Pular para o conteúdo principal

Ong apura que a terceira onda de denúncias contra padres pedófilos ocorre na América Latina

Igreja Católica acobertou
os abusadores da região,
a exemplo do que houve
em outros países

por Charles Collins
para Crux

Um grupo de direitos das crianças está revisando que uma “Terceira Onda” de escândalos de abuso sexual está ocorrendo na América Latina, com revelações mostrando como a Igreja Católica continua tentando ocultar uma extensão da crise.

A Rede Internacional dos Direitos da Criança (CRIN), com sede em Londres, lançou "A Terceira Onda: Justiça para sobreviventes de abuso sexual de crianças na Igreja Católica na América Latina" em 20 de novembro de 2019.

Ela analisa uma escala de abuso e encobrimento da Igreja em todos os países da América Latina, bem como analisar como leis nacionais sobre crimes sexuais protegidos como crianças.

O CRIN diz que a primeira onda de escândalos de abuso ocorreu na Irlanda e na América do Norte, com a segunda na Oceania e na Europa continental.

"Existe uma onda crescente de demanda global por responsabilidade da Igreja Católica por abuso sexual de crianças, especialmente agora nos países da maioria católica", disse Leo Ratledge, diretor jurídico e de políticas do CRIN.

O relatório diz que a Igreja Católica na América Latina tentou sistematicamente suprimir queixas e escândalos de abuso de várias maneiras que parecerão familiares para muitos católicos dos EUA que viveram a crise de abuso clerical dos últimos 20 anos.

Isso inclui a transferência de padres abusivos de uma paróquia ou país para outro — uma prática que, segundo o CRIN, continua até hoje; oferecendo pagamentos secretos às vítimas e suas famílias em troca de seu silêncio; culpar as vítimas e suas famílias pelos abusos e minar a credibilidade das vítimas; manipular as vítimas psicologicamente para que elas não tomem medidas legais; e pressionando a mídia a não informar sobre o assunto.

O abuso de escritório começou a ser mais conhecido na região, com destaque no Chile, onde o caso do bispo Juan Barros, de Osorno — acusado de encobrir o abuso do ex-padre Fernando Karadima, o mais notório abusador de crianças clericais do Chile — dominou manchetes durante a visita do Papa Francisco ao país em janeiro de 2018.

O caso chamou a atenção da imprensa graças à coragem dos sobreviventes, que protestaram contra a nomeação de Barros para Osorno.

Ratledge disse que os esforços de lobby dos sobreviventes do abuso do clero colocaram os governos latino-americanos sob pressão "para responder ao abuso sistêmico de crianças e seu encobrimento na Igreja, em vez de esperar pela instituição se reformar".

O CRIN observou que apenas um pequeno número de casos de abuso sexual de clérigos veio à luz em países como Brasil, Cuba, Equador e Honduras, e apontou o fato de que não há jornalismo investigativo sobre o assunto, como tem sido na Argentina, Costa Rica e Paraguai.

O relatório observou que, depois que casos de abuso de alto nível aparecem na mídia, isso leva a um aumento no número de sobreviventes dispostos a relatar o que lhes aconteceu às autoridades.

Outras questões destacadas no documento de 66 páginas incluem:

— Dados oficiais sobre o assunto não existem na maioria dos países da região. Em algumas, as únicas estatísticas disponíveis são as divulgadas pela Igreja Católica (no Brasil, Guatemala, México, Uruguai).

— Os primeiros relatos de abuso surgiram em 2002, com alguns países (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia) registrando um aumento acentuado desde 2017. No entanto, o número total, em relação a países fora da América Latina, ainda é baixo. Houve condenações de padres abusivos em todos os países examinados, mas ainda são raras.

— Apenas seis países - dos 19 examinados - aboliram os estatutos de limitações por abuso sexual infantil. Em dez jurisdições, os períodos de limitação não começam a correr até a criança atingir 18 anos. Em três desses países, o período de limitação não começa a correr até que uma pessoa relate o crime.

— Embora a maioria dos países criminalize a exploração sexual e o abuso de crianças, alguns oferecem proteção desigual às crianças, dependendo das circunstâncias. Os exemplos incluem as vítimas de estupro entre adolescentes que precisam provar que a força ou ameaças foram usadas, enquanto as vítimas mais jovens não são obrigadas a fazê-lo; e, em alguns casos, os autores são capazes de fugir da acusação caso se casem com a vítima.

— O direito penal na Argentina, México e Peru reconhece o abuso de uma posição de poder como um elemento específico de uma ofensa ou um fator exacerbador que leva a um aumento da sentença. As leis desses países identificam explicitamente ministros religiosos ou um relacionamento religioso com uma criança como exemplo.

O CRIN recomendou um elemento importante para ajudar a levar a prestação de contas à Igreja na região: consultas públicas patrocinadas pelo Estado sobre abuso sexual de crianças na Igreja Católica.

A organização de direitos da criança observou que nenhum país latino-americano realizou uma investigação pública sobre a crise de abuso de escritório, como aconteceu em vários outros países da Europa, América do Norte e Oceania. 

As organizações disseram que essas investigações podem estabelecer a verdade factual sobre a extensão do abuso; estabelecer medidas para o governo e as instituições melhorarem as leis, políticas e práticas de proteção à criança; e também levar à criação de esquemas de reparação que ofereçam compensação e aconselhamento aos sobreviventes de abuso.

O relatório observou que a ideia não é estranha à América Latina, pois mais de uma dúzia de países da região estabeleceram comissões nacionais de verdade e reconciliação para investigar violações passadas dos direitos humanos durante períodos de conflito ou regra autoritária nos anos 70, 80 e 90.

“Essas comissões de inquérito surgiram em contextos muito diferentes daqueles em abuso infantil, mas em ambos os casos foram usadas como uma ferramenta para responder a abusos sistemáticos em larga escala e aos direitos humanos e seus objetivos são praticamente os mesmos: verdade, responsabilidade e reparações”, diz o relatório.

A equatoriana Sara Oviedo, ex-vice-presidente do Comitê das Nações Unidas para os Direitos da Criança e membro fundadora da organização internacional de sobreviventes Ending Clero Abuse - Global Justice Project, elogiou o relatório CRIN.

Ela disse que ajudará no objetivo de "levar a Igreja Católica a entregar criminosos sexuais ao sistema judiciário, a ser responsabilizada por continuar seus encobrimentos e a defender os direitos das vítimas de abuso sexual, como exigimos inúmeras vezes.”



Igreja Católica do Brasil tem menos pedófilos do que outras?

Padre diz que a Igreja ainda não entendeu a seriedade dos abusos sexuais

Um a cada dez padres do Brasil abusa de criança, diz relatório confidencial do Vaticano

Igreja Católica vai acabar se não der reviravolta em cinco anos, diz padre

Abuso em coral alemão desmente narrativa defendida por Bento 16



Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê