Estudos mostram que esses supostos medicamentos, incluindo os da homeopatia, não têm fundamento científico
Os animais não têm como recusar os tratamentos que recebem quando doentes. Isso torna uma questão complicada o uso de medicamentos chamados de alternativos [SCAM, na abreviatura em inglês].
Pelo MDPI [Multidisciplinary Digital Publishing Institute — uma plataforma que agrega estudos acadêmicos de várias publicações] se obtém do Web of Science Core Collection, CABI e PubMed uma revisão sistemática das evidências da eficácia clínica de 24 medicamentos tidos como alternativos usados em gatos, cães e cavalos.
Artigos relevantes foram avaliados quanto à qualidade científica. As informações foram extraídas de características do estudo: o problema de saúde, tipo de tratamento, indicação e efeitos do tratamento.
Das 982 publicações únicas selecionadas, 42 foram elegíveis para inclusão, representando as seguintes nove diferentes terapias SCAM:
• aromaterapia
• terapia de ouro
• homeopatia
• sanguessugas (hirudoterapia),
• mesoterapia
• lama
• terapia neural
• terapia de som (música),
• terapia vibratória.
Para 15 terapias predefinidas, nenhum estudo foi identificado. O risco de viés [erros sistemáticos ou limitações na condução ou na análise da revisão influenciam os resultados] foi avaliado como alto em 17 estudos, moderado a alto em 10, moderado em 10, baixo a moderado em quatro e baixo em um estudo.
Os autores concluíram que a presente revisão sistemática revelou lacunas significativas no conhecimento científico sobre os efeitos de vários métodos SCAM “diversos”.
Para a maioria das terapias, nenhum artigo científico relevante foi localizado.
Para nove terapias, alguma documentação de pesquisa estava disponível. No entanto, devido ao pequeno tamanho da amostra, falta de grupos de controle e outras limitações metodológicas, poucos artigos com baixo risco de viés foram identificados.
Os estudos que relatam resultados benéficos não foram replicados por outros pesquisadores independentes.
Muitos dos artigos estavam nos níveis mais baixos da pirâmide de evidências, enfatizando a necessidade de mais pesquisas de alta qualidade usando metodologias precisas para avaliar os potenciais efeitos terapêuticos dessas terapias.
Das publicações que atenderam aos critérios de inclusão, a maioria não dispunha de documentação científica de qualidade suficiente para tirar qualquer conclusão sobre o seu efeito.
Várias de nossas observações podem ser traduzidas em lições sobre como melhorar o suporte científico para terapias SCAM.
Esforços cruciais incluem:
(a) um foco na avaliação de terapias com um modelo explicativo para um mecanismo de ação aceito pela comunidade científica em geral,
(b) o uso de animais de controle e tratamentos adequados, preferencialmente em ensaios controlados randomizados,
(c) estudos observacionais de alta qualidade com ênfase no controle de fatores de confusão,
(d) poder estatístico suficiente; para conseguir isso, podem ser necessários estudos multicêntricos em larga escala,
(e) avaliações cegas e
(f) estudos de replicação de terapias que mostraram resultados promissores em estudos individuais.
O que os autores revelaram em relação à homeopatia foi particularmente interessante, a meu ver.
Os estudos com risco moderado de viés, como o tratamento hipotensor homeopático em cães com insuficiência cardíaca em estágio inicial e o estudo em gatos com hipertireoidismo, não mostraram diferenças entre animais tratados e não tratados.
Um estudo randomizado controlado com cães osteoartríticos mostrou uma diferença em três das seis variáveis (mobilidade avaliada por veterinários, duas variáveis de plataforma de força, um índice de dor crônica avaliado pelo proprietário e evisceras visualmente análogas de dor e movimento).
Os resultados da homeopatia são apoiados por outra revisão sistemática de 18 estudos randomizados, representando quatro espécies (incluindo dois estudos com cães) e 11 indicações.
Os autores excluíram conclusões generalizadas sobre o efeito de certos remédios homeopáticos ou o efeito da homeopatia individualizada em uma determinada condição médica em animais.
Além disso, uma meta-análise de nove ensaios homeopáticos com alto risco de viés e dois estudos com menor risco de viés concluiu haver evidências muito limitadas de que a intervenção clínica em animais usando remédios homeopáticos pode ser diferenciada de intervenções placebo semelhantes.
Em essência, esta revisão confirma o que tenho apontado inúmeras vezes: tratamento SCAM para animais não é baseado em evidências, e isso inclui em particular a homeopatia. Conclui-se que seu uso em animais como alternativa a tratamentos com eficácia comprovada beira o abuso de animais.
Edzard Ernst
professor emérito da Escola de Medicina da Península, na Universidade de Exeter, Inglaterra
Os animais não têm como recusar os tratamentos que recebem quando doentes. Isso torna uma questão complicada o uso de medicamentos chamados de alternativos [SCAM, na abreviatura em inglês].
Pelo MDPI [Multidisciplinary Digital Publishing Institute — uma plataforma que agrega estudos acadêmicos de várias publicações] se obtém do Web of Science Core Collection, CABI e PubMed uma revisão sistemática das evidências da eficácia clínica de 24 medicamentos tidos como alternativos usados em gatos, cães e cavalos.
Artigos relevantes foram avaliados quanto à qualidade científica. As informações foram extraídas de características do estudo: o problema de saúde, tipo de tratamento, indicação e efeitos do tratamento.
Das 982 publicações únicas selecionadas, 42 foram elegíveis para inclusão, representando as seguintes nove diferentes terapias SCAM:
• aromaterapia
• terapia de ouro
• homeopatia
• sanguessugas (hirudoterapia),
• mesoterapia
• lama
• terapia neural
• terapia de som (música),
• terapia vibratória.
Para 15 terapias predefinidas, nenhum estudo foi identificado. O risco de viés [erros sistemáticos ou limitações na condução ou na análise da revisão influenciam os resultados] foi avaliado como alto em 17 estudos, moderado a alto em 10, moderado em 10, baixo a moderado em quatro e baixo em um estudo.
Aromaterapia não dá resultado para cães nem para humanos |
Nos estudos onde o risco de viés de baixo a moderado, houve considerável heterogeneidade nos efeitos do tratamento relatados.
Os autores concluíram que a presente revisão sistemática revelou lacunas significativas no conhecimento científico sobre os efeitos de vários métodos SCAM “diversos”.
Para a maioria das terapias, nenhum artigo científico relevante foi localizado.
Para nove terapias, alguma documentação de pesquisa estava disponível. No entanto, devido ao pequeno tamanho da amostra, falta de grupos de controle e outras limitações metodológicas, poucos artigos com baixo risco de viés foram identificados.
Os estudos que relatam resultados benéficos não foram replicados por outros pesquisadores independentes.
Muitos dos artigos estavam nos níveis mais baixos da pirâmide de evidências, enfatizando a necessidade de mais pesquisas de alta qualidade usando metodologias precisas para avaliar os potenciais efeitos terapêuticos dessas terapias.
Das publicações que atenderam aos critérios de inclusão, a maioria não dispunha de documentação científica de qualidade suficiente para tirar qualquer conclusão sobre o seu efeito.
Várias de nossas observações podem ser traduzidas em lições sobre como melhorar o suporte científico para terapias SCAM.
Esforços cruciais incluem:
(a) um foco na avaliação de terapias com um modelo explicativo para um mecanismo de ação aceito pela comunidade científica em geral,
(b) o uso de animais de controle e tratamentos adequados, preferencialmente em ensaios controlados randomizados,
(c) estudos observacionais de alta qualidade com ênfase no controle de fatores de confusão,
(d) poder estatístico suficiente; para conseguir isso, podem ser necessários estudos multicêntricos em larga escala,
(e) avaliações cegas e
(f) estudos de replicação de terapias que mostraram resultados promissores em estudos individuais.
O que os autores revelaram em relação à homeopatia foi particularmente interessante, a meu ver.
Os estudos com risco moderado de viés, como o tratamento hipotensor homeopático em cães com insuficiência cardíaca em estágio inicial e o estudo em gatos com hipertireoidismo, não mostraram diferenças entre animais tratados e não tratados.
Um estudo randomizado controlado com cães osteoartríticos mostrou uma diferença em três das seis variáveis (mobilidade avaliada por veterinários, duas variáveis de plataforma de força, um índice de dor crônica avaliado pelo proprietário e evisceras visualmente análogas de dor e movimento).
Os resultados da homeopatia são apoiados por outra revisão sistemática de 18 estudos randomizados, representando quatro espécies (incluindo dois estudos com cães) e 11 indicações.
Os autores excluíram conclusões generalizadas sobre o efeito de certos remédios homeopáticos ou o efeito da homeopatia individualizada em uma determinada condição médica em animais.
Além disso, uma meta-análise de nove ensaios homeopáticos com alto risco de viés e dois estudos com menor risco de viés concluiu haver evidências muito limitadas de que a intervenção clínica em animais usando remédios homeopáticos pode ser diferenciada de intervenções placebo semelhantes.
Em essência, esta revisão confirma o que tenho apontado inúmeras vezes: tratamento SCAM para animais não é baseado em evidências, e isso inclui em particular a homeopatia. Conclui-se que seu uso em animais como alternativa a tratamentos com eficácia comprovada beira o abuso de animais.
> Esse texto foi traduzido para o português e aqui publicado com a autorização do autor. Originalmente, o título do artigo é So-called alternative medicine (SCAM) for animals is not evidence-based and borders on animal abuse.
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