Pular para o conteúdo principal

Repúdio ao discurso nazista de ex-secretário do Governo é unânime na rede social

Alvim plagiou Joseph Goebbels,
ministro da Propaganda de Hitler


por Deutsche Welle

O discurso do agora ex-secretário especial de Cultura Roberto Alvim (foto à direita) com trechos plagiados do antigo ministro nazista Joseph Goebbels (foto) gerou nesta sexta-feira (17 de janeiro de 2020) um movimento praticamente unânime de repúdio nas redes sociais.

Até as 14h30, após o vídeo ser publicado nas redes pela Secretaria Especial de Cultura, já havia 537 mil mensagens no Twitter, segundo monitoramento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV).

No vídeo, ao som de uma ópera de Richard Wagner — um compositor favorito dos nazistas —, Alvim parafraseou um trecho completo de um discurso de Goebbels proferido em 1933 para a classe teatral da Alemanha. "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa [...] ou então não será nada”, disse Alvim.

Goebbels, em seu discurso havia dito: "A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa [...] ou então não será nada”.

O assunto ganhou ainda força após as primeiras reportagens sobre o vídeo, que destacaram os pontos de encontro entre os discursos e o uso de recursos estéticos que combinados remetem ao nazismo.

A partir das 8h, o volume de menções a Alvim aumentou rapidamente, com pico de 2,1 mil tuítes por minuto às 11h43m.

A demissão de Alvim foi anunciada no início da tarde, após declarações de repúdio de figuras políticas como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e de organizações como a Confederação Israelita do Brasil (Conib).

Do total de publicações sobre o assunto, 82% partiram do Brasil. Na Alemanha — onde o tema ainda não havia sido explorado com destaque até a tarde no horário local — o número de postagens somou 1% do total, com mais 1% na Itália, 2% no Reino Unido e 4% nos Estados Unidos.




Os tuítes identificados no exterior partiram de brasileiros e de jornalistas estrangeiros que cobrem o Brasil.

Goebbels foi citado em 20% dos tuítes, enquanto o termo "nazista" foi predominante, aparecendo em 32%. O ditador nazista Adolf Hitler foi mencionado em 12% das publicações. 

Ao longo da manhã e início da tarde, associações irônicas e falas de influenciadores da extrema-direita brasileira promovendo a ideia falsa de que o nazismo foi de esquerda obtiveram 3% de presença na discussão.

O tuíte do deputado Rodrigo Maia, que pediu a demissão do secretário foi identificado como de maior impacto e volume de retuítes, seguido por publicações de contas da imprensa, de jornalistas e atores políticos de partidos de oposição.

O dramaturgo de extrema-direita Alvim havia sido nomeado para a Secretaria de Cultura do Brasil em novembro. Antes mesmo, quando ocupava um cargo menor na Funarte, ele já fora alvo de críticas após lançar ataques públicos contra a atriz Fernanda Montenegro.

 Ainda investigado por tentar empregar sua esposa em projeto da fundação, ele também foi responsável pela indicação do novo presidente da Funarte, Dante Mantovani, que se notabilizou por desatinos como uma declaração que associou o rock a uma surreal conspiração soviética para promover o aborto e o satanismo.

Mas foi o discurso com referências claras ao nazismo que acabou custando a cadeira de Alvim. Inicialmente, mesmo com o escândalo tomando as redes sociais, Alvim agiu como se tudo estivesse bem. 

Antes de sua demissão, ele disse a jornal O Estado de S.Paulo que havia convencido o presidente Jair Bolsonaro de que a frase praticamente completa de Goebblels não passava de uma "coincidência retórica”.  Ele não explicou a escolha da música de Wagner e de outros recursos estéticos associados ao nazismo.

Para piorar, disse que "a origem é espúria, mas as ideias contidas na frase são absolutamente perfeitas e eu assino embaixo". Ele ainda afirmou: "A filiação de Joseph Goebbels com a arte clássica e com o nacionalismo em arte é semelhante à minha, e não se pode depreender daí uma concordância minha com toda a parte espúria do ideal nazista."

Mais tarde, Alvim ainda tentou argumentar em sua página que não tinha noção da origem nazista de algumas de suas frases. "Se eu soubesse, jamais a teria dito. Tenho profundo repúdio a qualquer regime totalitário, e declaro minha absoluta repugnância ao regime nazista."

Mas era tarde. A atitude de Alvim fez com que até figuras como o ideólogo de extrema direita Olavo de Carvalho, espécie de filósofo oficial do governo, se distanciassem. "É cedo pra julgar, mas o Roberto Alvim talvez não esteja muito bem da cabeça”, escreveu Olavo no Facebook.

O cineasta Josias Teófilo, outro personagem da cena cultural da extrema direita, também sugeriu que o ex-secretário estaria descompensado por problemas pessoais. "Venho notando há um bom tempo que Roberto Alvim está passando por problemas de ordem pessoal seríssimos”, escreveu no Twitter.

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Bolsonaro foi pressionado a demitir Alvim após uma reclamação do embaixador de Israel, Yossi Shelley, que mantém uma relação de proximidade com o Planalto. Houve também críticas da Embaixada da Alemanha.

No meio político, além de Rodrigo Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-A​P) também pediu a demissão. Em nota, Alcolumbre, primeiro judeu a presidir o Senado, disse que o discurso foi "acintoso, descabido e infeliz".

Na quinta-feira, mesmo dia em que o vídeo de Alvim foi ao ar, Bolsonaro havia elogiado o então secretário em sua live semanal nas redes sociais. "Depois de décadas, agora temos sim um secretário de Cultura de verdade, que atende o interesse da maioria da população brasileira", disse Bolsonaro na ocasião.

Nesta sexta-feira, depois da repercussão do vídeo, o presidente declarou, em nota, que a permanência de Alvim, se tornou "insustentável”.

"Um pronunciamento infeliz, ainda que tenha se desculpado, tornou insustentável a sua permanência", postou o presidente no Facebook. 

"Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas. Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum."

Esse não foi o primeiro escândalo que envolveu o governo Bolsonaro e o nazismo. 

Em 2019, o próprio presidente e seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, alegaram, sem qualquer base histórica, que o nazismo era um "movimento de esquerda”. A fala provocou repúdio de historiadores e até do Museu do Holocausto em Israel. 

Também em 2019, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que a aspirina foi inventada pelos nazistas durante mais uma fala para atacar o educador Paulo Freire. Na verdade, a aspirina foi inventada mais de três décadas antes da ascensão do nazismo.

Deutsche Welle é uma emissora da Alemanha que produz jornalismo independente em 30 idiomas.






Hitler enaltece Deus em oito passagens do 'Mein Kampf'

Partido Nazista dizia se basear em um 'cristianismo positivo'

Holocausto é o resultado do anti-semitismo cristão, admite Igreja da Inglaterra




Comentários

Anônimo disse…
Bolsonaro é o Hitler do nosso tempo kkkkkkkkkk.
Emerson Santos disse…
Fico satisfeito em saber que basta um idiota como esse falar m** em rede nacional .. pra demonstrar pra todos esses religiosos "tolinhos" que defendem tanto suas fantasias que nenhuma religião que existe .. define se uma pessoa tem caráter ou não. E para mim se algo não melhora a pessoa no seu caráter .. então de nada serve ...
Anônimo disse…
Infelizmente o título está errado, tá cheio de bolsotonto defendendo ele.

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

Lúcia surta, pisoteia a Bíblia e mata filho com 15 facadas

Os policiais tiveram de arrombar a porta de apartamento no bairro do Jaguaré, zona Oeste de São Paulo, mas já era tarde. Quando entraram, viram Maria Lúcia Rufino, 43, dando facadas em seu filho de 19 anos, o estudante Leonardo Macedo Gadducci . A foto ao lado é uma reprodução de profile do rapaz no Orkut. Maria Lúcia estava em crise psicótica. Ou doida, como diziam os vizinhos na última terça (18). Já no começo da tarde, os vizinhos perceberam que ela estava estranha. Lúcia chamou as pessoas para orar, mas começou a falar do diabo, até que começou a pisotear a Bíblia. Chamaram uma ambulância, que não apareceu. Então a mulher disse que precisava matar um dos seus filhos três filhos, para um “bem maior”, conforme relata o G1. Um dos irmãos do Leonardo de 10 anos e outro, 13. Embora aparentemente em transe, a mulher parecia determinada. Alguém precisava fazer alguma coisa, porque uma tragédia estava para ocorrer. Chamaram a polícia e deixaram-na com os filhos. Os PMs primeir