PAULO LOPES
jornalista
Ele também será lembrado por ser leniente com padres pedófilos, acobertando-os para preservar a imagem da Igreja Católica, em detrimento das vítimas.
O ex-cardeal alemão Jospeh Ratzinger ainda entrou para a história como o pontífice que pregou com firmeza contra o "pecado" da homossexualidade, no momento em que a sociedade começava a clamar por inclusão e igualdade.
Ele ainda ficou marcado por condenar em visita à África em 2009 o uso de preservativo, embora naquele continente a Aids estivesse em expansão, matando centenas de milhares de pessoas.
Ao ser eleito papa em 2005, Ratzinger se propôs a fortalecer a Igreja com sua doutrina conservadora — ele adotou o nome de um monge século VI, Bento de Núrcia, que expandiu o cristianismo na Europa. Mas, sob o papa e a partir dele, houve um enfraquecimento rápido da fé católica, principalmente em países europeus.
Em sua última audiência pública, ele falou em "águas agitadas", "vento contrário" e "o Senhor parecia dormir". O que demonstra que Ratzinger, tido como iminente teólogo, se rendeu a sua incapacidade de conduzir uma Igreja em crise.
Naqueles dias de fevereiro de 2013, o escândalo da vez do Vaticano foi a descoberta pela imprensa italiana de um esquema de garotos de programa para atender sacerdotes. Ou seja, o papa que pregava contra a homossexualidade não conseguia convencer nem dentro de sua casa.
Isso também vale para o Banco do Vaticano, tomado pela corrupção e intrigas geradas pela disputa pelo controle do cofre. Dizia-se que era o banco preferido pelos mafiosos, por não ser transparente às autoridades internacionais.
Bento 16 não deixa saudades entre os progressistas brasileiros da Igreja Católica. Quando presidiu a Congregação para a Doutrina da Fé, que sucedeu o órgão da Santa Inquisição, o então cardeal desfechou um duro golpe contra a Teologia da Libertação, reduzindo sua influência na América Latina por conter inspiração marxista.
Em 1985, a congregação condenou o frei Leonardo Boff a um ano de "silêncio obsequioso", para dificultar sua militância no movimento que se dedica aos pobres. Em 1992, Boff se desligou do sacerdócio, mantendo sua militância até hoje.
Para alguns observadores, a repressão Ratzinger à Teologia da Libertação abriu espaço para a expansão das igrejas pentecostais, que atraem fiéis de camadas populares com a Teologia da Prosperidade.
Ratzinger teve de prestar esclarecimento sobre sua atuação praticamente até o fim de sua vida.
Em janeiro de 2022, ele admitiu que em 1980 participou de uma reunião onde se discutiu acusações de pedofilia sobre um padre alemão, corrigindo-se do que afirmara meses antes. Pediu "perdão pelo erro".
Provavelmente, a Igreja Católica jamais vai se recuperar do papa Bento 16, que se tornou uma representação contemporânea sobre o que há de mais retrógrado na milenar religião cristã.
> Com informação deste site e de outras fontes.
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