Jornalista faz um relato sobre a abordagem eticamente discutível de pastores para forçar os fiéis a fazerem doações |
[contém opinião do autor] A Igreja Universal não conseguiu que a Justiça expedisse uma liminar para retirar do site do jornal Extra Classe uma reportagem sobre a abordagem de pastores junto aos fiéis para arrecadação de dinheiro, no templo que fica no Centro Histórico de Porto Alegre.
Com a alegação de estar tendo danos morais, a Universal moveu ação na 13ª Vara Cível do Foro Central da Comarca daquela capital contra o autor da reportagem, Flávio Ilha, o mantenedor do jornal (Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul) e redes sociais como o Facebook e Twitter.
Como a liminar não foi concedida em primeira instância, a Universal recorreu ao Tribunal de Justiça, que confirmou a decisão, estabelecendo, portanto, que não se trata de um caso de danos morais, mas, sim, de liberdade de imprensa e do direito à livre expressão.
Ainda cabe recurso.
A reportagem foi publicada no dia 11 de junho de 2019.
Para escrevê-la, Flávio Ilha frequentou o culto daquele templo durante duas semanas em março de 2019.
"Em solenidades públicas em que ninguém pedia a identificação, presenciei muitas vezes as práticas de arrecadação. A partir dessas observações fiz a matéria."
O jornalista disse ter tentado em vão obter o "outro lado" para a reportagem, de modo que a Igreja pudesse se posicionar.
O bispo Guaracy Santos, presidente da Universal no Rio Grande do Sul, não respondeu a um e-mail com cinco perguntas enviado pelo jornalista. .
Na reportagem, Ilha relata como pastores procuram convencer os fiéis a fazerem doação por intermédio de maquinhas de débito e de crédito. com dinheiro em espécie e transferência bancária.
No cultos em que Ilha frequentou houve a exposição no altar de cestinha com remédios para induzir que o dízimo é uma forma de combater doenças.
Houve momento em que a pregação do pastor soou como ameaça: “Abre teus olhos, irmão. Eu vou colocar a Bíblia em cima dessa caixa de remédio. E vou finalizar (o culto) pedindo pra você passar aqui no altar e lançar, em cima desta Bíblia, a sua maior oferta".
Em outras palavras, o pastor quis dizer que quem não der o dízimo poderá gastar muito mais dinheiro com remédios.
Isso não tem nada a ver com o direito constitucional de crenças, mas com crime de coação.
Os pastores que mostram cestinhas de remédios no cultos deveriam ser processados criminalmente, por tirar proveito da crudelidade dos fiéis, entre eles pessoas de baixa escolaridade e com problemas financeiros e de saúde.
Em alguns cultos, de acordo com o relato de Ilha, os sacos para coleta de dinheiro chegavam a ser apresentados aos fiéis até três vezes em diferentes momentos. Neles havia inscrições como "fidelidade" e "pacto com Deus".
Houve oferecimento de água santa em um saquinho plástico dentro de um envelope o qual deveria ser devolvido em outro dia com dinheiro dentro.
Pastores também distribuíram envelopes de papel em forma de arca para devolução com uma oferta em determinada data.
Um pastor chegou a dizer que quem não "dizimar" rouba a Deus.
"Você tem que se tornar dizimista fiel aos sábados, não tem como eu buscar esse Deus, pedir as promessas d’Ele se eu roubo a Ele no dízimo, entende? O dízimo é santo, é sagrado.”
Chamar ou induzir alguém que ele é ladrão de Deus porque não paga dízimo à Igreja é uma acusação muito forte para quem acredita em Deus, e essa sim é uma ofensa que causa danos morais.
Os pastores neopentecostais recorrem a esse tipo pregação com frequência. Já passou da hora de o Ministério Público dar uma basta nisso.
O direito à crença é uma coisa, a humilhação de crentes é outra bem diferente.
Íntegra de reportagem "Reino universal do deus dinheiro'
Com informação do Coletiva.net e de outras fontes. O site Paulopes garante à Universal o direito de resposta, que ela poderá exercer quando quiser e pelo espaço que desejar.
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