Bandidos pentecostais se tornaram em cruzados que levaram uma guerra santa para morros e baixada do Rio |
A partir de Duque de Caxias, o correspondente Terrence McCoy assim começa o texto:
Houve uma batida na porta. Estranho, o sacerdote pensou: ele não estava esperando ninguém.
Marcos Figueiredo correu para a entrada do templo [terreiro] de sua casa e a abriu.
Armas. Três deles. Tudo apontando para ele.
Os "soldados de Jesus" haviam chegado — três membros de uma gangue de cristãos evangélicos extremistas que haviam assumido o controle do empobrecido bairro do Parque Paulista, em Duque de Caxias.
Primeiro, eles ergueram barreiras para afastar policiais e criar um paraíso para narcóticos a uma hora de carro do Rio de Janeiro. Agora eles estavam mirando em alguém cuja fé não se alinhava à sua. Isso significava exigir o fechamento de templos que praticavam religiões de influência africana, como o candomblé de Figueiredo.
"Ninguém quer macumba aqui", disse um deles a Figueiredo, usando um insulto étnico, de acordo com testemunhos que ele forneceu às autoridades. "Você tem uma semana para parar tudo isso."
Eles dispararam no ar e partiram, deixando Figueiredo com uma escolha impossível: sua fé — ou sua vida."
O que o jornal americano informa não é novidade para os brasileiros.
"Os Soldados de Jesus", nem sempre com esse nome, não surgiram rapidamente, das trevas para o dia.
Mas os terreiros sempre existiram no Grande Rio e na periferia das grandes cidades brasileiras.
Em determinados lugares houve desde sempre um estranhamento, mas só recentemente, nos últimos anos, com o crescimento dos evangélicos, os terreiros entraram na mira da intolerância mais explícita, a da ameaça à integridade física.
Assim como Figueiredo, muitos pais de santo tiveram de sair de terreiros tradicionais, levando seus santos para lugares menos perigosos.
McCoy informa os americanos que o Brasil tem passado por uma mudança religiosa abrupta, em apenas uma única geração.
"Em 1980, cerca de 9 em cada 10 pessoas aqui identificadas como católicas. Mas essa proporção chegou a 50% e em breve será superada pelo evangelicalismo, que agora representa um terço da população."
David Bledsoe, um missionário americano que ficou dois anos no Rio, contou ao correspondente do WP que a crescente violência dos "Soldados de Jesus" (ou "Traficantes de Jesus") "horrorizou os evangélicos tradicionais".
Mas o próprio Bledsoe fornece uma pista para que os bandidos de Jesus não estejam sendo devidamente combatidos.
Ele disse admitiu que há mesmo "uma influência demoníaca lá [no Rio]".
Certamente as autoridades brasileiras, cada vez mais evangélicas, também acham isso e, no fundo, acreditam que os cruzados pentecostais estão certos.
Com informação do Washington Post.
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