Pular para o conteúdo principal

Bispo faz vereador recuar de projeto para fim de leitura da Bíblia na Câmara

Que Estado laico é esse?

PAULO LOPES, jornalista

O vereador Djalma Nery (PSOL), de São Carlos (SP), apresentou um projeto exemplar, estabelecendo que a Câmara Municipal substitua no início das sessões a leitura da Bíblia por trechos da Constituição e sejam retirados do plenário os símbolos religiosos. Exemplar porque pode encorajar vereadores de outras cidades a fazerem o mesmo.

Mas bastou uma conversa com o bispo auxiliar dom Eduardo Malaspina para que o vereador retirasse provisoriamente (segundo ele) o projeto de pauta, mesmo sabendo não haver na Câmara votos para aprová-lo.

Nery disse que não desistiu (será?) e que agora vai promover uma consulta pública, para a reapresentação do projeto.

A rigor, não haveria necessidade disso, porque a Constituição já diz que o Estado é laico, e nenhuma discussão pública pode mudar isso, mas a iniciativa do vereador, se ele efetuar, é válida porque colocará em discussão a fragilidade da laicidade brasileira.

São Carlos tem 250 mil habitantes e fica a 231 km de São Paulo. É cidade desenvolvida, universidade, do campus da USP e Ufscar. Se ali os religiosos se impõem à administração publica, é de se imaginar o que ocorre nos grotões do Brasil.

Nery anunciou que pretende ampliar a sua proposta, de modo a permitir não só a leitura da Bíblia como a de livros sagrados de religiões não cristãs e textos filosóficos e de reflexão. 

Não consigo imaginar um vereador abrindo uma sessão com a leitura de um texto do candomblé ou de um texto fulminante do ateu Christopher Hitchens.

O bispo Malaspina não deixaria.

Nery, o retórico

Pelo Youtube, o vereador Nery acrescentou novas informações, como segue:

"Paulo Lopes Excelente texto! Aproveito para esclarecer que o nosso pedido de retirada do projeto da pauta foi negado, portanto ele foi a voto e rejeitado por 17 a 2. Isso quer dizer que ele não pode ser mais apresentado nessa legislatura (até 2024), só na próxima.

De qualquer forma, nossa perspectiva já era, após a consulta pública (que servirá para aprofundar o debate com a sociedade) apresentar uma proposta diferente da que foi votada (isso é permitido), indo pela inclusiva e não pela restritiva, como era o projeto original. E reforço aqui a certeza de que é isso que faremos, sem a menor sombra de dúvidas.

No mais, o bispo não tem que autorizar ou desautorizar nada. Cada vereador terá a oportunidade de votar novamente neste nosso outro projeto de resolução, e poderá defender suas posições e justificar seus votos.

Nosso mandato não é pautado por igrejas, religiões ou lideranças eclesiais, pelo contrário. O movimento de solicitar a retirada era para manter a possibilidade de que esse projeto pudesse ser apresentado e para evitar um processo de votação cujo resultado já era conhecido, apostando no acúmulo de forças e na adequação do escopo para buscarmos a aprovação e consequentemente o avanço em nosso regimento interno."

> Com informação e foto do Facebook. 

Estado laico brasileiro foi criado em 1890, mas ele ainda é frágil 


Igrejas que exploram pobres ferem Estado laico, afirma juiz


Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Reação de aluno ateu a bullying acaba com pai-nosso na escola

O estudante já vinha sendo intimidado O estudante Ciel Vieira (foto), 17, de Miraí (MG), não se conformava com a atitude da professora de geografia Lila Jane de Paula de iniciar a aula com um pai-nosso. Um dia, ele se manteve em silêncio, o que levou a professora a dizer: “Jovem que não tem Deus no coração nunca vai ser nada na vida”. Era um recado para ele. Na classe, todos sabem que ele é ateu. A escola se chama Santo  Antônio e é do ensino estadual de Minas. Miraí é uma cidade pequena. Tem cerca de 14 mil habitantes e fica a 300 km de Belo Horizonte. Quando houve outra aula, Ciel disse para a professora que ela estava desrespeitando a Constituição que determina a laicidade do Estado. Lila afirmou não existir nenhuma lei que a impeça de rezar, o que ela faz havia 25 anos e que não ia parar, mesmo se ele levasse um juiz à sala de aula. Na aula seguinte, Ciel chegou atrasado, quando a oração estava começando, e percebeu ele tinha sido incluído no pai-nosso. Aparentemen...

Pai-nosso nas escolas de Rio Preto afronta o Estado laico. Escolas não são templos cristãos

Caso Roger Abdelmassih

Violência contra a mulher Liminar concede transferência a Abelmassih para hospital penitenciário 23 de novembro de 2021  Justiça determina que o ex-médico Roger Abdelmassih retorne ao presídio 29 de julho de 2021 Justiça concede prisão domiciliar ao ex-médico condenado por 49 estupros   5 de maio de 2021 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico Abdelmassih 26 de fevereiro de 2021 Corte de Direitos Humanos vai julgar Brasil por omissão no caso de Abdelmassih 6 de janeiro de 2021 Detento ataca ex-médico Roger Abdelmassih em hospital penitenciário 21 de outubro de 2020 Tribunal determina que Abdelmassih volte a cumprir pena em prisão fechada 29 de agosto de 2020 Abdelmassih obtém prisão domicililar por causa do coronavírus 14 de abril de 2020 Vicente Abdelmassih entra na Justiça para penhorar bens de seu pai 20 de dezembro de 2019 Lewandowski nega pedido de prisão domiciliar ao ex-médico estuprador 19 de novembro de 2019 Justiça cancela prisão domi...

Conar cede a religiosos e veta Jesus de anúncio da Red Bull

Mostrar Jesus andando no rio é uma 'ofensa ' O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) se curvou diante da censura religiosa e suspendeu o anúncio da Red Bull que apresenta uma versão bem humorada de um dos milagres de Jesus. Ao analisar cerca de 200 reclamações, o órgão concluiu que o anúncio “desrespeita um objeto da fé religiosa”. O “desrespeito” foi Jesus ter dito que, na verdade, ele não andou sobre as águas, mas sobre as pedras que estavam no rio. Religiosos creem em milagres, mas impor essa crença a um anúncio é atentar contra a liberdade de expressão de uma sociedade constituída pela diversidade cultural e religiosa. O pior é que, pela decisão do Conar, a censura se estende aos futuros anúncios da Red Bull, os quais não poderão “seguir a mesma linha criativa”. Ou seja, a censura religiosa adotada pelo Conar “matou”, nesse caso, a criatividade antes mesmo de sua concepção — medida típica de regimes teocráticos. "Jesus...

No no no no no no no no no

No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no Referente à condenação de padre pastor por violentar uma jovem, o antigo texto deste espaço foi publicado em 2008 e o sistema de publicidade em 2020 o considerou "conteúdo perigoso ou depreciativo", pedinho  alteração em sua íntegra para que continuasse a exibição de anúncios.  Não havia nada de perigo ou depreciativo na reportagem, apenas o relato do que ocorreu, Jornalismo puro. No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no No no no no no no no no no 

Verdades absolutas da religião são incompatíveis com a política

por Marcelo Semer para o Terra Magazine   Dogmas religiosos não estão sob o  escrutínio popular No afã de defender Marco Feliciano das críticas recebidas por amplos setores da sociedade, o blogueiro de Veja, Reinaldo Azevedo, disse que era puro preconceito o fato de ele ser constantemente chamado de pastor. Infelizmente não é. Pastor Marco Feliciano é o nome regimental do deputado, como está inscrito na Câmara e com o qual disputou as últimas eleições. Há vários casos de candidatos que acrescentam a sua profissão como forma de maior identificação com o eleitorado, como o Professor Luizinho ou ainda a Juíza Denise Frossard. Marco Feliciano não está na mesma situação –sua evocação é um claro chamado para o ingresso da religião na política, que arrepia a quem quer que ainda guarde a esperança de manter intacta a noção de estado laico. A religião pode até ser um veículo para a celebração do bem comum, mas seu espaço é nitidamente diverso. Na democracia, ...

Drauzio Varella afirma por que ateus despertam a ira de religiosos

Americanos sem religião param de crescer, mas eles tendem a ter maior influência política

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores