Trecho do livro What It Means to Be Moral: Why Religion Is Not Necessary for Living an Ethical Life (“O que significa ser moral: por que a religião não é necessária para se viver uma vida ética”, em tradução livre), do professor de questões seculares Phil Zuckerman
"É a pergunta mais comum que os religiosos colocam aos ateus: "De onde você tira sua moral?"
Seja em um jantar ou reunião de classe, ou uma reunião de trabalho, os tementes a Deus nos perguntam sobre a fonte de nossa moralidade quando descobrem que não acreditamos no Senhor, não cremos na vida após a morte, não frequentamos a igreja, sinagoga, mesquita ou templo, não seguimos um guru, não ficamos obcecados com escrituras antigas e não nos importamos com pregadores ou pontífices.
Por isso, os tementes a Deus acham difícil entender que os ateus tenham moralidade.
E vem a pergunta: “Como vocês, ateus, conseguem obter a moral?”.
A pergunta pressupõe que a moralidade vem de Deus, da religião, e que, portante, ateus não têm nenhuma fonte de moralidade.
Às vezes a pergunta é feita em tom de julgamento, o de que “os ateus são imorais porque não acreditam em Deus”.
Obviamente, nem todos os crentes questionam os ateus nesse sentido.
Como a religião defende há séculos com fervor que ela é a única fonte de moralidade, muitas pessoas acreditam nisso honesta e ingenuamente e elas ficam genuinamente curiosas sobre como alguém sabe o que é o certo e o errado, se não acredita em Deus.
Mesmo que a pergunta seja feita com seriedade e sem preconceitos, ainda assim é estranha, porque sugere que a moral é um produto pronto e acabado que se compra, como sapatos da loja da esquina ou um aparelho eletrônico.
É como se alguém, em algum momento, resolvesse conscientemente comprar um pouco de princípios éticos e morais, indo à igreja ou orando.
Não funciona assim, porque moralidade não se adquire de alguém, de um deus.
Embora as pessoas possam deliberadamente optar por obter donuts de uma determinada loja, quando se trata dos componentes principais de nossa moralidade — nossas inclinações profundas, predileções, sentimentos, valores, virtudes e intuição em relação a ser gentil e compreensivo —, essas coisas estão dentro de nós, já nascemos com elas. É uma herança que se incorporou em nós.
Certamente, podemos mudar de ideia sobre um determinado problema social depois de uma reflexão, de aprender mais sobre ele; podemos desenvolver um amor ou aversão por algo depois de termos tido novas experiências em relação a ele; podemos começar a viver nossas vidas de maneira diferente, com diferentes prioridades éticas, depois que nos casarmos com uma determinada pessoa e com ela viver por longo período; podemos achar que nossas posições políticas mudam quando nos mudamos para um novo Estado ou país e moramos lá por um tempo.
No entanto, quando se trata de nossa moralidade subjacente geralmente não é algo que "obtemos" de uma maneira consciente, deliberada e de escolha.
Nosso profundo senso de como tratar outras pessoas, nossa capacidade de empatia e compaixão, nosso desejo de justiça, enfim, nossos valores morais são a herança de nosso passado evolutivo.
Essa herança começou a ser moldada nos primórdios de nossa espécie e aprimorada ao longo do tempo pela educação infantil e socialização cultural.
Os valores dessa herança “nos governam por dentro”, como disse o sociólogo Émile Durkheim (1858-1917).
Existem quatro fontes de nossas tendências morais e éticas:
— 1 Nossa longa história como primatas sociais, evoluindo dentro de um contexto de grupo de cooperação necessária.
— 2 Nossas primeiras experiências como bebês sendo cuidados por uma mãe, pai ou outras pessoas da família.
— 3 Socialização inevitável à medida que crianças e adolescentes em crescimento se enredam em uma cultura,"
— 4 Experiência pessoal contínua, maior conhecimento e reflexão fundamentada e ponderada.
> Com transcrição do livro, que se encontra à venda no Amazon em inglês, Adaptação do texto para o português é de Paulopes.
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