Pular para o conteúdo principal

9 razões para se acreditar que haverá vacina contra a Covid-19 em 2021

William Petri / The Conversation    O outono está se aproximando no hemisfério norte e muitos estão se perguntando se finalmente teremos uma vacina em janeiro de 2021.

Sou um cientista médico e especialista em doenças infecciosas na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Atendo pacientes e faço pesquisas sobre Covid-19.

Ocasionalmente, sou questionado sobre como posso ter certeza de que os pesquisadores desenvolverão com sucesso uma vacina para prevenir a doença, se ainda não temos uma para o HIV, o vírus que causa a Aids.
A seguir, explico até onde as pesquisas já chegaram, onde acho que estarão em cinco meses e por que é possível acreditar que uma vacina contra Covid-19 será desenvolvida.

1. Nosso sistema imunológico combate a Covid-19 com sucesso

Em 99% de todos os casos positivos para Covid-19, os pacientes se recuperam da infecção e o corpo elimina o vírus.

Algumas das pessoas que contraíram a doença podem permanecer com níveis baixos do vírus no corpo até três meses após a infecção.

Mas na maioria dos casos, após 10 dias, essas pessoas não podem mais transmitir o vírus.

Por essas razões, deveria ser muito mais fácil fazer uma vacina para o novo coronavírus do que para infecções como o HIV, que o sistema imunológico não consegue curar naturalmente.

O Sars-CoV-2 não sofre mutação da mesma maneira que o HIV, tornando muito mais fácil para o sistema imunológico controlar ou por uma vacina.

2. Os anticorpos evitam a infecção

Uma vacina nos protegerá, em parte, ao estimular a produção de anticorpos contra uma parte específica do Sars-CoV-2: os peplômeros.

Os peplômeros são estruturas protuberantes, geralmente constituídas de glicoproteínas e lipídios, as quais são encontradas expostas na superfície do envelope viral das partículas virais de certos vírus.

O vírus precisa do peplômero para aderir, entrar nas células humanas e se reproduzir. Os pesquisadores demonstraram em laboratório que os anticorpos — como os produzidos pelo sistema imunológico humano — se ligam ao peplômero, neutralizam-no e evitam que o coronavírus infecte as células.

As vacinas demonstraram, a partir de experimentos em laboratório, gerar anticorpos que evitam que as células sejam infectadas.

Pelo menos sete empresas desenvolveram anticorpos monoclonais — anticorpos feitos em laboratório que detectam o peplômero.

Eles entraram na fase de testes clínicos para testar sua capacidade de prevenir infecções em pessoas expostas por meio do contato domiciliar, por exemplo.

Os anticorpos monoclonais também podem ser eficazes para o tratamento. Durante uma infecção, uma dose desses anticorpos pode neutralizar o vírus, dando ao sistema imunológico a chance de se reconstruir e fazer seus próprios anticorpos para combater o patógeno.

3. A glicoproteína da espícula tem vários pontos fracos

Os anticorpos podem se ligar e neutralizar o vírus em muitos lugares no peplômero, o que é uma boa notícia porque, com tantas vulnerabilidades, será difícil para o vírus sofrer mutação que inviabilize a vacina.

Várias partes do peplômero precisariam sofrer mutação para evitar os anticorpos neutralizantes. Muitas mutações no peplômero mudariam sua estrutura e o tornariam incapaz de se ligar à enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE2), chave para infectar células humanas.

4. Sabemos como fazer uma vacina segura

Quando os pesquisadores entendem os possíveis efeitos colaterais da vacina e como evitá-los, a vacina se torna mais segura.

Um dos efeitos colaterais observados no passado foi o aumento da dependência dos anticorpos para uma infecção. Isso ocorre quando os anticorpos não neutralizam o vírus, mas permitem que ele entre nas células por meio de um receptor destinado aos anticorpos.

Os pesquisadores descobriram que, quando imunizados por meio do peplômero, são produzidos altos níveis de anticorpos neutralizantes, reduzindo o risco de escalada.

Um segundo problema potencial com algumas vacinas é uma reação alérgica que causa inflamação no pulmão, como visto em pessoas que receberam uma vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR) na década de 1960.

Este efeito colateral é perigoso porque a inflamação das vias respiratórias nos pulmões pode dificultar a respiração.

No entanto, os pesquisadores aprenderam agora a desenvolver vacinas que previnem essa resposta alérgica.

5. Existem várias vacinas em desenvolvimento

O governo dos Estados Unidos está apoiando o desenvolvimento de várias vacinas por meio da Operação Warp Speed.

A meta desse programa é entregar 300 milhões de doses de uma vacina segura e eficaz até janeiro de 2021.

O governo dos EUA investiu pesadamente, destinando US$ 8 bilhões (R$ 44 bilhões) ao desenvolvimento de sete vacinas diferentes para covid-19.

Ao financiar várias vacinas, o governo está investindo com segurança. Apenas uma delas precisa se mostrar segura e eficaz em ensaios clínicos para que esteja disponível em 2021.

6. Já existem vacinas que passaram nas fases 1 e 2

As fases 1 e 2 testam se uma vacina é segura e induz uma resposta imunológica.

Até o momento, os experimentos de laboratório com três vacinas diferentes produziram resultados promissores, desencadeando com sucesso a produção de níveis de anticorpos neutralizantes em níveis duas a quatro vezes maiores do que aqueles observados em pessoas que se recuperaram de covid-19.

A americana Moderna, a britânica Oxford e a chinesa CanSino são as três vacinas que se mostraram seguras durante os ensaios clínicos de fase 1 e 2.

7. Os ensaios clínicos de fase 3 já estão em andamento

Durante um ensaio de fase 3, a etapa final do processo, a vacina é testada em dezenas de milhares de pessoas para determinar se funciona e previne com segurança a infecção por Sars-CoV-2.

A vacina produzida pela Moderna e pelo NIH dos Estados Unidos, bem como a vacina Oxford-AstraZeneca, começaram os testes de fase 3 em julho.

Outras vacinas covid-19 começarão a fase 3 em algumas semanas.

8. Aceleração da produção e implantação de vacinas

A Operação Warp Speed pagou pela produção de milhões de doses de vacinas e apoia a fabricação delas em escala industrial antes mesmo de os pesquisadores provarem sua eficácia e quão seguras são.

A vantagem dessa estratégia é que, uma vez que uma vacina seja comprovada como segura após os ensaios clínicos de fase 3, já haverá um pool que pode ser distribuído imediatamente sem comprometer a avaliação completa de sua segurança e eficácia.

Esta é uma abordagem mais prudente que a da Rússia, que está vacinando o público antes de provar se a vacina é segura e eficaz na fase 3.

9. Distribuidores de vacinas já foram contratados

A McKesson Corp., a maior distribuidora de vacinas na dos EUA, já foi contratada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) para distribuir a vacina contra covid-19 nos locais em que ela será administrada, como hospitais e clínicas.

Acho que é realista dizer que saberemos em algum momento no fim de 2020 se algumas vacinas são seguras, quão eficazes são e quais devem ser usadas para vacinar a população em 2021.

William Petri é professor de medicina na Universidade da Virgínia, nos EUA.

Link do texto original publicado pelo site The Conversation. Foto de Marcelo Camargo /  Agência Brasil.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê