Maria Fernanda Guimarães O ministro da Saúde, Nelson Luiz Sperle Teich, tem um currículo acadêmico confuso, incompleto e sem conformidade de informação nos sites apontados. Pode ser que Teich venha se somar a quatro ministros do governo Bolsonaro e ao ex-aliado do bolsonarismo, o governador Wilson Witzel do Rio de Janeiro.
MÉDICO, NELSON TEICH ALEGA
INDICADORES SOCIAIS PARA
SUSPENDER A QUARENTENA
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Mestrados e doutorados fantasiosos, imprecisões, replicações da mesma tese (autoplágio), ambiguidades e omissões utilitárias estão presentes nos currículos apresentados por esses políticos.
Todos esses políticos, claro, sustentam frequentemente discursos agressivos "pela honestidade e contra a corrupção". Afinal, corruptos e comunistas são os petralhas, os cientistas, os jornalistas, a Rede Globo, a Veja e a Folha, Le Monde, El Pais, o Washington Post e todo mundo enfim que não concorda exatamente com o que as pessoas do atual governo afirmam.
DAMARES, SALLES, VELEZ,
WEINTRAUB E WITZEL TÊM
O HÁBITO DE 'ADUBAR'
CURRÍCULOS. QUEM
SERÁ O PRÓXIMO?
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Em seu curriculo Lattes, Nelson Luiz Sperle Teich fez a última atualização em 28/08/2014. Seu ID Lattes é 6028548417253582. Na plataforma Lattes, seu vida acadêmica e a profissional não têm sequencia cronológica, o que é peculiar para um ministro obcecado por "juntar informações", "analisar dados precisos", e afirmar que é "fundamental hoje é que tenhamos mais informações ", "ter clareza sobre a doença". Clareza que falta em seu currículo.
Um currículo, aliás, que não parece o de um médico, mas de um gerente financeiro de uma casa de saúde. Exemplos da temática acadêmica: Economia da Saúde de Produtos Farmacêuticos, Considerações estatísticas em avaliações econômicas, Farmacoeconomia para tomadores de decisão, Gestão de Negócios. Ou talvez de um marqueteiro: Tendências em Cuidados de Saúde, Workshop na Avaliação Socioeconômica.
Os temas de Nelson Teich se aproximam mais a um negociante da saúde e parecem estar longe de um médico preocupado com curas.
Não por acaso, ele fala da Covid-19, usando verbos estrangeiros financiais e se refere à doença no país como quem categoriza uma ação na Bolsa: “O Brasil hoje é um dos países que melhor performa em relação à Covid, tá?", disse em seu primeiro pronunciamento oficial. Performar é um anglicismo do mercado financeiro, e significa ter bom desempenho.
Criada em 1999, a Plataforma Lattes é um site público do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), com acesso em tempo real, que integra bases de dados de currículos, de grupos de pesquisa e de instituições em um único Sistema de Informações.
Um currículo, aliás, que não parece o de um médico, mas de um gerente financeiro de uma casa de saúde. Exemplos da temática acadêmica: Economia da Saúde de Produtos Farmacêuticos, Considerações estatísticas em avaliações econômicas, Farmacoeconomia para tomadores de decisão, Gestão de Negócios. Ou talvez de um marqueteiro: Tendências em Cuidados de Saúde, Workshop na Avaliação Socioeconômica.
Os temas de Nelson Teich se aproximam mais a um negociante da saúde e parecem estar longe de um médico preocupado com curas.
Verbos estrangeiros
Não por acaso, ele fala da Covid-19, usando verbos estrangeiros financiais e se refere à doença no país como quem categoriza uma ação na Bolsa: “O Brasil hoje é um dos países que melhor performa em relação à Covid, tá?", disse em seu primeiro pronunciamento oficial. Performar é um anglicismo do mercado financeiro, e significa ter bom desempenho.
Informação que também é bastante embaçada. Para Teich, o Brasil "performa" 8,17 mortos por milhão. Mas dados do próprio Ministério da Saúde dão de conta que a mortalidade no Brasil pela Covid-19 é de 13,75 por milhão de habitantes. Ele ignora o que o técnicos da pasta defendem: a falta de testes não permite que o Brasil tenha dados precisos sobre a mortalidade real na pandemia, uma vez que há subnotificação.
Por falar em testes, assim que assumiu dia 17, Nelson Teich dobrou a meta do seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, e garantiu que ia entregar 46,2 milhões de testes na crise.
Por falar em testes, assim que assumiu dia 17, Nelson Teich dobrou a meta do seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, e garantiu que ia entregar 46,2 milhões de testes na crise.
Passada uma semana da sua gestão, o Ministério entregou parcos 2,5 milhões de testes aos 27 Estados mais o DF.
Tudo confuso
Sob o título, Nelson Teich toma posse como Ministro da Saúde, o site do Ministério da Saúde, na posse, 17 de abril, diz: "Nelson Teich possui graduação em medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e duas especializações: em Medicina Interna e em Oncologia Clínica [não informa por quais instituições, que só vão aparecer no Currículo Lattes: o INCA e o Hospital Ipanema]. Possui ainda pós-graduação em Economia da Saúde e mestrado em Avaliação Econômica de Tecnologia de Saúde pela Universidade de York, do Reino Unido. Atuou como médico no Hospital de Praia Brava, em Angra dos Reis (RJ), e no Hospital Geral de Jacarepaguá (RJ). Também é um dos fundadores do Grupo COI (Clínicas Oncológicas Integradas), que presidiu até 2018, onde também criou o Instituto de Gestão, Educação e Pesquisa, destinado a realização de pesquisas clínicas sobre câncer.
A mesma informação, ipsis literis, é publicada sob o título Nelson Teich assume Ministério da Saúde.
Sorry, page not found
O verbete Nelson Teich na Wikipedia foi criado a 16 de março de 2020, dia da demissão de Luiz Mandetta. No subtítulo Formação Acadêmica da enciclopédia online consta (até hoje, 23 de abril de 2020, consultado às 9h15, negritos nossos) a seguinte informação:
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nelson_Teich |
Ocorre que a referência 8, do tal verbete na Wikipedia, deveria conduzir a um link para a Universidade de York, no Reino Unido.
Mas não! No nome Nelson Teich, o link conduz para um texto que diz que ele é estudante de doutorado. Contudo, esse link não está no site no site da Universidade, e sim numa página de arquivamento. Conferir este link http://archive.is/iJTwE Ora, ".is" é um site na Islândia, que nada tem a ver com University of York no Reino Unido.
No entanto, no "original", ou seja no link que deveria conduzir para a University of York, aparece a mensagem Sorry, page not found. O link "original": https://www.york.ac.uk/che/staff/students/nelson-teich/
Mas não! No nome Nelson Teich, o link conduz para um texto que diz que ele é estudante de doutorado. Contudo, esse link não está no site no site da Universidade, e sim numa página de arquivamento. Conferir este link http://archive.is/iJTwE Ora, ".is" é um site na Islândia, que nada tem a ver com University of York no Reino Unido.
No entanto, no "original", ou seja no link que deveria conduzir para a University of York, aparece a mensagem Sorry, page not found. O link "original": https://www.york.ac.uk/che/staff/students/nelson-teich/
Como se pode ver pela URL, trata-se efetivamente da University of York e no Reino Unido (United King: ".uk"), Mas a página com o suposto link para o nome de de Teich não existe, ainda com que o nome Nelson Teich esteja na URL.
Confrontemos essas informações, com outras anteriores do Currículo Lattes do ministro Teich. A íntegra está aqui.
Confrontemos essas informações, com outras anteriores do Currículo Lattes do ministro Teich. A íntegra está aqui.
CADÊ OS REGISTROS? OS CURSOS
ERAM OU NÃO 'PÓS-GRADUAÇÃO'?
E OS TÍTULOS VALEM OU NÃO?
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Lattes: vários exemplos
Publicam-se na plataforma os currículos vários, desde os de jovens estudantes em iniciação científica até os de cientistas de alta projeção, em todas as áreas do conhecimento.
É verdade que se você não trabalha com desenvolvimento tecnológico, não está fazendo pesquisa científica, nem mestrado ou doutorado, nem leciona em curso superior não precisa ter seu currículo na Plataforma Lattes. Nem todo mundo tem.
Todos sabem que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi professor universitário, deu aulas inclusive fora do Brasil, até na mítica Sorbonne. Mas ele não tem seu currículo na Plataforma Lattes, aliás, criada em seu governo.
Mas muitos profissionais da geração próxima à do "professor" FHC, porém bastante ativos, organizam lá seu currículo acadêmico. Para ficar na profissão médica, citemos Angelita Habr Gama e seu marido Joaquim José Gama Rodrigues. Na área do Direito, Ronaldo Rebello de Britto Poletti e Dalmo de Abreu Dallari.
Todos esses brasileiros citados, dentre milhares de outros professores e pesquisadores com formações, experiências, fé e não-fé religiosas, valores, ideologias, preferências políticas e partidárias tão diferentes entre si têm seus currículos acadêmicos, transparentes, bem descritos, precisos e claros na Plataforma Lattes. Impecáveis. Tudo para valorizar a Ciência. Exatamente o oposto de Nelson Teich. Como ministro, ele tem que explicar esse imbróglio.
Saiba como identificar argumentações de divulgadores de pseudociência
Brasil não se pode dar ao luxo de contrapor a ciência com pseudociência
Adeptos de pseudociências danificam sua racionalidade
‘Medicina alternativa’ coloca o SUS contra a ciência, dizem estudiosas
O nome Lattes homenageia o curitibano César Mansueto Giulio Lattes (1924-2005), físico formado na USP e codescobridor do méson pi.
É verdade que se você não trabalha com desenvolvimento tecnológico, não está fazendo pesquisa científica, nem mestrado ou doutorado, nem leciona em curso superior não precisa ter seu currículo na Plataforma Lattes. Nem todo mundo tem.
Todos sabem que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi professor universitário, deu aulas inclusive fora do Brasil, até na mítica Sorbonne. Mas ele não tem seu currículo na Plataforma Lattes, aliás, criada em seu governo.
Mas muitos profissionais da geração próxima à do "professor" FHC, porém bastante ativos, organizam lá seu currículo acadêmico. Para ficar na profissão médica, citemos Angelita Habr Gama e seu marido Joaquim José Gama Rodrigues. Na área do Direito, Ronaldo Rebello de Britto Poletti e Dalmo de Abreu Dallari.
Mais novos e na ativa, o médico infectologista David Uip, o médico oncologista (como o ministro Teich), Paulo
Hoff.
Também ativos, com experiência de pesquisadores e professores universitário o físico Paulo Artaxo — o cientista brasileiro mais citado no mundo — , a cientista da Informação Cícera Henrique da Silva o jurista Alexandre de Moraes, hoje juiz membro do STF, a historiadora Mary Del Priore e até o controvertido Sérgio Moro.
Dentre os bem jovens o biólogo Átila Iamarino , a química Clarissa Piccinin Frizzo, o historiador Pedro Rennó Moreira...
Também ativos, com experiência de pesquisadores e professores universitário o físico Paulo Artaxo — o cientista brasileiro mais citado no mundo — , a cientista da Informação Cícera Henrique da Silva o jurista Alexandre de Moraes, hoje juiz membro do STF, a historiadora Mary Del Priore e até o controvertido Sérgio Moro.
Dentre os bem jovens o biólogo Átila Iamarino , a química Clarissa Piccinin Frizzo, o historiador Pedro Rennó Moreira...
Todos esses brasileiros citados, dentre milhares de outros professores e pesquisadores com formações, experiências, fé e não-fé religiosas, valores, ideologias, preferências políticas e partidárias tão diferentes entre si têm seus currículos acadêmicos, transparentes, bem descritos, precisos e claros na Plataforma Lattes. Impecáveis. Tudo para valorizar a Ciência. Exatamente o oposto de Nelson Teich. Como ministro, ele tem que explicar esse imbróglio.
Saiba como identificar argumentações de divulgadores de pseudociência
Brasil não se pode dar ao luxo de contrapor a ciência com pseudociência
Adeptos de pseudociências danificam sua racionalidade
‘Medicina alternativa’ coloca o SUS contra a ciência, dizem estudiosas
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