Suposto espírito de vítima da boate Kiss pediu que réus fossem absolvidos
PAULO LOPES
Saiba por que o espiritismo kardecista é a alma da pseudociência no Brasil
PAULO LOPES
jornalista
Por homicídio e tentativa de homicídio simples, a Justiça condenou na sexta-feira (10) os quatro réus acusados pela morte 242 pessoas no incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), na madruga de 27 de janeiro de 2013.
Apesar da dimensão da tragédia, do sofrimento das vítimas e de seus familiares, sem paralelo no Brasil, a advogada Tatiana Borsa, 51, se tornou a protagonista em um momento do Tribunal do Júri ao recorrer ao mundo do além em defesa de um réu, Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira.
A advogada exibiu um vídeo com a leitura de uma carta psicografada de uma vítima pedindo que os réus fossem declarados inocentes.
A bizarrice que equiparou o tribunal a um centro espírita ocorreu no dia 9. Com fundo musical e voz empostada, um locutor leu a mensagem do suposto espírito pedindo que os réus fossem inocentados.
Disse: “Ao invés [sic] de gastar nosso pensamento procurando por culpados, vamos nos unir em oração”.
Continuou: “Procurem aceitar as determinações divinas. Eu também lamento tudo que ocorreu, mas só me resta me readaptar à realidade”.
Chocados, alguns parentes de vítimas deixaram a sessão no tribunal de Porto Alegre.
É curioso que, entre tantos "descarnados" (no jargão espírita) na tragédia, Borsa tenha tido acesso a um deles que inocenta os réus, e não a um espírito favorável à condenação.
Compreende-se a dor extrema da mãe que procurou entrar em contato com o suposto espírito do seu filho, e essa "comunicação" acabou sendo utilizada pela advogada. Mas as mães que esperavam por uma condenação dos réus também merecem compreensão.
Em alguns casos, como o de agora, quando se recorre à justiça divina é para escapar da justiça dos homens.
Espíritas acreditam, obviamente, em espíritos, é uma religião, uma crença, sendo, portanto, de fórum íntimo. Não é uma questão do direito penal de um país laico.
O teatro de absurdo da advogada saiu pela culatra porque a promotoria, para rebater o testemunho vindo do outro mundo, apresentou aos jurados um depoimento de uma "pessoa viva" que testemunhou a morte de vítimas pelas chamas e asfixia causada pela fumaça.
A rede social, implacável como é, condenou Borsa ao ridículo, atingindo também a advocacia, justiça e espiritismo. Segue um pouco das centenas de manifestações no Twitter, algumas delas preconceituosas.
— O Estado laico serve para impedir que aberrações como essa norteiem as decisões do Judiciário. Todo respeito ao espiritismo. Mas o livro dos espíritos deve embasar as ações do kardecismo, e a Constituição e as leis ordinárias, os atos dos tribunais.
— Tudo virou um esquete do Porta dos Fundos.
— Depois da análise de mapa astral em entrevista de emprego, agora é a vez de psicografia em tribunal do júri. Por isso que não dá mais para tratar esse tipo de coisa como anedótica ou inofensiva. A luta contra isso tem de ser diária.
— Por que todo espírito chama a mãe de mãezinha?
— Brasil virou piada pronta.
— Essa é a 'justiça" brasileira.
— Chico Xavier e suas consequências desastrosas para o Brasil.
— Os maiores charlatões são religiosos, sem dúvida.
— Eu perdi meu primo nessa tragédia e ver essa cena é um ultraje à memória de todos que foram vítimas e um escárnio para suas famílias. Atitude desprezível.
— Já estamos na idade média, agora fantasmas dão depoimento. Se não visse, não acreditaria.
— Eu mandava prender também o cara que narrou [o vídeo].
— Charlatanismo igualzinho a Michelle [Bolsonaro] falando em línguas.
— Na moral, quem se presta a fazer uma defesa bizarra como essa também devia pegar cana.
— Essa é coisa mais baixa que já vi fazerem numa defesa.
— Já acordo mandando um Rivotril porque, bicho, olha isso.
— Isso representa o Brasil mais que o futebol e o samba.
— São efeitos colaterais da mistura da religião com Estado.
— Tendo vindo de um meio espírita kardecista (o qual abandonei por excesso de bobajadas), eu posso afirmar que esse tipo de coisa vai soar normal pra eles e muitos deles vão achar "bonito" e se emocionar com essa aberração.
— Isso aqui é de um mau gosto, de uma falta de respeito, de uma canalhice tão grandes que eu nem sei o que falar.
— Uma palhaçada dessas é pra cassar o registro da OAB [da advogada].
— E parabéns a quem deu suporte pra uma nojeira como essa: o Brasil se consolida de vez como terra de imbecis e lunáticos.
— Isso conseguiu desrespeitar ao mesmo tempo a memória das vítimas, as famílias, a corte, o júri, os espíritas, o cidadão brasileiro em geral e a classe dos advogados.
— O limite não foi ultrapassado. Ele foi trucidado, esmagado, chutado e pisoteado.
— Se eu sou da acusação, apresento outra carta psicografada, com a mesma autoria, escrito:
"ERRATA: a carta anterior deve ser desconsiderada".
Apesar da dimensão da tragédia, do sofrimento das vítimas e de seus familiares, sem paralelo no Brasil, a advogada Tatiana Borsa, 51, se tornou a protagonista em um momento do Tribunal do Júri ao recorrer ao mundo do além em defesa de um réu, Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira.
A advogada exibiu um vídeo com a leitura de uma carta psicografada de uma vítima pedindo que os réus fossem declarados inocentes.
A bizarrice que equiparou o tribunal a um centro espírita ocorreu no dia 9. Com fundo musical e voz empostada, um locutor leu a mensagem do suposto espírito pedindo que os réus fossem inocentados.
Disse: “Ao invés [sic] de gastar nosso pensamento procurando por culpados, vamos nos unir em oração”.
Continuou: “Procurem aceitar as determinações divinas. Eu também lamento tudo que ocorreu, mas só me resta me readaptar à realidade”.
Chocados, alguns parentes de vítimas deixaram a sessão no tribunal de Porto Alegre.
É curioso que, entre tantos "descarnados" (no jargão espírita) na tragédia, Borsa tenha tido acesso a um deles que inocenta os réus, e não a um espírito favorável à condenação.
Compreende-se a dor extrema da mãe que procurou entrar em contato com o suposto espírito do seu filho, e essa "comunicação" acabou sendo utilizada pela advogada. Mas as mães que esperavam por uma condenação dos réus também merecem compreensão.
Em alguns casos, como o de agora, quando se recorre à justiça divina é para escapar da justiça dos homens.
Espíritas acreditam, obviamente, em espíritos, é uma religião, uma crença, sendo, portanto, de fórum íntimo. Não é uma questão do direito penal de um país laico.
O teatro de absurdo da advogada saiu pela culatra porque a promotoria, para rebater o testemunho vindo do outro mundo, apresentou aos jurados um depoimento de uma "pessoa viva" que testemunhou a morte de vítimas pelas chamas e asfixia causada pela fumaça.
A rede social, implacável como é, condenou Borsa ao ridículo, atingindo também a advocacia, justiça e espiritismo. Segue um pouco das centenas de manifestações no Twitter, algumas delas preconceituosas.
— O Estado laico serve para impedir que aberrações como essa norteiem as decisões do Judiciário. Todo respeito ao espiritismo. Mas o livro dos espíritos deve embasar as ações do kardecismo, e a Constituição e as leis ordinárias, os atos dos tribunais.
— Tudo virou um esquete do Porta dos Fundos.
— Depois da análise de mapa astral em entrevista de emprego, agora é a vez de psicografia em tribunal do júri. Por isso que não dá mais para tratar esse tipo de coisa como anedótica ou inofensiva. A luta contra isso tem de ser diária.
— Por que todo espírito chama a mãe de mãezinha?
— Brasil virou piada pronta.
— Essa é a 'justiça" brasileira.
— Chico Xavier e suas consequências desastrosas para o Brasil.
— Os maiores charlatões são religiosos, sem dúvida.
— Eu perdi meu primo nessa tragédia e ver essa cena é um ultraje à memória de todos que foram vítimas e um escárnio para suas famílias. Atitude desprezível.
— Já estamos na idade média, agora fantasmas dão depoimento. Se não visse, não acreditaria.
— Eu mandava prender também o cara que narrou [o vídeo].
— Charlatanismo igualzinho a Michelle [Bolsonaro] falando em línguas.
— Na moral, quem se presta a fazer uma defesa bizarra como essa também devia pegar cana.
— Essa é coisa mais baixa que já vi fazerem numa defesa.
— Já acordo mandando um Rivotril porque, bicho, olha isso.
— Isso representa o Brasil mais que o futebol e o samba.
— São efeitos colaterais da mistura da religião com Estado.
— Tendo vindo de um meio espírita kardecista (o qual abandonei por excesso de bobajadas), eu posso afirmar que esse tipo de coisa vai soar normal pra eles e muitos deles vão achar "bonito" e se emocionar com essa aberração.
— Isso aqui é de um mau gosto, de uma falta de respeito, de uma canalhice tão grandes que eu nem sei o que falar.
— Uma palhaçada dessas é pra cassar o registro da OAB [da advogada].
— E parabéns a quem deu suporte pra uma nojeira como essa: o Brasil se consolida de vez como terra de imbecis e lunáticos.
— Isso conseguiu desrespeitar ao mesmo tempo a memória das vítimas, as famílias, a corte, o júri, os espíritas, o cidadão brasileiro em geral e a classe dos advogados.
— O limite não foi ultrapassado. Ele foi trucidado, esmagado, chutado e pisoteado.
— Se eu sou da acusação, apresento outra carta psicografada, com a mesma autoria, escrito:
"ERRATA: a carta anterior deve ser desconsiderada".
> Com informação da Justiça do Rio Grande do Sul, do Twitter e de outras fontes.
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