As negras eram incentivadas a terem muitos filhos
PAULO LOPES
PAULO LOPES
jornalista
Um historiador escreveu um livro sobre algo que se esconde dos estudantes e dos frequentadores de missa: a Igreja Católica do Brasil tinha escravizados, muitos.
Pode-se argumentar que não podia ser diferente porque a Igreja, como instituição na época do sistema do poder, não se interessava em estar à frente do seu tempo (aliás, se mantém estacionada até hoje).
Ademais, é importante: a Igreja lucrava com os negros e não se sentia incomodada com isso, até porque não há na Bíblia sequer uma vírgula contra a escravidão, muito pelo contrário.
Vitor Hugo Monteiro Franco conta em seu livro ‘Escravos da Religião’ que os negros das ordens religiosas tinham poucas chances de comprar sua alforria, em relação àqueles que estavam submetidos aos senhores laicos, geralmente fazendeiros.
Negros que trabalhavam nos mosteiros e terras das ordens religiosas pertenciam a uma instituição onde as decisões eram tomadas por um colegiado, e não por uma única pessoa, como o dono de fazenda, que não dependia de consenso.
"Escravos da religião" tinham uma vida diferenciada em relação a outros negros. Eram batizados obrigatoriamente, tinham de frequentar missas, ouvir sermões que eventualmente diziam que todos são iguais perante a Deus.
O historiador relata que quem resistia à conversão era submetido a castigos exemplares, até que aceitasse Jesus.
“Os monges conheciam cada momento, cada fase da vida dos seus escravizados. Por mais que as propriedades fossem enormes, eles tinham o controle administrativo sobre aquelas pessoas, diferentemente dos senhores leigos, que muitas vezes tinham um contato muito pequeno com os escravizados”, diz Franco em entrevista à BBC News.
O cotidiano dos escravizados era "regulado" pelos rituais católicos e vida monástica.
Franco deu ao seu livro o nome de "Escravo da religião" porque era assim que os negros eram chamados pelos monges, de acordo com registros da Ordem de São Bento. Essa foi uma das primeiras descobertas que ele fez em suas pesquisas.
Havia incentivo para que as escravizadas tivessem muitos filhos, pelo menos seis, de modo a serem poupadas de trabalhos pesados. Assim, as ordens obtinham uma boa "produção" de mão-de-obra, para reposição e aumento de seus escravizados.
Como quase sempre não tinham o mesmo pai, os filhos eram registrados como de 'mães solteiras', embora para a Igreja gravidez sem casamento é pecado.
Jesuítas, beneditinos e carmelitas eram as ordens que mais tinham negros. Os beneditos, por exemplo, possuíam em torno de 4 mil.
As ordens se anteciparam em 17 anos à Lei Áurea, libertando seus escravizados em 1871 — mérito delas. Mas nos dias atuais expurgaram os negros de sua história. Ou pelo menos fingem que nada aconteceu.
> Com informação do livro ‘Escravos da Religião’, da BBC News e de outras fontes.
Jesus não fez objeção à prática da escravidão, afirma Harris
Pode-se argumentar que não podia ser diferente porque a Igreja, como instituição na época do sistema do poder, não se interessava em estar à frente do seu tempo (aliás, se mantém estacionada até hoje).
Ademais, é importante: a Igreja lucrava com os negros e não se sentia incomodada com isso, até porque não há na Bíblia sequer uma vírgula contra a escravidão, muito pelo contrário.
Vitor Hugo Monteiro Franco conta em seu livro ‘Escravos da Religião’ que os negros das ordens religiosas tinham poucas chances de comprar sua alforria, em relação àqueles que estavam submetidos aos senhores laicos, geralmente fazendeiros.
Negros que trabalhavam nos mosteiros e terras das ordens religiosas pertenciam a uma instituição onde as decisões eram tomadas por um colegiado, e não por uma única pessoa, como o dono de fazenda, que não dependia de consenso.
"Escravos da religião" tinham uma vida diferenciada em relação a outros negros. Eram batizados obrigatoriamente, tinham de frequentar missas, ouvir sermões que eventualmente diziam que todos são iguais perante a Deus.
O historiador relata que quem resistia à conversão era submetido a castigos exemplares, até que aceitasse Jesus.
“Os monges conheciam cada momento, cada fase da vida dos seus escravizados. Por mais que as propriedades fossem enormes, eles tinham o controle administrativo sobre aquelas pessoas, diferentemente dos senhores leigos, que muitas vezes tinham um contato muito pequeno com os escravizados”, diz Franco em entrevista à BBC News.
O cotidiano dos escravizados era "regulado" pelos rituais católicos e vida monástica.
Franco deu ao seu livro o nome de "Escravo da religião" porque era assim que os negros eram chamados pelos monges, de acordo com registros da Ordem de São Bento. Essa foi uma das primeiras descobertas que ele fez em suas pesquisas.
Havia incentivo para que as escravizadas tivessem muitos filhos, pelo menos seis, de modo a serem poupadas de trabalhos pesados. Assim, as ordens obtinham uma boa "produção" de mão-de-obra, para reposição e aumento de seus escravizados.
Como quase sempre não tinham o mesmo pai, os filhos eram registrados como de 'mães solteiras', embora para a Igreja gravidez sem casamento é pecado.
Jesuítas, beneditinos e carmelitas eram as ordens que mais tinham negros. Os beneditos, por exemplo, possuíam em torno de 4 mil.
As ordens se anteciparam em 17 anos à Lei Áurea, libertando seus escravizados em 1871 — mérito delas. Mas nos dias atuais expurgaram os negros de sua história. Ou pelo menos fingem que nada aconteceu.
Ordens eram grandes proprietárias de escravizados |
> Com informação do livro ‘Escravos da Religião’, da BBC News e de outras fontes.
Comentários
Postar um comentário