Pular para o conteúdo principal

Consultor de risco político diz que 'presidente de um país não pode confrontar a ciência'

Deutsche Welle    No início de março, Ian Bremmer, presidente e fundador da Eurasia Group, considerada a principal consultoria de risco político do mundo, reconheceu ter enviado a seus clientes a revisão de curto prazo mais problemática que escreveu desde a fundação da Eurasia, em 1998.
Em meio à pandemia do novo coronavírus, o relatório trazia um cenário de instabilidade social no horizonte, com rebeliões no sistema prisional dos EUA por falta de medicamentos e o aumento do nacionalismo e da xenofobia no âmbito internacional.

Atento a todas as partes do globo, o analista foi surpreendido pela postura do presidente Jair Bolsonaro perante o avanço da Covid-19, a doença provocada pelo coronavírus, no país. 

No Twitter, o analista classificou Bolsonaro como o líder mais ineficaz do mundo democrático para lidar com a crise.

Em entrevista à DW Brasil, Bremmer afirma que a Eurasia baixou as projeções e expectativas para o Brasil em função do cenário atual.

DW Brasil: O senhor afirmou no Twitter que Bolsonaro é o líder mais ineficaz do mundo democrático para lidar com a pandemia do novo coronavírus. Como a postura do presidente impacta a imagem do Brasil na comunidade internacional?

Ian Bremmer: Obviamente, há prejuízos. É muito pior do que o dano à imagem do Brasil provocado pelos incêndios florestais na Amazônia e os comentários absurdos feitos pelo presidente na ocasião. Todos sabemos que ele é um causador de problemas, um populista que gosta de dizer coisas inapropriadas e, por isso, é chamado de "Trump dos trópicos". Contudo, nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump não está em confronto com seus próprios médicos. Nesta segunda-feira (06/04), Bolsonaro esteve muito perto de demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o que seria um enorme desastre.

O presidente de uma nação não pode confrontar a ciência e o bem-estar de seus cidadãos. Além disso, ele está minando a própria popularidade e causando divisões dentro da base de apoio à agenda de reformas econômicas no Congresso Nacional, o que pode conduzi-lo ao impeachment. No plano internacional, ele virou motivo de chacota. É verdadeiramente lamentável, pois seu governo reunia condições para realizar as maiores reformas econômicas do mercado emergente nos últimos anos. Quando confrontado com o coronavírus, porém, sua ação foi desastrosa.

As atitudes de Bolsonaro afastam investidores estrangeiros do Brasil?

Com certeza. Nós rebaixamos nossas projeções e expectativas para o Brasil em função da crise pandêmica. As principais razões são a condução de Bolsonaro, associada ao risco de que não consiga levar adiante a agenda de reformas econômicas e, em vez disso, volte-se para a sua base populista, mais ligada aos temas de segurança. Isso criaria muitas divisões no país. São elementos que abrem espaço para um impeachment após esta crise. Mas devemos nos questionar se existe, no Brasil, um alinhamento dos parlamentares para aprovar continuamente as reformas necessárias. É muito imboprovável que haja, na minha opinião.
sss
BOLSONARO É CONHECIDO COMO O
TRUMP DOS TRÓPICOS', MAS O PRESIDENTE
DOS EUA DEIXOU DE CONTRARIAR OS MÉDICOS


A crise do coronavírus não afeta só o Brasil. É horrível para todos. A resposta exige muitos recursos, e a doença á altamente perigosa para a população. Por essas razões, os mercados emergentes serão atingidos com mais força. Os sistemas de saúde não são tão bem estruturados, há maior dificuldade de implementar o distanciamento social, e os governos são mais fracos, com menos recursos para combater o problema. Para piorar, o impacto de paralisar a economia é mais profundo. Não bastassem essas grandes dificuldades, o Brasil tem um líder afirmando que é tudo mentira, que o isolamento não é necessário, e atacando os governadores.

Qual é o cenário mais provável para a economia mundial após a crise pandêmica: mais protecionismo ou mais globalização? São os Estados ou as corporações que sairão mais fortes?

Claramente, teremos mais nacionalismo e menos globalização. Estamos observando que uma cadeia de produção just-in-time (sob demanda) é muito eficiente e leva ao crescimento, mas não é muito resiliente em momentos de crise, quando você precisa de maior armazenamento. Iremos observar um grande desemprego, ao passo que os governos serão chamados a fazer resgates, estímulos e nacionalizações. Em contrapartida, deverão exigir que sejam contratados mais pessoas de seus países.

Essas razões se somam à guerra comercial que já estava sendo travada por EUA e China, motivada pela disputa tecnológica em torno do 5G. Haverá mais e mais processos de regionalização, com maior atenção às fronteiras e diferenciação entre as políticas econômicas nacionais. Devemos esperar também movimentos internos contrários ao livre mercado e à abertura de fronteiras. Obviamente, isso implica que os Estados se tornarão mais poderosos, ante um enfraquecimento das corporações.

Corporações de todas as áreas da atividade econômica?

Com exceção do setor tecnológico, cujas empresas serão muito fortalecidas, mas por estarem alinhadas aos governos. Isso já está ocorrendo na China e irá ocorrer nos EUA. Vamos precisar que essas companhias trabalhem em estreita colaboração com os governos, para garantir a possibilidade de rastrear as pessoas: saber se já tiveram a doença, por onde viajaram, em que bairros estiveram, se foram testadas, se estão assintomáticas. As empresas de tecnologia serão vistas como estratégicas e, por consequência, mais alinhadas aos governos.

Devemos esperar um fortalecimento do populismo nacionalista?

Acho que veremos um forte populismo em vários países. Mas é importante frisar que observamos uma ascensão do nacionalismo populista quando a economia global vivia o mais longevo bull market (expressão do mercado financeiro para um momento favorável) desde a Grande Depressão. Havia muito crescimento, mas também uma desigualdade em alta, especialmente no mundo desenvolvido. Essas disparidades serão acentuadas pela crise atual.


Os CEOs vão querer que suas empresas sejam mais eficientes e tenham menos empregados. A economia do conhecimento possibilita a distância social e o home office. Porém, os trabalhadores mais pobres serão expostos a maiores riscos, adoecerão mais e terão maior dificuldade para voltar ao trabalho. Além disso, não haverá muito apoio disponível dos Estados. São razões que irão impulsionar o populismo.

Como o atual cenário pode impactar a campanha à reeleição de Donald Trump?

É uma pergunta interessante. Por um lado, Trump tem uma aprovação de 46%, a maior desde o início do mandato. O recorde é de George W. Bush, que alcançou 92% após o 11 de setembro, o dobro. Jamais será possível para Trump ter uma aprovação majoritária, acima dos 60%. O resultado atual vem a reboque da atuação na pandemia. Nesta crise, os americanos querem um líder. Mas vale lembrar que na França, Itália, Alemanha e Coreia do Sul, o salto de aprovação que os líderes tiveram foi maior do que nos EUA. Acredito que a maré positiva na aprovação de Trump não se sustente por muitos meses.

Ele terá em mãos uma economia com muitos problemas, que vai precisar de muito apoio, com um nível de desemprego alto. Isso irá reduzir sua aprovação, o que dificulta uma vitória nas urnas.

Como o senhor vê a condução geopolítica da China durante a pandemia?

Definitivamente, a China está usando a pandemia para aumentar sua influência geopolítica. O surto veio da China, eles mentiram sobre isso e não permitiram a entrada de agentes do CDC (Centro de Controle de Prevenções e Doenças) dos EUA, da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Em meados de janeiro, não se sabia exatamente o que acontecia dentro do país. Eles esconderam da própria população e do restante do mundo. Mais de 5 milhões de chineses viajaram a partir de Wuhan, e 400 mil saíram do país. Por essa razão é que há epidemia na Itália, Irã e EUA. Eles foram totalmente responsáveis pela origem do surto.

Mas, desde então, a China vem respondendo de forma muito efetiva, com uma quarentena rígida e vigilância completa. A cadeia de produção da economia estará operando em máxima capacidade em maio, enquanto EUA e União Europeia estarão paralisados. Isso os fortalece. Além disso, os chineses são responsáveis pela cadeia de suprimentos de saúde e não faltará quem precise desses equipamentos desesperadamente. Ainda por cima, eles estão fazendo doações, inclusive de profissionais de saúde, que estão levando para diversos países, inclusive a Itália.

Os EUA não estão fazendo nada disso, e têm dificuldades para responder à crise internamente. O país está abdicando de liderança, não está coordenando ações com seus aliados e outras nações.

Deverá haver pressão para que empresas dos EUA saiam da China, ou retaliações contra a tecnologia 5G do país asiático?

Definitivamente, haverá retaliações sobre o 5G. Esta briga está crescendo, e virão sanções mais durascontra os chineses. Os americanos irão pressionar ainda mais os aliados para que fiquem longe do 5G. A questão é se isso será efetivo, com tantos países que não confiam em Trump e não sentem que ganham muito com os EUA no momento. Portanto, vejo uma guerra fria tecnológica entre EUA e China, com potencial de expansão para os setores de serviços e manufaturas, à medida que empresas americanas forem reduzindo sua presença na China. Mas não tenho certeza de quantos países ao redor do mundo seguirão os EUA.

Na Alemanha, o governo da chanceler Angela Merkel viu sua popularidade aumentar durante a pandemia, enquanto a extrema direita teve ligeira queda na aprovação. Como o senhor vê esse resultado?

É fruto do bom trabalho que a Merkel vem fazendo. Ela é uma cientista de formação, agiu rápido, conduziu testagem massiva, é confiável. Está no cargo há muito tempo, é uma líder forte e estável em um período de crise. O resultado não me surpreende. Todos os líderes que assumem o comando da situação têm registado alta de popularidade. Na Alemanha, vimos um salto bem maior do que Trump teve nos EUA.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.






O dia em que Bill Gates, defensor da ciência, previu a pandemia, em 2015

Bolsonaro afirma a pastores que a pandemia 'não é isso tudo que estão pintando'

'Internet Segura' adverte para onda de golpes na quarentena

Cidade de Nova York improvisa necrotério fora de hospital

Psicóloga diz como é possível manter o equilíbrio emocional em tempo de pandemia

13 teorias da conspiração sobre o coronavírus. Ou: a bolsa ou a vida?

Microbiologista critica a negação à ciência e alerta que o Covid-19 mudou o mundo




Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Cristianismo é a religião que mais perseguiu o conhecimento científico

Cristãos foram os inventores da queima de livros LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião As epidemias e pandemias durante milhares de anos antes do cristianismo tiveram as mais estapafúrdias explicações dos deuses. Algumas mentes brilhantes da antiguidade, tais como Imhotep (2686-2613 a.C.) e Hipócrates (460-377 a.C.) tentaram passar explicações científicas para as massas de fanáticos religiosos, ignorantes, bestas humanas. Com a chegada ao mundo das feras cristãs, mergulhamos numa era de 2000 anos de trevas e ignorância. Os cristãos foram os inventores da queima de livros e bibliotecas. O cristianismo foi a religião que mais perseguiu o conhecimento científico e os cientistas. O Serapeu foi destruído em 342 d.C. por ordem de um bispo cristão de Alexandria, sob a proteção de Teodósio I.  Morte de Hipatia de Alexandrina em ilustração de um livro do século 19 A grande cientista Hipátia de Alexandria (351/370) foi despida em praça pública e dilacerada viva pelas feras e bestas imundas cristãs. So

Estudante expulsa acusa escola adventista de homofobia

Arianne disse ter pedido outra com chance, mas a escola negou com atualização Arianne Pacheco Rodrigues (foto), 19, está acusando o Instituto Adventista Brasil Central — uma escola interna em Planalmira (GO) — de tê-la expulsada em novembro de 2010 por motivo homofóbico. Marilda Pacheco, a mãe da estudante, está processando a escola com o pedido de indenização de R$ 50 mil por danos morais. A primeira audiência na Justiça ocorreu na semana passada. A jovem contou que a punição foi decidida por uma comissão disciplinar que analisou a troca de cartas entre ela e outra garota, sua namorada na época. Na ata da reunião da comissão consta que a causa da expulsão das duas alunas foi “postura homossexual reincidente”. O pastor  Weslei Zukowski (na foto abaixo), diretor da escola, negou ter havido homofobia e disse que a expulsão ocorreu em consequência de “intimidade sexual” (contato físico), o que, disse, é expressamente proibido pelo regulamento do estabelecimento. Consel

Roger tenta anular 1ª união para se casar com Larissa Sacco

Médico é acusado de ter estuprado pacientes Roger Abdelmassih (foto), 66, médico que está preso sob a acusação de ter estuprado 56 pacientes, solicitou à Justiça autorização  para comparecer ao Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de São Paulo de modo a apresentar pedido de anulação religiosa do seu primeiro casamento. Sônia, a sua segunda mulher, morreu de câncer em agosto de 2008. Antes dessa união de 40 anos, Abdelmassih já tinha sido casado no cartório e no religioso com mulher cujo nome ele nunca menciona. Esse casamento durou pouco. Agora, o médico quer anular o primeiro casamento  para que possa se casar na Igreja Católica com a sua noiva Larissa Maria Sacco (foto abaixo), procuradora afastada do Ministério Público Federal. Médico acusado de estupro vai se casar com procuradora de Justiça 28 de janeiro de 2010 Pelo Tribunal Eclesiástico, é possível anular um casamento, mas a tramitação do processo leva anos. A juíza Kenarik Boujikian Felippe,  da 16ª

Drauzio Varella afirma por que ateus despertam a ira de religiosos

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Bíblia diz que pastor tem de ganhar bem, afirma Malafaia

Malafaia disse  a Gabi  que ama os  gays como  ama os bandidos   Silas Malafaia (foto), da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, afirmou que a “Bíblia diz que pastor deve ganhar muito bem”. Ainda assim, afirmou ao ser entrevistado por Marília Gabriela , faz 25 anos que ele abriu mão do salário da igreja. Falou que seus rendimentos vêm de palestras e da venda de livros e CDS de sua editora, a Central Gospel. O pastor levou a sua declaração do Imposto de Renda ao  programa "De Frente com Gabi", apresentado ontem pelo SBT, para mostrar que seus bens dão o total de R$ 4,5 milhões, em valores atualizados. Afirmou que, por isso, vai processar a revista americana Forbes por ter lhe atribuído uma fortuna de R$ 300 milhões, quantia que o colocaria na terceira posição na lista de pastores mais ricos do Brasil, abaixo apenas de Edir Macedo e Valdemiro Santiago. Malafaia chamou o jornalista que escreveu a reportagem de “safado, sem vergonha, caluniador”, porque, disse, que

Suposto ativista do Anonymous declara guerra a Malafaia

Grupo Anonymous critica o enriquecimento de pastores O braço brasileiro dos ativistas digitais Anonymous (ou alguém que está se passando por eles) declarou guerra ao Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e aos demais pastores que pregam "mentiras" e “a prosperidade usando a Bíblia” para enriquecimento próprio. “Vamos buscar a fé verdadeira e a religião”, promete uma voz feminina gerada por um soft, de acordo com um vídeo de 14,5 minutos. As imagens reproduzem cenas de programas antigos do pastor pedindo aos fiéis, por exemplo, contribuição no valor de um aluguel, inclusive dos desempregados. Em contraposição, o vídeo apresenta o depoimento de alguns pastores que criticam a “teologia da prosperidade”. Resgata uma gravação onde Malafaia chama de “palhaço” um pastor cearense que critica a exploração dos fiéis. Como quase sempre, é difícil confirmar a autenticidade de mensagem dos Anonymous. Neste vídeo, o curioso é que os ativistas estão preocup

Malafaia diz que Feliciano é vítima do PT, gays e ateus

Para pastor Malafaia,  há um  complô  contra seu colega Silas Malafaia (foto) afirmou que são os petistas, gays e ateus que estão movendo uma campanha de descrédito contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP). Em uma nota de alerta aos pastores para que não assinem uma carta pedindo o afastamento de Feliciano da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, Malafaia disse estar em jogo, nesse caso, o interesse dos petistas que querem desviar a atenção da opinião pública para a posse de dois de seus integrantes condenados pelo crime do mensalão em uma das mais importantes comissões da Câmara. Trata-se dos deputados José Genoíno e João Paulo Cunha, que agora fazem parte da Comissão de Constituição e Justiça. “Eles [os petistas] precisavam desviar da sociedade o foco deste fato”, afirmou Malafaia. Outro motivo, segundo ele, é que Feliciano é “um ferrenho opositor dos privilégios” defendidos pelos ativistas gays, além de combater, por exemplo, a legaliza

Com 44% de ateus, Holanda usa igrejas como livrarias e cafés

Livraria Selexyz, em Maastricht Café Olivier, em Utrecht As igrejas e templos da Holanda estão cada vez mais vazios e as ordens religiosas não têm recursos para mantê-los. Por isso esses edifícios estão sendo utilizados por livrarias, cafés, salão de cabeleireiro, pistas de dança, restaurantes, casas de show e por aí vai. De acordo com pesquisa de 2007, a mais recente, os ateus compõem 44% da população holandesa; os católicos, 28%; os protestantes, 19%; os muçulmanos, 5%, e os fiéis das demais religiões, 4%. A maioria da população ainda acredita em alguma crença, mas, como ocorre em outros países, nem todos são assíduos frequentadores de celebrações e cultos religiosos. Algumas adaptações de igrejas têm sido elogiadas, como a de Maastricht, onde hoje funciona a livraria Selexyz (primeira foto acima). A arquitetura realmente impressiona. O Café Olivier (a segunda foto), em Utrecht, também ficou bonito e agradável. Ao fundo, em um mezanino, se destaca o órgão da antiga ig