jornalista
Tinha nome inesperado e solene, de filósofo grego, que não combinava com a figura dócil e acessível que era. E então, desde jovem, Protógenes Guimarães se tornou o PG, e assim era chamado por todos — parentes, amigos, advogados, juízes, bancários, frentistas.
Alguns chamavam-no de "senhor PG", mas não fazia questão de tal tratamento. Entre ele e as pessoas, qualquer uma, não havia nenhum prenome que dificultasse a comunicação.
Com fala mansa, contava piadas e causos e, claro, criticava o governo de plantão. Era boa pessoa, mas mantinha acesa a chama da indignação. Sabia ouvir as pessoas. Tinha algumas idiossincrasias, como dizer que tudo que comprava era o mais em conta do mercado — e os mais próximos se divertiam com isso.
Tinha nome inesperado e solene, de filósofo grego, que não combinava com a figura dócil e acessível que era. E então, desde jovem, Protógenes Guimarães se tornou o PG, e assim era chamado por todos — parentes, amigos, advogados, juízes, bancários, frentistas.
Alguns chamavam-no de "senhor PG", mas não fazia questão de tal tratamento. Entre ele e as pessoas, qualquer uma, não havia nenhum prenome que dificultasse a comunicação.
Com fala mansa, contava piadas e causos e, claro, criticava o governo de plantão. Era boa pessoa, mas mantinha acesa a chama da indignação. Sabia ouvir as pessoas. Tinha algumas idiossincrasias, como dizer que tudo que comprava era o mais em conta do mercado — e os mais próximos se divertiam com isso.
— Por que comprou este mouse sem falar comigo? Eu sei onde tem mais barato.
Convivi com PG por mais de 40 anos — ele era tio de minha mulher e me chamava de Paulinho. Eu sempre me surpreendia com a bondade que lhe brotava naturalmente, transbordando para quem estivesse por perto ou o procurasse.
Assumia tarefas e favores sem interesse, sem expectativa de receber algo de volta. A família dizia que algumas pessoas se aproveitavam de sua bondade, sem que ele desse conta disso.
Convivi com PG por mais de 40 anos — ele era tio de minha mulher e me chamava de Paulinho. Eu sempre me surpreendia com a bondade que lhe brotava naturalmente, transbordando para quem estivesse por perto ou o procurasse.
Assumia tarefas e favores sem interesse, sem expectativa de receber algo de volta. A família dizia que algumas pessoas se aproveitavam de sua bondade, sem que ele desse conta disso.
Era habilidoso com as mãos e o raciocínio. Trabalhou na aviação (participou da transmissão ao vivo da inauguração de Brasília durante o voo de um Douglas DC-3), foi empresário bem sucedido e posteriormente se formou em direito. Gostava de tecnologia, desde a mecânica à informática. Foi usuário de computador, destacando-se entre as pessoas de sua geração.
PG ia à missa ocasionalmente, mas nunca disse que rezaria por uma pessoa — ele agia. Telefonava para alguém que conhecia um médico que podia ajudar um paciente. Ajudava as pessoas a encontrarem emprego. Advogava para quem não podia pagar honorários. Rebocava carro quebrado de conhecidos. Emprestava seu carro. Consertava o chuveiro do vizinho. Ajudava funcionários. Presidiu clubes do Rotary e a associação do bairro, promovendo campanhas de fraternidade. Foi conciliador da Justiça de pequenas causas e socorria pessoas detidas na delegacia. Contribuiu com entidades filantrópicas.
A natureza do PG era a solidariedade |
Uma vez comentei com PG que estava sendo processado por um líder religioso de Cananeia devido ao comentário de um leitor anônimo em meu site.
PG assumiu o caso e no mesmo instante me levou a Cananeia, no litoral de São Paulo, em seu carro, para pegar uma cópia do processo, percorrendo na ida e volta o total de 500 km. E ele já não era moço. Passou a acompanhar a tramitação do processo e me avisar de novas intimações.
Abraçava grandes e pequenas causas.
Bem antes de a defesa da natureza virar moda, PG se opôs ao avanço da especulação imobiliária sobre a Mata Atlântica na região onde morava. Recorreu à Justiça para que construtoras criassem reservas biológicas. Mobilizou muita gente, acionou autoridades e se tornou persona non grata de empresários.
Nos anos 90, ele e seu irmão Rômulo arregimentaram apoio contra a campanha de moradores para o que bairro virasse um município, de modo a tirar o total proveito da alta arrecadação de impostos do local.
Os irmãos argumentaram com a população que os impostos do seu bairro deveriam beneficiar sobretudo os mais pobres de outros locais da cidade. E a campanha dos separatistas naufragou.
Ele envolvia as pessoas de seu entorno em suas campanhas. Me requisitou algumas vezes para redigir e divulgar manifestos. Era catalisador. Cortejado por políticos, nunca quis se candidatar a qualquer coisa. Se o fizesse, se elegeria com facilidade.
Visitei o PG no hospital três dias antes de seu falecimento — estava sedado, inconsciente. Um ano e meio antes, Dina, sua mulher, havia morrido.
Diante dele, refleti sobre algumas coisas, sobre, por exemplo, como algumas pessoas, com o PG, conseguem com a solidariedade dar significado a sua vida.
Antes de sair do quarto do hospital, dei meu última abraço no PG e agradeci: "Muito obrigado por tudo".
> Com foto de arquivo pessoal.
• Eu precisava de sangue, não de oração
Comentários
Postar um comentário