Pular para o conteúdo principal

Controle da atenção contribui para o desenvolvimento cerebral

Fatores externos, sejam sensoriais ou de qualquer outra natureza, impactam a capacidade de manter a concentração, diz professora

ALESSANDRA UENO | Jornal da USP
jornalista

Para muitos, a concentração se resume ao ato de estar focado inteiramente em uma tarefa, mas o que ela representa para o cérebro e como consegui-la ainda são pontos pouco comentados. “O prestar atenção não é uma capacidade única, exige esforço cognitivo”, comenta a professora Eliane Comoli, do Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

A concentração também varia muito conforme fatores ambientais, sendo necessária uma análise de vários pontos de vista.

O desenvolvimento cerebral, segundo Eliane, tem relação com o controle da atenção. Com ele é possível realizar a “atenção voluntária”, que consiste no foco em uma ação de maneira consciente e de livre escolha.

“É aquela que o aluno possui ao prestar atenção no professor que está explicando um conteúdo na sala de aula, mesmo quando há interferências de outros alunos conversando ao redor. Esse tipo de atenção difere da tensão desencadeada quando a informação sensorial é intensa e repentina, como quando você está lendo um livro e algo cai no chão produzindo um som intenso”, exemplifica.

Fatores externos, sejam sensoriais, como no exemplo, ou de qualquer outra natureza, impactam a capacidade de manter a concentração. 

Estado de flow é
caracterizado pela
capacidade de manter
a concentração

O professor André Russowsky Brunoni, da Faculdade de Medicina da USP, comenta sobre a influência ambiental no foco: “A primeira coisa que a gente sempre aconselha é desligar os estímulos concorrentes. Isso é cada vez mais difícil, porque a gente acha que é multi, mas na verdade as pessoas não são: não dá para dividir essa memória de trabalho em quatro ou cinco coisas ao mesmo tempo, depois, no longo prazo, isso acaba gerando um menor desempenho nas tarefas”.

Estado de flow


Por mais que concentração e foco sejam duas palavras que resumem a mesma “ação”, existe o estado de flow. Ele diz respeito a uma concentração caracterizada pela intensa imersão na atividade realizada.

Estabelecer metas claras, intervalos de descanso e manter-se afastado de distrações são algumas dicas dadas para atingir tal estado, mas existe um mecanismo complexo no organismo responsável por isso. 

“Ele está muito relacionado com a memória de trabalho, que é a capacidade de manipular informações que chegam de diferentes regiões do cérebro. Quando a gente vai se concentrar numa tarefa, precisa acessar nossa memória de longo prazo, cuja função principal relacionada a isso é o hipocampo. A gente precisa também ativar algumas áreas de memória verbal e memória visual e integrar tudo isso nessa memória de trabalho”, explica Brunoni.

O professor ainda faz uma analogia, comparando a memória de trabalho a uma mesa em que você pega os materiais e as ferramentas, manipulando-os conforme a intenção ― que, no caso, é a concentração. Esse estado ainda envolve redes de neurônios, sendo as mais importantes a Central Executive Network, com enfoque maior na resolução de tarefas, e a Default Mode Network, responsável por uma atenção ao próprio indivíduo e, por isso, relacionada à depressão, ao estresse e com uma influência corporal significativa.

Práticas


Saber o que é a concentração e sua presença também no estado de flow é importante, mas o mais buscado é como atingi-los. 

A professora Eliane comenta sobre a meditação, que é uma de muitas práticas que ajudam desde alcançar o foco até mantê-lo: “A meditação é um ótimo exemplo de prática para se concentrar intencionalmente no momento presente, prestando total atenção às sensações, pensamentos e emoções que surgem. A neurociência define a meditação como forma de treinamento mental que reduz o estresse e ajuda a melhorar a capacidade psicológica e autorregulação atencional e emocional”.

Ela ainda acrescenta que yoga e exercícios físicos, bem como a meditação, promovem o bem-estar mental e físico. Segundo a professora, a neurociência aponta o efeito dessas atividades sobre a neuromodulação, o aumento de substâncias como gaba, serotonina e dopamina que, respectivamente, neutralizam os sintomas de ansiedade, melhoram o ânimo e regulam a motivação.

Essas práticas geram aumento da proteína BDNF, que ajuda na produção de novas células cerebrais e fortalece as já existentes. 

“É importante mencionar que cuidados com o sono são muito importantes, já que a privação do sono adequado reduz a atenção, a concentração e memória, afeta o desempenho das atividades cognitivas e tarefas que requerem criatividade. Por fim, a verdade é que não há forma mágica, é preciso empenho e autodisciplina.”

Foto: Freepik

• Pesquisadores identificam compostos capazes de inibir tumores cerebrais

• Religião atrofia o cérebro, revela estudo da Universidade Duke

• Qualquer voz vinda do universo é fruto de seu cérebro doente




Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê