o planeta.

Com tradução do Cepat para IHU Online e publicado originalmente com o título "A evolução ensina que as espécies dominantes não duram"



Somos as últimas gerações de Homo Sapiens; vem aí o cyborg, afirma Harari

Estudo de 30 anos comprova que a evolução é infinita

Crânio de 20 milhões de anos registra começo da evolução do cérebro

Veja como a teoria da evolução ajuda a entender a mente humana





Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Jornalista defende liberdade de expressão de clérigo e skinhead

Título original: Uma questão de hombridade por Hélio Schwartsman para Folha "Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos"  Disputas eleitorais parecem roubar a hombridade dos candidatos. Se Fernando Haddad e José Serra fossem um pouco mais destemidos e não tivessem transformado a busca por munição contra o adversário em prioridade absoluta de suas campanhas, estariam ambos defendendo a necessidade do kit anti-homofobia, como aliás fizeram quando estavam longe dos holofotes sufragísticos, desempenhando funções executivas. Não é preciso ter o dom de ler pensamentos para concluir que, nessa matéria, ambos os candidatos e seus respectivos partidos têm posições muito mais próximas um do outro do que da do pastor Silas Malafaia ou qualquer outra liderança religiosa. Não digo isso por ter aderido à onda do politicamente correto. Oponho-me a qualquer tentativa de criminalizar discursos homofóbicos. Acredito que clérigos e skinheads devem ser l

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias