ex-Testemunha de Jeová
Eu era testemunha de Jeová desde pequena, veio de família. Meus pais e toda a minha família do lado materno são TJ. Eu frequentava reuniões, fiz um progresso lá dentro. Quando estava saindo da adolescência, mais ou menos com uns 19 anos, fui batizada.
As testemunhas de Jeová se referem às pessoas que não são TJ como mundanas. E a recomendação é: uma vez que você está lá dentro, recebendo os ensinamentos, não deve manter amizades com quem não está ali também.
Essas pessoas podem vir a colocar alguma ideia na sua cabeça, coisas que vão contra os conceitos apresentados nas reuniões e que podem encaminhar você para o lado errado.
São coisas como drogas, violências, sexo antes do casamento ou colocar a carreira na frente dos interesses bíblicos.
Amizades com pessoas de fora do círculo podem implicar na pessoa se tornar mundana e sair desse meio, virar as costas do chamado 'caminho correto' e ir para o mundo.
Eu não posso falar o motivo que causou minha desassociação porque ainda moro com os meus pais. Mas foi um motivo que, de acordo com as normas bíblicas do TJ, eu sabia desde antes de me batizar que isso poderia me levar a uma desassociação.
Foi um processo bem doloroso, porque eu fiz saber que ia contra as normas — e não imaginei que alguém ia ficar sabendo, que acarretaria tudo isso. Eu simplesmente fiz. A questão toda foi quando foi descoberta.
As testemunhas de Jeová se referem às pessoas que não são TJ como mundanas. E a recomendação é: uma vez que você está lá dentro, recebendo os ensinamentos, não deve manter amizades com quem não está ali também.
Essas pessoas podem vir a colocar alguma ideia na sua cabeça, coisas que vão contra os conceitos apresentados nas reuniões e que podem encaminhar você para o lado errado.
São coisas como drogas, violências, sexo antes do casamento ou colocar a carreira na frente dos interesses bíblicos.
Amizades com pessoas de fora do círculo podem implicar na pessoa se tornar mundana e sair desse meio, virar as costas do chamado 'caminho correto' e ir para o mundo.
Eu não posso falar o motivo que causou minha desassociação porque ainda moro com os meus pais. Mas foi um motivo que, de acordo com as normas bíblicas do TJ, eu sabia desde antes de me batizar que isso poderia me levar a uma desassociação.
Foi um processo bem doloroso, porque eu fiz saber que ia contra as normas — e não imaginei que alguém ia ficar sabendo, que acarretaria tudo isso. Eu simplesmente fiz. A questão toda foi quando foi descoberta.
A desassociação é diferente do desligamento. Existem pessoas que são difíceis pela própria vontade: conversa com os anciãos (líderes) e explica que não mais estar querem ali — qualquer que seja o motivo. No meu caso, eu fui desafiador.
Para os meus pais, foi algo muito tenso. Eles não aceitam muito bem a questão, mas foram eles mesmos que descobriram e levaram o caso para serem discutidos. Quando veio a certeza da desassociação, não tenho nem como definir: foi muito tenso e doloroso.
Eles tiveram toda uma ideia de que ia continuar mais uma geração da família seguindo os princípios da religião e não foi isso que aconteceu.
Na época em que o meu 'erro' foi descoberto, meu pai era ancião. Foi muito falado e comentado — questionaram se ele não cuidava bem da família.
Eles tiveram toda uma ideia de que ia continuar mais uma geração da família seguindo os princípios da religião e não foi isso que aconteceu.
Na época em que o meu 'erro' foi descoberto, meu pai era ancião. Foi muito falado e comentado — questionaram se ele não cuidava bem da família.
Até hoje, não tenho contato com meus tios e primos. Sei de algumas coisas que acontecem porque, como ainda moro com eles, às vezes minha mãe comenta. Mas saber da vida deles, eu não sei. Tenho até uma primeira criança, não sei exatamente a idade dela, e eu nem a conheci.
Eles cortam contato com qualquer pessoa, mesmo familiar, que seja desassociado. E é o fato de ser desassociado, não de ser mundano.
Tenho alguns primos que não seguiram na religião, não foram batizados, e eles são considerados membros da família, frequentam casamentos e festas. No meu caso, esse contato não existe.
Até por ser um círculo muito fechado, onde não é recomendável ter amizades fora da religião, você fica muito restrito naqueles amigos. Quando ocorreu a desassociação, foi devastadora. Eu passei pelas minhas amigas do bairro e elas simplesmente não podiam falar comigo.
Minha mãe me contou, na época, que uma amiga minha ligou em casa chorando e pedindo entusiasmada sobre o que tinha — quando fui desassociada, não pude sair contando para as pessoas.
Quem sabia era quem morava comigo: meu pai, minha mãe, meu irmão e minha avó. Os demais, amigos e pessoas da congregação, souberam quando foi feito o anúncio: 'Fulana de tal não é mais Testemunha de Jeová'. Eles só não falam o motivo.
Ali é trancado todo e qualquer contato até a pessoa ser readmitida. Aí, é feito um novo anúncio dizendo que ela voltou para a religião. Enquanto não há anúncio, todo o contato é cortado. Você passa por essas pessoas e não pode conversar, abraçar, sair.
Você tem que fazer novas amizades, mas se sente extremamente perdida. Se por um lado eu não pude ter contato com pessoas mundanas enquanto TJ, quando fui desassociada não pude ter contato com testemunhas de Jeová. Você se vê sozinha.
A ideia da desassociação é que seja feito um desligamento para a pessoa encontrar o caminho de volta sozinha — para não influenciar os outros no que é errado e sentir falta da religião. É um castigo mesmo. Hoje em dia, não acho que essa disciplina esteja correta.
Fiquei anos em dúvida entre sair de vez ou tentar fazer os devidos arranjos indicados para ser readmitida. Pensava na família, nas pessoas que deixaram lá. Foi bem pesado, mas não penso mais em voltar.
Hoje em dia, não vejo mais as regras e conceitos deles como coisas que posso aplicar na minha vida no século 21. Até a questão da desassociação, eu não vejo como um ato de amor.
Acredito que isso vá contra a ideia bíblica. Na Bíblia, Jesus conta do pastor que deixa o grupo de ovelhas quando uma se perde para ir atrás dela e mostra o caminho de volta. E isso é esquecido na desassociação.
Esse 'voltar sozinho' é muito pesado, principalmente quando se deixou familiares e amigos ali dentro.
> "Marta", 34, nasceu e cresceu entre familiares e amigos testemunhas de Jeová. Ela foi expulsa (desassociada) da religião por ter sido julgada "mundana" por anciões. Esse depoimento ela deu ao UOL.
Comentários
Cada um vive como quer, com os credos, ignorâncias, medos, culpas, superstições e liberdade que conseguir. Os entendimentos equivocados são as raízes dos maiores sofrimentos, mas quem não consegue se livrar de suas amarras tem que viver do jeito que dá.
Abraços
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