Pular para o conteúdo principal

Justiça condena dois pastores da Universal por homicídio de Lucas Terra

Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda foram sentenciados da 21 anos de reclusão pelo assassinado do adolescente em 2001. Os dois negam o crime

EDUARDO VELOZO FUCCIA
jornalista
para o Conjur

Após três dias de julgamento, no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador, dois pastores da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) foram condenados a 21 anos de reclusão pelo homicídio de um fiel adolescente. O assassinato ocorreu em 2001, na capital baiana.

Os réus também foram processados pela ocultação de cadáver da vítima, queimada enquanto estava viva, mas foi reconhecida a prescrição desse delito. Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda negam os crimes e poderão recorrer em liberdade.

Sob a presidência da juíza Andréa Teixeira Lima Sarmento Netto, a sessão teve início na manhã do dia 25 de abril e o veredicto anunciado às 21h45 de 27. 

Pelo mesmo fato, em 2004, o também pastor Silvio Roberto Galiza foi julgado e condenado a 18 anos de reclusão, tendo a pena reduzida para 15, em grau de recurso. Após cumprir sete anos em regime fechado, ele obteve o livramento condicional.

Galiza foi quem acusou Silva e Miranda de também participarem do crime, revelando que ambos decidiram se vingar da vítima após ela os surpreender mantendo relações sexuais entre si nas dependências de um templo da Iurd.

Em 2013, o juízo de primeira instância não vislumbrou indícios suficientes de autoria para submeter Miranda e Silva a júri popular, mas o Ministério Público recorreu.

O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) reformou essa decisão por unanimidade, em setembro de 2015, e a defesa dos pastores recorreu. O Superior Tribunal de Justiça manteve o acórdão do colegiado baiano e os advogados dos réus recorreram ao Supremo Tribunal Federal, cuja 2ª Turma decidiu, em 2020, que os pastores deveriam ser levados a júri.

Lucas Terra
queria ser
pastor

No julgamento feito no Fórum Ruy Barbosa, os cinco homens e as duas mulheres sorteados para compor o conselho de sentença acolheram as três qualificadoras imputadas pelo MP ao homicídio: motivo torpe, devido à vingança; meio cruel, em razão do uso de fogo, e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O adolescente Lucas Terra tinha 14 anos.

Exame de DNA


Lucas desapareceu na noite de 21 de março de 2001, quando foi participar de um culto da Iurd, no bairro do Rio Vermelho. O adolescente chegou telefonar para o pai nessa ocasião, contando que estava com o pastor Galiza. Porém, a vítima não retornou para a casa. Após dois dias de buscas, o corpo foi encontrado queimado em um terreno baldio da Avenida Vasco da Gama, em Salvador.

A vítima estava amordaçada e com as mãos amarradas com um pedaço de cortina similar à utilizada nos templos da Igreja Universal, segundo a perícia. A confirmação da sua identidade só ocorreu 43 dias depois, por meio de exame de DNA. A suspeita de que o adolescente sofreu abuso sexual não pôde ser comprovada devido à carbonização do cadáver.

Durante os debates no júri, o promotor David Gallo fez referência à suposta violência sexual, mas alegou aos jurados que não denunciou os réus por esse crime devido à falta de prova. Segundo o representante do MP, Galiza atraiu a vítima até o local onde estavam Silva e Miranda.

O que diz a Iurd


A Igreja Universal declarou por meio de nota que, "desde sempre", os pastores Silva e Miranda foram tratados como "culpados" e sofreram "campanha condenatória". Reiterando convicção na inocência de ambos, a Iurd informou, antes do júri, que eles exercem o ministério há quase 32 anos e "jamais foi encontrado (sic) comportamentos, provas ou indícios que os coloquem na cena deste crime tão brutal e lamentável".

O comunicado ainda diz: "A Igreja Universal do Reino de Deus lamenta profundamente a necessidade de recorrer ao Poder Judiciário para assegurar a verdade e as devidas reparações. Asseguramos que iremos interpor todos os recursos cabíveis para que fique provada a inocência dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda."



Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Seleção de vôlei sequestrou palco olímpico para expor crença cristã

Título original: Oração da vitória por Daniel Sottomaior (foto) para Folha de S.Paulo Um hipotético sujeito poderoso o suficiente para fraudar uma competição olímpica merece ser enaltecido publicamente? A se julgar pela ostensiva prece de agradecimento da seleção brasileira de vôlei pela medalha de ouro nas Olimpíadas, a resposta é um entusiástico sim! Sagrado é o direito de se crer em qualquer mitologia e dá-la como verdadeira. Professar uma religião em público também não é crime nenhum, embora costume ser desagradável para quem está em volta. Os problemas começam quando a prática religiosa se torna coercitiva, como é a tradição das religiões abraâmicas. Os membros da seleção de vôlei poderiam ter realizado seus rituais em local mais apropriado. É de se imaginar que uma entidade infinita e onibenevolente não se importaria em esperar 15 minutos até que o time saísse da quadra. Mas uma crescente parcela dos cristãos brasileiros não se contenta com a prática privada: para

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê

Psicóloga defende Feliciano e afirma que monstro é a Xuxa

Marisa Lobo fez referência ao filme de Xuxa com garoto de 12 anos A “psicóloga cristã” Marisa Lobo (foto) gravou um vídeo [ver abaixo] de 2 minutos para defender o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da crítica da Xuxa segundo a qual ele é um “monstro” por propagar que a África é amaldiçoada e a Aids é uma “doença gay”. A apresentadora, em sua página no Facebook, pediu mobilização de seus fãs para que Feliciano seja destituído da presidência da Comissão de Direitos Humanos e das Minorias da Câmara. Lobo disse que “monstro é quem faz filme pornô com criança de 12 anos”. Foi uma referência ao filme “Amor Estranho Amor”, lançado em 1982, no qual Xuxa faz o papel de uma prostituta. Há uma cena em que a personagem, nua, seduz um garoto, filho de outra mulher do bordel. A psicóloga evangélica disse ter ficado “a-pa-vo-ra-da” por ter visto nas redes sociais que Xuxa, uma personalidade, ter incitado ódio contra um pastor. Ela disse que as filhas (adolescentes) do pastor são fãs