Pular para o conteúdo principal

Cresce o número de famílias que prefere ter pets a filhos

O pet parenting significa uma mudança nas prioridades da família, envolvendo aspectos emocionais e financeiros


JULIA VALERI
jornalista
Jornal da USP

Nos últimos anos, tem-se observado um número crescente de pessoas que optaram por ter animais de estimação em vez de filhos. Esse movimento, conhecido como pet parenting ou parentalidade de animais de estimação, reflete uma mudança nos padrões de vida e nas prioridades das pessoas.

O pet parenting envolve a adoção consciente e responsável de animais de estimação, como cães e gatos, e a criação de um vínculo emocional forte e duradouro com esses companheiros de quatro patas. Para muitas pessoas, os animais de estimação tornaram-se membros da família, recebendo amor, cuidado e atenção semelhantes aos que seriam dedicados a uma criança, a tal ponto que os pets são batizados com nomes de pessoas.

Pet, um membro da
família que não
questiona e dá
menos gastos

Raiane Mantovani, veterinária e influencer, escolheu essa forma não convencional de ser “mãe”. Abriu mão de ter filhos e adotou Coraline, uma cachorrinha vira-lata. 

“A maternidade obriga a gente a abdicar de muitas coisas das quais eu não estou disposta. É a minha carreira, meus sonhos, minhas metas”, diz ela. 

“Hoje sou casada e meu marido tem os mesmos objetivos e sonhos, e a nossa cachorrinha Coraline está incluída em todos eles.”

Com 149,6 milhões de animais de estimação, segundo o censo do Instituto Pet Brasil (IPB) de 2021, o Brasil é o terceiro país em número de animais domésticos. Considerando os 215 milhões de brasileiros, pelo menos 70% da população tem um pet em casa ou conhece alguém que tenha.

Assim, a demanda por ambientes pet friendly, amigos de pets, tem se tornado crescente, junto à necessidade de uma ampla gama de produtos, como enxovais, carrinhos para passeio e até mesmo berços e creches para os animais de estimação.

Amor incondicional

Raiane afirma ser essencial que Coraline esteja com ela e seu marido em todos os momentos importantes. “Ao pensar em viagens, hotéis ou até mesmo restaurantes, é fundamental que eles sejam pet friendly e que ela possa aproveitar conosco.”

A veterinária ainda aborda os preconceitos que enfrenta por ser tutora de pet, lidando com comparações sobre as responsabilidades maternas de ter um filho e cuidar de um pet. “Muitas pessoas têm preconceito com o termo ‘mãe de pet’ porque acreditam que os desafios da maternidade são diferentes dos desafios de cuidar de um animal de estimação. No entanto, acredito que a maternidade não se trata apenas de enfrentar desafios, mas sim sobre o amor incondicional que a gente sente por aquele serzinho que a gente cuida com tanto zelo e com tanto carinho, seja ele um pet ou um filho”, relata Raiane.

O professor Sérgio Kodato, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto, acredita que os donos de pets podem adquirir um forte vínculo emocional pelos seus bichos, uma vez que esses animais passam a ocupar o lugar de um filho, tornando-se membro da família, criando hábitos, alterando rotinas de seus donos e até mesmo modificando o financeiro de um lar, fatores que alimentam uma dinâmica familiar.

O amor incondicional pelos pets acaba gerando um desafio significativo, segundo Raiane. Ela acredita que o maior obstáculo é saber que o tempo de vida de um pet é menor comparado ao da vida humana: “O tempo deles é tão curto, por isso procuro sempre proporcionar o melhor para eles, às vezes até exagero”.

Fenômeno

Wlaumir Souza, sociólogo e psicanalista, explica que o fenômeno pet parenting está se tornando cada vez mais comum, devido às condições financeiras e ao encarecimento de ter um filho, além de uma mudança no modelo familiar.

“Nós estamos saindo do modelo da família nuclear familiar para a família pet familiar, isso significa maior isolamento humano diante da incapacidade de comunicação e diálogo.”

Souza explica que os animais não respondem, não questionam e são fiéis aos seus donos e, portanto, são mais fáceis no convívio. “Para ser exato, o tutor do pet não quer uma pessoa independente, com opiniões únicas e pensamento crítico, ele quer alguém que não o questione.”

Kodato chama esse fenômeno moderno de humanização de animais e desumanização de crianças. “Essa perspectiva traz à tona uma série de reflexões e questionamentos sobre a maneira como estamos moldando nossas relações com os animais de estimação e os impactos que isso pode ter no desenvolvimento das crianças.”

O professor ainda informa que, à medida que a atenção e os recursos são desviados dos filhos para os pets, pode ocorrer uma diminuição da interação familiar e da convivência entre pais e filhos.

"Algumas famílias podem concentrar seus esforços emocionais e financeiros no cuidado dos animais, negligenciando aspectos fundamentais do desenvolvimento infantil, como a educação, o apoio emocional e as experiências sociais.”

> Foto: Pixabay

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Psicóloga defende Feliciano e afirma que monstro é a Xuxa

Marisa Lobo fez referência ao filme de Xuxa com garoto de 12 anos A “psicóloga cristã” Marisa Lobo (foto) gravou um vídeo [ver abaixo] de 2 minutos para defender o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da crítica da Xuxa segundo a qual ele é um “monstro” por propagar que a África é amaldiçoada e a Aids é uma “doença gay”. A apresentadora, em sua página no Facebook, pediu mobilização de seus fãs para que Feliciano seja destituído da presidência da Comissão de Direitos Humanos e das Minorias da Câmara. Lobo disse que “monstro é quem faz filme pornô com criança de 12 anos”. Foi uma referência ao filme “Amor Estranho Amor”, lançado em 1982, no qual Xuxa faz o papel de uma prostituta. Há uma cena em que a personagem, nua, seduz um garoto, filho de outra mulher do bordel. A psicóloga evangélica disse ter ficado “a-pa-vo-ra-da” por ter visto nas redes sociais que Xuxa, uma personalidade, ter incitado ódio contra um pastor. Ela disse que as filhas (adolescentes) do pastor são fãs