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Grupos religiosos não aceitam o Jesus multirracial da Escola de Samba de Mangueira

Nestas vésperas do Carnaval 2020, quase só se fala do enredo "A verdade vos fará livre, da Estação Primeira de Mangueira", que levará uma versão não convencional de Jesus Cristo à avenida da Sapucaí: um Jesus negro, índio ou mulher, nascido numa favela e bem diferente do tradicional Jesus loiro de olhos azuis conhecido de tantas imagens.

É com esse tema que o carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, tentará defender novamente o título conquistado em 2019 com o também polêmico enredo "História pra ninar gente grande", que falava das pessoas apagadas da história brasileira e homenageou a vereadora assassinada Marielle Franco.

O enredo sobre o Jesus favelado é, de certa forma, a continuação lógica do enredo campeão de 2019:

"Eu sou da Estação Primeira de Nazaré

Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher

Moleque pelintra do Buraco Quente

Meu nome é Jesus da Gente

Nasci de peito aberto, de punho cerrado

Meu pai carpinteiro desempregado

Minha mãe é Maria das Dores Brasil

Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira"

(trecho do enredo A verdade vos fará livre)

Grupos religiosos conservadores, como o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, falam em blasfêmia e ameaçam acionar a Justiça contra a Mangueira. 

As tensões se dão poucas semanas depois da polêmica envolvendo o "Jesus gay" do especial de Natal do Porta dos Fundos, que levou a um atentado à produtora dos comediantes e acabou no Supremo Tribunal Federal (STF).

Com o enredo deste ano, Vieira quis usar a arte como provocação, para tirar o espectador da sua zona de conforto, analisa o jornalista Aydano André Motta, pesquisador e autor de livros sobre Carnaval, em entrevista à DW Brasil.

"Leandro parte da premissa de que não há uma imagem verdadeira de Jesus. A gente se convencionou, por uma questão de centralismo europeu, de considerar de que Jesus era o Jesus da Renascença, caucasiano de olhos claros", diz.

Tal Jesus também domina o imaginário brasileiro. "Esse enredo é uma obra questionadora de parâmetros brasileiros, que são veículos de intolerância frente à vários aspectos da vida brasileira", comenta Motta.

Os tradicionais grupos de poder, em geral brancos, não querem uma imagem editada do tradicional Jesus branco, avalia o jornalista, afirmando se tratar de uma questão de poder, que passa pela cor de Jesus.



Com texto de Deutsche Welle, que é uma emissora internacional da Alemanha.




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