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Isolar-se em tempo de pandemia do coronavírus é um gesto de solidariedade

Michela Marzano / artigo / La Vie     Como italiana, tendo a família na Itália e acompanhando de perto tudo o que aconteceu nas últimas semanas no meu país de origem, fiquei aliviada ao ver o governo francês finalmente tomar as medidas necessárias.

Eu tinha, até esse momento, a sensação de uma inconsciência e de uma leveza fora de lugar. Levamos muito tempo para reagir e nos dar conta do que estava acontecendo. As autoridades não queriam criar pânico, mas poderiam ter agido mais rapidamente.

O verdadeiro desafio não é apenas isolar-se, mas proteger-se para proteger melhor os outros, as pessoas mais idosas, os mais frágeis. Isolar-se é um gesto de solidariedade.

FOTO DA EQUIPE DA UTI
DO HOSPITAL GERAL
UNIVERSITÁRIO DE CUIABÁ

Assim que entendermos que a separação está ligada à solidariedade, o significado do gesto já é outro. Vemos isso na Itália. Todos ficam em casa, mas acabam se criando outras relações: as crianças fazem desenhos que penduramos nas janelas, desenhos com mensagens de esperança; outros cantam na varanda e convidam seus vizinhos a fazer o mesmo. 

A reclusão compulsória pode se tornar uma oportunidade para inventar novas formas de comunicação.

Não é porque as crianças não vão mais à escola que os pais estarão mais próximos delas. Algumas famílias vivem em condições difíceis de acomodação, até com uma grande promiscuidade. 

Quando se está em oito pessoas numa mesma casa, é muito difícil ficar trancado. Especialmente porque a proximidade física com as crianças também deve ser evitada: elas são as primeiras disseminadoras da doença. 

Ter que ficar em casa nos forçará a nos relacionarmos entre nós, o que achamos difícil de fazer na sociedade atual. No entanto, é preciso estar, em primeiro lugar, em contato consigo mesmo para estar em condições de criar sociabilidade. Uma sociabilidade profunda e não apenas proximidade física.

Teremos que inventar uma nova maneira de nos comunicar, falar e viver. É possível! E teremos que aprender a viver o tempo de maneira diferente.

Ainda parece muito cedo para tirar outras lições. Certamente, as imagens de satélite capturadas da China ou da Itália nos mostram que é possível reduzir nossa pegada de carbono. 

Mas o que faremos quando a epidemia tiver sido superada? Vamos começar a produzir e consumir da mesma maneira, como se nada tivesse acontecido?

Por enquanto, nosso dever é gerenciar essa situação da melhor maneira possível e apoiar as pessoas que estão na linha de frente. E, acima de tudo, manter o moral elevado.

Várias imagens magníficas circularam nos últimos dias, postadas nas redes sociais por equipes médicas que trabalham em hospitais, com máscaras, óculos e cartazes com os dizeres: “Eu fico no hospital e você fica na sua casa”. Uma maneira de dizer que estão na linha de frente, que estão lutando e que precisam de nós para ajudar a parar esta epidemia.

Essas são mensagens importantes que nos ajudam a entender de onde vêm os sacrifícios. Aceitar ficar enclausurado em casa é interpor um ato de resistência contra a doença.


O coronavírus vem nos recordar de maneira cruel nossos limites, nossas fraquezas e nossas fragilidades. Quer gostemos ou não, essa provação faz parte da vida. E cada um reage com sua própria psicologia, com suas próprias carências, mas também com suas próprias forças. 

É apenas um pequeno lembrete, um lembrete extenuante e doloroso. Às vezes tentamos esquecê-lo, mas nossa condição humana é frágil e mortal. Somos vulneráveis, mas também somos capazes de muitos atos de coragem, capazes de nos engajar e de nos colocar em perigo para salvar os outros.

É numa crise como essa que estamos atravessando que vemos a importância, não de um Estado forte, mas de um Estado competente. 

O que importa é a clarividência e a compaixão. Ser realista, solidário e manter a calma para tomar as decisões corretas. 

Tomemos o exemplo de Donald Trump, que mostra, mais uma vez, sua completa incompetência. Ele deveria ser muito atencioso, porque nos Estados Unidos a situação é muito grave, especialmente com um sistema de saúde majoritariamente privado.

 Eu não ouso imaginar o que poderá acontecer a partir do momento em que o pico dessa pandemia chegar ao seu país. Ninguém sabe quanto tempo essa crise vai durar. Mas no dia em que sairmos dela, teremos que fazer as contas. E parar de fazer cortes no orçamento da saúde.

Finalmente, a reclusão representa uma terrível provação, especialmente para os idosos, ainda mais isolados, que não podem sair ou receber visitas — é uma escolha obrigatória para evitar a hecatombe. 

Na Itália, os hospitais estão sobrecarregados; já não há espaço para reanimação, nem respiradores suficientes. Os médicos são obrigados a realizar uma triagem. 

Se quisermos evitar algo parecido na França, todas as medidas de proteção adotadas hoje fazem sentido.

Michela Marzano é professora na Universidade Paris-Descartes e realiza pesquisas no campo da filosofia moral. Ex-deputada do parlamento italiano, é colunista do jornal La Repubblica. .

A tradução para o português é de André Langer para o IHU Online.





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