William Petri / The Conversation O outono está se aproximando no hemisfério norte e muitos estão se perguntando se finalmente teremos uma vacina em janeiro de 2021.
Sou um cientista médico e especialista em doenças infecciosas na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Atendo pacientes e faço pesquisas sobre Covid-19.
Ocasionalmente, sou questionado sobre como posso ter certeza de que os pesquisadores desenvolverão com sucesso uma vacina para prevenir a doença, se ainda não temos uma para o HIV, o vírus que causa a Aids.
A seguir, explico até onde as pesquisas já chegaram, onde acho que estarão em cinco meses e por que é possível acreditar que uma vacina contra Covid-19 será desenvolvida.
Algumas das pessoas que contraíram a doença podem permanecer com níveis baixos do vírus no corpo até três meses após a infecção.
Mas na maioria dos casos, após 10 dias, essas pessoas não podem mais transmitir o vírus.
Por essas razões, deveria ser muito mais fácil fazer uma vacina para o novo coronavírus do que para infecções como o HIV, que o sistema imunológico não consegue curar naturalmente.
O Sars-CoV-2 não sofre mutação da mesma maneira que o HIV, tornando muito mais fácil para o sistema imunológico controlar ou por uma vacina.
Os peplômeros são estruturas protuberantes, geralmente constituídas de glicoproteínas e lipídios, as quais são encontradas expostas na superfície do envelope viral das partículas virais de certos vírus.
O vírus precisa do peplômero para aderir, entrar nas células humanas e se reproduzir. Os pesquisadores demonstraram em laboratório que os anticorpos — como os produzidos pelo sistema imunológico humano — se ligam ao peplômero, neutralizam-no e evitam que o coronavírus infecte as células.
As vacinas demonstraram, a partir de experimentos em laboratório, gerar anticorpos que evitam que as células sejam infectadas.
Pelo menos sete empresas desenvolveram anticorpos monoclonais — anticorpos feitos em laboratório que detectam o peplômero.
Eles entraram na fase de testes clínicos para testar sua capacidade de prevenir infecções em pessoas expostas por meio do contato domiciliar, por exemplo.
Os anticorpos monoclonais também podem ser eficazes para o tratamento. Durante uma infecção, uma dose desses anticorpos pode neutralizar o vírus, dando ao sistema imunológico a chance de se reconstruir e fazer seus próprios anticorpos para combater o patógeno.
Várias partes do peplômero precisariam sofrer mutação para evitar os anticorpos neutralizantes. Muitas mutações no peplômero mudariam sua estrutura e o tornariam incapaz de se ligar à enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE2), chave para infectar células humanas.
Um dos efeitos colaterais observados no passado foi o aumento da dependência dos anticorpos para uma infecção. Isso ocorre quando os anticorpos não neutralizam o vírus, mas permitem que ele entre nas células por meio de um receptor destinado aos anticorpos.
Os pesquisadores descobriram que, quando imunizados por meio do peplômero, são produzidos altos níveis de anticorpos neutralizantes, reduzindo o risco de escalada.
Um segundo problema potencial com algumas vacinas é uma reação alérgica que causa inflamação no pulmão, como visto em pessoas que receberam uma vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR) na década de 1960.
Este efeito colateral é perigoso porque a inflamação das vias respiratórias nos pulmões pode dificultar a respiração.
No entanto, os pesquisadores aprenderam agora a desenvolver vacinas que previnem essa resposta alérgica.
A meta desse programa é entregar 300 milhões de doses de uma vacina segura e eficaz até janeiro de 2021.
O governo dos EUA investiu pesadamente, destinando US$ 8 bilhões (R$ 44 bilhões) ao desenvolvimento de sete vacinas diferentes para covid-19.
Ao financiar várias vacinas, o governo está investindo com segurança. Apenas uma delas precisa se mostrar segura e eficaz em ensaios clínicos para que esteja disponível em 2021.
Até o momento, os experimentos de laboratório com três vacinas diferentes produziram resultados promissores, desencadeando com sucesso a produção de níveis de anticorpos neutralizantes em níveis duas a quatro vezes maiores do que aqueles observados em pessoas que se recuperaram de covid-19.
A americana Moderna, a britânica Oxford e a chinesa CanSino são as três vacinas que se mostraram seguras durante os ensaios clínicos de fase 1 e 2.
A vacina produzida pela Moderna e pelo NIH dos Estados Unidos, bem como a vacina Oxford-AstraZeneca, começaram os testes de fase 3 em julho.
Outras vacinas covid-19 começarão a fase 3 em algumas semanas.
A vantagem dessa estratégia é que, uma vez que uma vacina seja comprovada como segura após os ensaios clínicos de fase 3, já haverá um pool que pode ser distribuído imediatamente sem comprometer a avaliação completa de sua segurança e eficácia.
Esta é uma abordagem mais prudente que a da Rússia, que está vacinando o público antes de provar se a vacina é segura e eficaz na fase 3.
Acho que é realista dizer que saberemos em algum momento no fim de 2020 se algumas vacinas são seguras, quão eficazes são e quais devem ser usadas para vacinar a população em 2021.
William Petri é professor de medicina na Universidade da Virgínia, nos EUA.
Link do texto original publicado pelo site The Conversation. Foto de Marcelo Camargo / Agência Brasil.
Sou um cientista médico e especialista em doenças infecciosas na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Atendo pacientes e faço pesquisas sobre Covid-19.
Ocasionalmente, sou questionado sobre como posso ter certeza de que os pesquisadores desenvolverão com sucesso uma vacina para prevenir a doença, se ainda não temos uma para o HIV, o vírus que causa a Aids.
A seguir, explico até onde as pesquisas já chegaram, onde acho que estarão em cinco meses e por que é possível acreditar que uma vacina contra Covid-19 será desenvolvida.
1. Nosso sistema imunológico combate a Covid-19 com sucesso
Em 99% de todos os casos positivos para Covid-19, os pacientes se recuperam da infecção e o corpo elimina o vírus.Algumas das pessoas que contraíram a doença podem permanecer com níveis baixos do vírus no corpo até três meses após a infecção.
Mas na maioria dos casos, após 10 dias, essas pessoas não podem mais transmitir o vírus.
Por essas razões, deveria ser muito mais fácil fazer uma vacina para o novo coronavírus do que para infecções como o HIV, que o sistema imunológico não consegue curar naturalmente.
O Sars-CoV-2 não sofre mutação da mesma maneira que o HIV, tornando muito mais fácil para o sistema imunológico controlar ou por uma vacina.
2. Os anticorpos evitam a infecção
Uma vacina nos protegerá, em parte, ao estimular a produção de anticorpos contra uma parte específica do Sars-CoV-2: os peplômeros.Os peplômeros são estruturas protuberantes, geralmente constituídas de glicoproteínas e lipídios, as quais são encontradas expostas na superfície do envelope viral das partículas virais de certos vírus.
O vírus precisa do peplômero para aderir, entrar nas células humanas e se reproduzir. Os pesquisadores demonstraram em laboratório que os anticorpos — como os produzidos pelo sistema imunológico humano — se ligam ao peplômero, neutralizam-no e evitam que o coronavírus infecte as células.
As vacinas demonstraram, a partir de experimentos em laboratório, gerar anticorpos que evitam que as células sejam infectadas.
Pelo menos sete empresas desenvolveram anticorpos monoclonais — anticorpos feitos em laboratório que detectam o peplômero.
Eles entraram na fase de testes clínicos para testar sua capacidade de prevenir infecções em pessoas expostas por meio do contato domiciliar, por exemplo.
Os anticorpos monoclonais também podem ser eficazes para o tratamento. Durante uma infecção, uma dose desses anticorpos pode neutralizar o vírus, dando ao sistema imunológico a chance de se reconstruir e fazer seus próprios anticorpos para combater o patógeno.
3. A glicoproteína da espícula tem vários pontos fracos
Os anticorpos podem se ligar e neutralizar o vírus em muitos lugares no peplômero, o que é uma boa notícia porque, com tantas vulnerabilidades, será difícil para o vírus sofrer mutação que inviabilize a vacina.Várias partes do peplômero precisariam sofrer mutação para evitar os anticorpos neutralizantes. Muitas mutações no peplômero mudariam sua estrutura e o tornariam incapaz de se ligar à enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE2), chave para infectar células humanas.
4. Sabemos como fazer uma vacina segura
Quando os pesquisadores entendem os possíveis efeitos colaterais da vacina e como evitá-los, a vacina se torna mais segura.Um dos efeitos colaterais observados no passado foi o aumento da dependência dos anticorpos para uma infecção. Isso ocorre quando os anticorpos não neutralizam o vírus, mas permitem que ele entre nas células por meio de um receptor destinado aos anticorpos.
Os pesquisadores descobriram que, quando imunizados por meio do peplômero, são produzidos altos níveis de anticorpos neutralizantes, reduzindo o risco de escalada.
Um segundo problema potencial com algumas vacinas é uma reação alérgica que causa inflamação no pulmão, como visto em pessoas que receberam uma vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR) na década de 1960.
Este efeito colateral é perigoso porque a inflamação das vias respiratórias nos pulmões pode dificultar a respiração.
No entanto, os pesquisadores aprenderam agora a desenvolver vacinas que previnem essa resposta alérgica.
5. Existem várias vacinas em desenvolvimento
O governo dos Estados Unidos está apoiando o desenvolvimento de várias vacinas por meio da Operação Warp Speed.A meta desse programa é entregar 300 milhões de doses de uma vacina segura e eficaz até janeiro de 2021.
O governo dos EUA investiu pesadamente, destinando US$ 8 bilhões (R$ 44 bilhões) ao desenvolvimento de sete vacinas diferentes para covid-19.
Ao financiar várias vacinas, o governo está investindo com segurança. Apenas uma delas precisa se mostrar segura e eficaz em ensaios clínicos para que esteja disponível em 2021.
6. Já existem vacinas que passaram nas fases 1 e 2
As fases 1 e 2 testam se uma vacina é segura e induz uma resposta imunológica.Até o momento, os experimentos de laboratório com três vacinas diferentes produziram resultados promissores, desencadeando com sucesso a produção de níveis de anticorpos neutralizantes em níveis duas a quatro vezes maiores do que aqueles observados em pessoas que se recuperaram de covid-19.
A americana Moderna, a britânica Oxford e a chinesa CanSino são as três vacinas que se mostraram seguras durante os ensaios clínicos de fase 1 e 2.
7. Os ensaios clínicos de fase 3 já estão em andamento
Durante um ensaio de fase 3, a etapa final do processo, a vacina é testada em dezenas de milhares de pessoas para determinar se funciona e previne com segurança a infecção por Sars-CoV-2.A vacina produzida pela Moderna e pelo NIH dos Estados Unidos, bem como a vacina Oxford-AstraZeneca, começaram os testes de fase 3 em julho.
Outras vacinas covid-19 começarão a fase 3 em algumas semanas.
8. Aceleração da produção e implantação de vacinas
A Operação Warp Speed pagou pela produção de milhões de doses de vacinas e apoia a fabricação delas em escala industrial antes mesmo de os pesquisadores provarem sua eficácia e quão seguras são.A vantagem dessa estratégia é que, uma vez que uma vacina seja comprovada como segura após os ensaios clínicos de fase 3, já haverá um pool que pode ser distribuído imediatamente sem comprometer a avaliação completa de sua segurança e eficácia.
Esta é uma abordagem mais prudente que a da Rússia, que está vacinando o público antes de provar se a vacina é segura e eficaz na fase 3.
9. Distribuidores de vacinas já foram contratados
A McKesson Corp., a maior distribuidora de vacinas na dos EUA, já foi contratada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) para distribuir a vacina contra covid-19 nos locais em que ela será administrada, como hospitais e clínicas.Acho que é realista dizer que saberemos em algum momento no fim de 2020 se algumas vacinas são seguras, quão eficazes são e quais devem ser usadas para vacinar a população em 2021.
William Petri é professor de medicina na Universidade da Virgínia, nos EUA.
Link do texto original publicado pelo site The Conversation. Foto de Marcelo Camargo / Agência Brasil.
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