Pular para o conteúdo principal

Bolsonaro dedica 40% da sua agenda a eventos evangélicos

A três meses das eleições, presidente intensificou encontros com religiosos

MARIAMA CORREIA
Agência Pública

Em pré-campanha, o presidente Jair Bolsonaro (PL) dedicou 40% de sua agenda oficial para compromissos focados no eleitorado evangélico. Em julho, dos 25 dias com programações oficiais divulgadas pelo Planalto, o presidente separou dez para participações em cultos e eventos gospel; reuniões com pastores e marchas para Jesus — eventos que reuniram multidões nos estados de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio Grande do Norte, do Ceará e do Espírito Santo.

De maio a julho, Bolsonaro fez uma série de viagens oficiais que não incluíam entrega de obras ou anúncio de investimentos, mas encontros com expoentes do meio evangélico e participações em eventos religiosos de grande porte. 

Somente em julho, ele esteve em cinco marchas para Jesus. Desde maio, Bolsonaro foi a sete dessas marchas, que assumiram um tom de comício, mas escapam das restrições legais impostas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que veda “pedidos explícitos de votos” na pré-campanha. Bolsonaro tem usado esses palanques para falar sobre temas que mobilizam o eleitorado cristão conservador, como aborto, família e legalização das drogas. 

Diante das multidões que acompanham os eventos religiosos, discursa utilizando referências bíblicas e evoca a ideia de que existe uma “guerra do bem contra o mal” na política brasileira.

Os evangélicos foram decisivos para consolidar a vitória de Bolsonaro nas urnas em 2018 e ainda são uma das principais bases de apoio do seu governo. O presidente teve quase 70% do voto evangélico no segundo turno das últimas eleições presidenciais. 

Com a atenção dedicada aos compromissos com religiosos, intensificada nos últimos três meses, ele vem ampliando sua vantagem contra o rival Lula (PT) no segmento, que representa 25% do eleitorado.

Segundo a pesquisa mais recente do Datafolha, no último mês Bolsonaro cresceu de 40% para 43% em intenção de votos entre os evangélicos. Lula caiu de 35% para 33%.

No dia 9 de julho, Bolsonaro esteve em duas marchas para Jesus, em São Paulo (SP) e em Uberlândia (MG). A retomada da edição presencial do evento na capital paulista reuniu duas milhões de pessoas, segundo os organizadores, e várias igrejas do país. De cima do trio elétrico dos fundadores do evento — a bispa Sônia Hernandes e o apóstolo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo — o presidente disse que “ora para que o povo não experimente as dores do socialismo”. Também reforçou as chamadas pautas morais: “somos contra o aborto, a ideologia de gênero, contra a liberação das drogas e defensores da família”.

Ao seu lado também estavam no trio o ex-senador e pré-candidato ao senado Magno Malta (PL), os deputados federais Carla Zambelli (PL-SP) e Marco Feliciano (PL-SP) e os ex-ministros Ricardo Salles (PL-SP) e Tarcísio Freitas (Republicanos-SP), ambos pré-candidatos nestas eleições.

“São Paulo está vendo a maior demonstração de que este país está aos pés de Jesus Cristo”, disse o apóstolo Estevam, pedindo que os fiéis orassem pelo presidente.

Exaltação à Bíblia

Em Minas, o evento gospel foi organizado pelo Conselho de Pastores (Conpas) de Uberlândia, presidida por Ronaldo Azevedo, pastor presidente da Igreja Ministério Vinde a Mim e consultor empresarial, com quem teve reunião ao lado de outros pastores e políticos.

No dia 16, Bolsonaro foi a duas marchas para Jesus no Nordeste, uma em Natal (RN) e outra em Fortaleza (CE). Antes do ato religioso na capital potiguar, esteve em uma missa na Basílica dos Mártires e foi a um culto na igreja evangélica Assembleia de Deus Rio Grande do Norte, onde se reuniu com pastores.

Na “Marcha de Jesus pela Liberdade”, em Natal, disse que “é missão de Deus a presidência”. Em Fortaleza, chegou de motociata para encontrar aliados locais como o pré-candidato ao governo estadual Capitão Wagner (União Brasil) e a médica e ex-secretária do ministério da Saúde Mayra Pinheiro (PL), que ficou conhecida como ‘capitã cloroquina’, por defender um tratamento sem comprovação científica para a covid-19 durante a pandemia.

Ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente participou da Conferência Hombridade, a Jornada da Masculinidade, no último dia 27, em Brasília (DF). 

O evento faz parte da Conferência Modeladas, apresentado como “o maior evento cristão voltado para mulheres no Centro-Oeste”, e que tem participação de lideranças religiosas, empresariais e cantores gospel. A organização é da igreja Comunidade das Nações dos bispos JB Carvalho e Dirce Carvalho.

Ainda no mês de julho, o presidente esteve no Maranhão para participar de uma cerimônia de abertura da Assembleia Geral Ordinária da Convenção dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus do Seta e do 38º Congresso de Estadual das Missionárias e Dirigentes de Círculo de Oração da Convenção Estadual das Assembleias de Deus do Maranhão — CEADEMA. Também esteve na abertura da 57ª Convenção Nacional e Internacional das Igrejas Casas da Bênção, em Brasília (DF).
Encontros religiosos

No último trimestre, Bolsonaro intensificou suas participações em atos religiosos e encontros com lideranças evangélicas. Em maio foram quatro dias com agendas oficiais, incluindo um encontro com lideranças católicas no Palácio do Planalto; duas marchas para Jesus, uma em Curitiba (PR) e outra em Manaus (AM), um encontro com lideranças evangélicas em Manaus, e um culto da Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério de Madureira (Conamad), que reuniu pastores de todo o país em Goiânia (GO). A Conamad é presidida pelo bispo Manoel Ferreira, que também é político filiado ao PSC.

Em junho, foram sete compromissos focados no segmento evangélico, entre eles uma reunião com o pastor Silas Malafaia, televangelista fundador da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que é um forte aliado político de Bolsonaro. Malafaia é uma das lideranças evangélicas mais influentes do país. Ele também é presidente do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil.

Nos dias 17 e 18, o presidente esteve em Belém (PA) e Manaus (AM). Em Belém, foi a um culto de celebração dos 111 anos da Assembleia de Deus. No dia seguinte, esteve no Congresso Visão Celular no Modelo dos 12, um evento que tem projeção nacional e atrai pastores de vários estados. Ele também participou de uma unção apostólica com o apóstolo Renê Terra Nova, do Ministério Internacional da Restauração. 

O mês de junho ainda incluiu uma marcha para Jesus no Balneário de Camburiú, em Santa Catarina e a visita à Lagoinha Church, liderada pelo pastor brasileiro André Valadão, em Orlando (EUA). Na agenda oficial, foi divulgado apenas um “Encontro com a comunidade brasileira em Orlando”.

Bolsonaro estava nos EUA por ocasião da Cúpula das Américas, quando foi ao culto da Lagoinha Church no domingo (12). Ele sinalizou novamente seu posicionamento contra aborto, legalização das drogas e o que chama de “ideologia de gênero”. 

“Defendemos a família, a propriedade privada, a liberdade do armamento. Somos pessoas normais. Podemos até viver sem oxigênio, mas jamais sem liberdade”, disse. No evento, Valadão fez uma oração pelo presidente e pré-candidato à reeleição. “Pedimos mais e mais a tua bênção Senhor, sobre Jair Messias Bolsonaro”
Fora da agenda oficial

Nem todos os compromissos de Bolsonaro com lideranças evangélicas foram divulgados na agenda oficial do Palácio do Planalto. Não aparece, por exemplo, o último domingo de julho (31), quando o presidente foi à inauguração de um templo da igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Taguatinga (DF), que contou com a presença do bispo Edir Macedo e do presidente do Republicanos, partido ligado à IURD, Marcos Pereira. O Republicanos formalizou apoio à reeleição de Bolsonaro no sábado (30).

O presidente foi ao culto com a primeira-dama Michelle Bolsonaro e o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, além da ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, pré-candidata pelo Republicanos. O presidente não discursou durante o evento, nem falou com jornalistas. De acordo com o site Metrópoles, Bolsonaro teria tido uma reunião particular com Macedo ao fim da celebração.

O líder da Universal também é dono da TV Record. Em 2018, ele apoiou a candidatura de Bolsonaro, mas as relações políticas com o governo andavam desgastadas por causa da crise de pastores da IURD em Angola. As lideranças da IURD teriam ficado incomodadas com a falta de apoio do governo para evitar a deportação de 34 pastores brasileiros em Angola.



Bolsonaro ignora a laicidade do Estado




Comentários

Anônimo disse…
Nunca vi esse presidente visitar uma livraria, um museu, uma biblioteca, uma galeria de arte, uma faculdade, escolas, etc., parece que só frequenta igrejas e motociatas, e em breve só irá frequentar cadeias.
Helder Caires disse…
Deus arruma cada amigo...

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Onde Deus estava quando houve o massacre nos EUA?

Deixe a sua opinião aí embaixo, no espaço de comentários.

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Papa afirma que casamento gay ameaça o futuro da humanidade

Bento 16 disse que as crianças precisam de "ambiente adequado" O papa Bento 16 (na caricatura) disse que o casamento homossexual ameaça “o futuro da humanidade” porque as crianças precisam viver em "ambientes" adequados”, que são a “família baseada no casamento de um homem com uma mulher". Trata-se da manifestação mais contundente de Bento 16 contra a união homossexual. Ela foi feita ontem (9) durante um pronunciamento de ano novo a diplomatas no Vaticano. "Essa não é uma simples convenção social", disse o papa. "[Porque] as políticas que afetam a família ameaçam a dignidade humana.” O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ficou indignado com a declaração de Bento 16, que é, segundo ele, suspeito de ser simpático ao nazismo. "Ameaça ao futuro da humanidade são o fascismo, as guerras religiosas, a pedofilia e o abusos sexuais praticados por membros da Igreja e acobertados por ele mesmo", disse. Tweet Com informação

Pastor mirim canta que gay vai para o inferno; fiéis aplaudem

Garoto tem 4 anos Caiu na internet dos Estados Unidos um vídeo onde, durante um culto, um menino de quatro anos canta aos fiéis mais ou menos assim: “Eu sei bem a Bíblia,/Há algo de errado em alguém,/Nenhum gay vai para o céu”. Até mais surpreendente do que a pregação homofóbica do garotinho foi a reação dos fiéis, que aplaudiram de pé, em delírio. Em uma versão mais longa do vídeo, o pai, orgulhoso, disse algo como: “Esse é o meu garoto”. A igreja é a Apostólica do Tabernáculo, do pastor Jeff Sangl, de Greensburg, Indiana. Fanático religioso de amanhã Íntegra do vídeo. Com informação da CBS . Pais não deveriam impor uma religião aos filhos, afirma Dawkins. julho de 2009 Intolerância religiosa no Brasil

Cristãos xingam aluna que obteve decisão contra oração

Jessica sofre hostilidades desde meados de 2011 Uma jovem mandou pelo Twitter uma mensagem para Jessica Ahlquist (foto): “Qual é a sensação de ser a pessoa mais odiada do Estado? Você é uma desgraça para a raça humana.”  Outra pessoa escreveu: “Espero que haja muitos banners [de oração] no inferno quando você lá estiver apodrecendo, ateia filha da puta!” Jessica, 16, uma americana de Cranston, cidade de 80 mil habitantes de maioria católica do Estado de Rhode Island, tem recebido esse tipo de mensagem desde meados de 2011, quando recorreu à Justiça para que a escola pública onde estuda retirasse uma oração de um mural bem visível, por onde passam os alunos. Ela é uma ateia determinada e leva a sério a Constituição americana, que estabelece a separação entre o Estado e a religião. Os ataques e ameaças a Jessica aumentaram de tom quando um juiz lhe deu ganho de causa e determinou a retirada da oração. Nos momentos mais tensos, ela teve de ir à escola sob a proteção da

Anglicano apoia união gay e diz que Davi gostava de Jônatas

Dom Lima citou   trechos da Bíblia Dom Ricardo Loriete de Lima (foto), arcebispo da Igreja Anglicana do Brasil, disse que apoia a união entre casais do mesmo sexo e lembrou que textos bíblicos citam que o rei Davi dizia preferir o amor do filho do rei Saul ao amor das mulheres. A data de nascimento de Davi teria sido 1.040 a.C. Ele foi o escolhido por Deus para ser o segundo monarca de Israel, de acordo com os livros sagrados hebraicos. Apaixonado por Jônatas, ele é tido como o único personagem homossexual da Bíblia. Um dos trechos os quais dom Lima se referiu é I Samuel 18:1: “E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como a sua própria alma”. Outro trecho, em Samuel 20:41: “E, indo-se o moço, levantou-se Davi do lado do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram juntos, mas Davi chorou muito mais”. Em II Samuel 1:26, fica claro p

Na última entrevista, Hitchens falou da relação Igreja-nazismo

Hitchens (direita) concedeu  a última entrevista de  sua vida a Dawkins da  New Statesman Em sua edição deste mês [dezembro de 2011], a revista britânica "New Statesman" traz a última entrevista do jornalista, escritor e crítico literário inglês Christopher Hitchens, morto no dia 15 [de dezembro de 2011] em decorrência de um câncer no esôfago.

Por que eu sou um 'não cristão cultural', diferentemente de Dawkins