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Morre Bento 16, um símbolo do que há de mais retrógado na Igreja

Pontificado do papa alemão foi marcado por acobertamento de padres pedófilos

PAULO LOPES
jornalista

Morto hoje, último dia de 2022, Bento 16 passou para história como o primeiro papa a renunciar em 600 anos, assumindo o título de "emérito". Estava com 95 anos — uma vida longeva para quem desistiu do trono do Vaticano em 2013 alegando falta de energia física, além da mental.

Ele também será lembrado por ser leniente com padres pedófilos, acobertando-os para preservar a imagem da Igreja Católica, em detrimento das vítimas. 

O ex-cardeal alemão Jospeh Ratzinger ainda entrou para a história como o pontífice que pregou com firmeza contra o "pecado" da homossexualidade, no momento em que a sociedade começava a clamar por inclusão e igualdade.

Ele ainda ficou marcado por condenar em visita à África em 2009 o uso de preservativo, embora naquele continente a Aids estivesse em expansão, matando centenas de milhares de pessoas.

Ao ser eleito papa em 2005, Ratzinger se propôs a fortalecer a Igreja com sua doutrina conservadora — ele adotou o nome de um monge século VI, Bento de Núrcia, que expandiu o cristianismo na Europa. Mas, sob o papa e a partir dele, houve um enfraquecimento rápido da fé católica, principalmente em países europeus.

Em sua última audiência pública, ele falou em "águas agitadas", "vento contrário" e "o Senhor parecia dormir". O que demonstra que Ratzinger, tido como iminente teólogo, se rendeu a sua incapacidade de conduzir uma Igreja em crise.

Naqueles dias de fevereiro de 2013, o escândalo da vez do Vaticano foi a descoberta pela imprensa italiana de um esquema de garotos de programa para atender sacerdotes. Ou seja, o papa que pregava contra a homossexualidade não conseguia convencer nem dentro de sua casa.

Isso também vale para o Banco do Vaticano, tomado pela corrupção e intrigas geradas pela disputa pelo controle do cofre. Dizia-se que era o banco preferido pelos mafiosos, por não ser transparente às autoridades internacionais.


Bento 16 não deixa saudades entre os progressistas brasileiros da Igreja Católica. Quando presidiu a Congregação para a Doutrina da Fé, que sucedeu o órgão da Santa Inquisição, o então cardeal desfechou um duro golpe contra a Teologia da Libertação, reduzindo sua influência na América Latina por conter inspiração marxista.

Em 1985, a congregação condenou o frei Leonardo Boff a um ano de "silêncio obsequioso", para dificultar sua militância no movimento que se dedica aos pobres. Em 1992, Boff se desligou do sacerdócio, mantendo sua militância até hoje.

Para alguns observadores, a repressão Ratzinger à Teologia da Libertação abriu espaço para a expansão das igrejas pentecostais, que atraem fiéis de camadas populares com a Teologia da Prosperidade.

Ratzinger teve de prestar esclarecimento sobre sua atuação praticamente até o fim de sua vida.

Em janeiro de 2022, ele admitiu que em 1980 participou de uma reunião onde se discutiu acusações de pedofilia sobre um padre alemão, corrigindo-se do que afirmara meses antes. Pediu "perdão pelo erro".

Provavelmente, a Igreja Católica jamais vai se recuperar do papa Bento 16, que se tornou uma representação contemporânea sobre o que há de mais retrógrado na milenar religião cristã.

> Com informação deste site e de outras fontes.




















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