> RICARDO OLIVEIRA DA SILVA O dia 12 de fevereiro é comemorado por muitos ateus e ateias, em diversas partes do mundo, como “o dia do orgulho ateu”. Essa data é uma referência ao nascimento do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882).
No meu ponto de vista essa data pode estimular uma reflexão sobre o que é ser ateu/ateia e a realidade que vivenciam no seu cotidiano, muitas vezes marcada por preconceitos e hostilidades. Isso pode ser verificado ao se pensar na dificuldade que muitas pessoas ainda encontram para expor publicamente sua descrença na existência de Deus.
Aqui proponho um raciocínio: qual o percentual da população ateia no Brasil? Aparentemente não é difícil responder essa questão.
No meu livro O ateísmo no Brasil, apresentei uma resposta a partir dos dados do IBGE. O último Censo, realizado em 2010, revelou que 0,32% da população se declarou ateia, o que correspondeu ao total de 615 mil indivíduos, e 0,07% afirmaram serem agnósticas, totalizando um grupo de 124,4 mil pessoas.
O percentual de ateus e agnósticos indicado pelo Censo de 2010 é diminuto. Contudo, não se deve descartar uma subnotificação nos números colhidos naquele momento, assim como nos dias de hoje, pois ele trabalha apenas com as respostas das pessoas que conseguem expor sua descrença e dúvida sobre a existência de qualquer tipo de divindade.
A sociedade brasileira, forjada na religiosidade católica por séculos, desenvolveu a ideia de que Deus é a força que sustenta a existência humana e a fonte de toda justiça e bondade.
Conforme indica a pesquisadora Paula Montero (2011, p. 03) “a figura do ateu, o oposto inverso ao homem religioso, é tida com desconfiança por sua falta de fé, percebida como recusa em estabelece relações de reciprocidade e aliança com a esfera sobrenatural [...]. ”
Essa característica religiosa na formação da sociedade brasileira ajuda a explicar o fato de que muitas pessoas não se sentem confortáveis em se declararem ateias. A hostilidade no seio familiar, por parte de amigos ou no ambiente de trabalho, é uma possibilidade concreta, como se pode verificar em depoimentos de ateus e ateias na internet.
Por isso não é incomum que ateus e ateias muitas vezes prefiram dizer que não possuem religião, deixando com isso implícito a ideia de acreditarem em Deus. Mas isso não é uma exclusividade da realidade brasileira. Phil Zuckerman chegou em resultado similar a partir de pesquisas em países europeus no início desse século.
Assim, se 41% dos noruegueses, 48% dos franceses e 54% dos checos afirmaram não acreditar em Deus, apenas 10%, 19% e 20% dos inqueridos se identificaram com o ateísmo.
Para Phil Zuckerman (2010, p. 65) “a designação ‘ateu’ está estigmatizada em muitas sociedades; mesmo quando as pessoas afirmam diretamente não acreditar em Deus, evitam designar-se como ateias”.
O fato das pessoas terem dificuldade e receio de se assumirem como ateias, por temor de represálias, censuras e discriminações, é sintomático da necessidade de um dia do orgulho ateu como forma de contribuir para conscientizar e combater o preconceito que a palavra ateísmo ainda desperta em muitas pessoas.
Por isso eu digo: feliz 12/02 ateus e ateias!!!
> Ricardo Oliveira da Silva é professor do Curso de História da UFMS.
No meu ponto de vista essa data pode estimular uma reflexão sobre o que é ser ateu/ateia e a realidade que vivenciam no seu cotidiano, muitas vezes marcada por preconceitos e hostilidades. Isso pode ser verificado ao se pensar na dificuldade que muitas pessoas ainda encontram para expor publicamente sua descrença na existência de Deus.
Aqui proponho um raciocínio: qual o percentual da população ateia no Brasil? Aparentemente não é difícil responder essa questão.
No meu livro O ateísmo no Brasil, apresentei uma resposta a partir dos dados do IBGE. O último Censo, realizado em 2010, revelou que 0,32% da população se declarou ateia, o que correspondeu ao total de 615 mil indivíduos, e 0,07% afirmaram serem agnósticas, totalizando um grupo de 124,4 mil pessoas.
O percentual de ateus e agnósticos indicado pelo Censo de 2010 é diminuto. Contudo, não se deve descartar uma subnotificação nos números colhidos naquele momento, assim como nos dias de hoje, pois ele trabalha apenas com as respostas das pessoas que conseguem expor sua descrença e dúvida sobre a existência de qualquer tipo de divindade.
A sociedade brasileira, forjada na religiosidade católica por séculos, desenvolveu a ideia de que Deus é a força que sustenta a existência humana e a fonte de toda justiça e bondade.
Conforme indica a pesquisadora Paula Montero (2011, p. 03) “a figura do ateu, o oposto inverso ao homem religioso, é tida com desconfiança por sua falta de fé, percebida como recusa em estabelece relações de reciprocidade e aliança com a esfera sobrenatural [...]. ”
Essa característica religiosa na formação da sociedade brasileira ajuda a explicar o fato de que muitas pessoas não se sentem confortáveis em se declararem ateias. A hostilidade no seio familiar, por parte de amigos ou no ambiente de trabalho, é uma possibilidade concreta, como se pode verificar em depoimentos de ateus e ateias na internet.
Por isso não é incomum que ateus e ateias muitas vezes prefiram dizer que não possuem religião, deixando com isso implícito a ideia de acreditarem em Deus. Mas isso não é uma exclusividade da realidade brasileira. Phil Zuckerman chegou em resultado similar a partir de pesquisas em países europeus no início desse século.
Assim, se 41% dos noruegueses, 48% dos franceses e 54% dos checos afirmaram não acreditar em Deus, apenas 10%, 19% e 20% dos inqueridos se identificaram com o ateísmo.
Para Phil Zuckerman (2010, p. 65) “a designação ‘ateu’ está estigmatizada em muitas sociedades; mesmo quando as pessoas afirmam diretamente não acreditar em Deus, evitam designar-se como ateias”.
O fato das pessoas terem dificuldade e receio de se assumirem como ateias, por temor de represálias, censuras e discriminações, é sintomático da necessidade de um dia do orgulho ateu como forma de contribuir para conscientizar e combater o preconceito que a palavra ateísmo ainda desperta em muitas pessoas.
Por isso eu digo: feliz 12/02 ateus e ateias!!!
> Ricardo Oliveira da Silva é professor do Curso de História da UFMS.
Comentários
Postar um comentário