Organização estima que cem mil pessoas participaram da sétima edição do movimento; Margarida Maria Alves levou um tiro no rosto em 12 de agosto de 1983
Depois foram outras três horas e meia de avião para chegar à capital federal. Ela veio participar pela quinta vez da Marcha das Margaridas e pedir mais direitos e respeito a quem trabalha no campo.
“Essa marcha é um movimento muito importante para as mulheres que vivem na área rural. Que são filhas de trabalhadoras, que são agricultoras, pescadoras, indígenas e quilombolas. Todas as mulheres que vivem nas periferias e áreas urbanas também”, explica Marilene.
“Nós estamos sofrendo alguns problemas muito sérios. Um deles é o desmatamento, as queimadas. Outro é o nosso rio Tapajós que está com muito agrotóxico e alto nível de mercúrio por conta do garimpo na região do Alto Tapajós”.
Marilene é vice-presidente na diretoria executiva da Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós — Arapiuns. A denominada Tapajoara, que representa 24 comunidades presentes na reserva. Juntas elas somam cerca de 3.500 famílias, em torno de 20.000 pessoas em um território que possui mais de 670 mil hectares, nos municípios de Santarém e Aveiro, no Pará.
Para ela, esse é um momento importante: “É a primeira vez que conseguimos trazer um número grande de mulheres extrativistas e indígenas para este evento. E isso vai somar com a busca de políticas públicas para nosso município e nosso território”.
Nesta sétima edição, segundo informações da organização e da polícia militar do Distrito Federal, a Marcha das Margaridas recebeu mais de 100 mil pessoas nos dias 15 e 16 de agosto.
“Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver” foi o título da maior ação de mulheres da América Latina este ano.
Após o período de pandemia e os retrocessos que o governo passado causou, o encontro lembrou a necessidade de se retomar a luta por igualdade, democracia e liberdade. Marilene, as mais de 40 mulheres que vieram da Reserva Extrativista Tapajós — Arapiuns, e as outras milhares de participantes da marcha, em sua maioria, ficaram acampadas durante esses dois dias no Pavilhão do Parque Dona Sarah Kubitschek.
Foram noites frias e dias quentes e secos nas barracas, colchonetes e redes que ocuparam o enorme “galpão” normalmente destinado à eventos.
Apesar da simbologia e das inúmeras flores de todos os tipos e cores que tomaram uma das maiores vias de Brasília, o Eixo Monumental, casa dos principais poderes do país e palco da Marcha das Margaridas, que caminhou cerca de 6 km, o nome do evento é uma homenagem à Margarida Maria Alves.
Margarida era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, uma cidade do interior do estado da Paraíba. Ela foi assassinada com um tiro no rosto, na porta de sua casa, em 12 de agosto de 1983. Aos 50 anos de idade. Foi uma lutadora pelos direitos e por melhores condições de trabalho no campo. Lutou também pela reforma agrária e contra a violência no campo.
No primeiro dia da Marcha das Margaridas de 2023, 15 de agosto, foi aprovado na Câmara dos deputados o projeto de lei que que inclui o nome de Margarida Alves no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Um livro histórico que reúne nomes importantes na história da luta pela democracia e igualdade no Brasil.
JOÃO CANIZARES
jornalista
Agência Pública
Para chegar a Brasília e participar da Marcha das Margaridas, a trabalhadora rural Marilene Rodrigues Rocha, de 54 anos de idade, fez um longo percurso. Viajou cerca de oito horas de barco da sua comunidade Vista Alegre do Muratuba, que fica dentro da Reserva Extrativista Tapajós — Arapiuns até Santarém, no Pará, pelo rio Tapajós.
Depois foram outras três horas e meia de avião para chegar à capital federal. Ela veio participar pela quinta vez da Marcha das Margaridas e pedir mais direitos e respeito a quem trabalha no campo.
“Essa marcha é um movimento muito importante para as mulheres que vivem na área rural. Que são filhas de trabalhadoras, que são agricultoras, pescadoras, indígenas e quilombolas. Todas as mulheres que vivem nas periferias e áreas urbanas também”, explica Marilene.
“Nós estamos sofrendo alguns problemas muito sérios. Um deles é o desmatamento, as queimadas. Outro é o nosso rio Tapajós que está com muito agrotóxico e alto nível de mercúrio por conta do garimpo na região do Alto Tapajós”.
Marilene é vice-presidente na diretoria executiva da Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós — Arapiuns. A denominada Tapajoara, que representa 24 comunidades presentes na reserva. Juntas elas somam cerca de 3.500 famílias, em torno de 20.000 pessoas em um território que possui mais de 670 mil hectares, nos municípios de Santarém e Aveiro, no Pará.
Para ela, esse é um momento importante: “É a primeira vez que conseguimos trazer um número grande de mulheres extrativistas e indígenas para este evento. E isso vai somar com a busca de políticas públicas para nosso município e nosso território”.
Nesta sétima edição, segundo informações da organização e da polícia militar do Distrito Federal, a Marcha das Margaridas recebeu mais de 100 mil pessoas nos dias 15 e 16 de agosto.
“Pela reconstrução do Brasil e pelo bem viver” foi o título da maior ação de mulheres da América Latina este ano.
Agricultoras, pescadoras, indígenas e quilombolas. Todas são Margaridas |
Após o período de pandemia e os retrocessos que o governo passado causou, o encontro lembrou a necessidade de se retomar a luta por igualdade, democracia e liberdade. Marilene, as mais de 40 mulheres que vieram da Reserva Extrativista Tapajós — Arapiuns, e as outras milhares de participantes da marcha, em sua maioria, ficaram acampadas durante esses dois dias no Pavilhão do Parque Dona Sarah Kubitschek.
Foram noites frias e dias quentes e secos nas barracas, colchonetes e redes que ocuparam o enorme “galpão” normalmente destinado à eventos.
Apesar da simbologia e das inúmeras flores de todos os tipos e cores que tomaram uma das maiores vias de Brasília, o Eixo Monumental, casa dos principais poderes do país e palco da Marcha das Margaridas, que caminhou cerca de 6 km, o nome do evento é uma homenagem à Margarida Maria Alves.
Margarida era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, uma cidade do interior do estado da Paraíba. Ela foi assassinada com um tiro no rosto, na porta de sua casa, em 12 de agosto de 1983. Aos 50 anos de idade. Foi uma lutadora pelos direitos e por melhores condições de trabalho no campo. Lutou também pela reforma agrária e contra a violência no campo.
No primeiro dia da Marcha das Margaridas de 2023, 15 de agosto, foi aprovado na Câmara dos deputados o projeto de lei que que inclui o nome de Margarida Alves no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Um livro histórico que reúne nomes importantes na história da luta pela democracia e igualdade no Brasil.
“Só com gerador”
Enquanto falava sobre o dia a dia na Reserva Extrativista, Marilene ficava na ponta dos pés procurando suas companheiras de viagem e de vida entre as milhares de pessoas que se organizavam para sair com a marcha enquanto o sol terminava de nascer. “Lá não tem energia. Só com gerador. Para funcionar tem que comprar combustível e esperar o barco trazer”.
Na comunidade, elas organizaram bingos e conseguiram apoios financeiros para custear passagens de avião de Santarém até Brasília. “A nossa dormida na Marcha das Margaridas foi no chão mesmo, com colchonete que ganhamos de doação ou até de outros companheiros que estavam participando”.
O café da manhã no Pavilhão do Parque Dona Sarah Kubitschek começou a ser servido às 4h da manhã. A marcha partiu às 7h e chegou no gramado em frente ao Congresso Nacional por volta das 10h. A multidão se aglomerou em frente a um palco que devagar foi tomado pelas autoridades.
Entre ministros, deputados e presidentes de entidades estavam mulheres como a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva, a Deputada Federal Célia Xakriabá, a Ministra da Igualdade Racial Anielle Franco e a Secretária de Mulheres da Contag e coordenadora geral da Marcha das Margaridas Mazé Morais.
O evento foi encerrado com discurso do presidente Lula. Ele assinou oito decretos em resposta às demandas das mulheres.
Na comunidade, elas organizaram bingos e conseguiram apoios financeiros para custear passagens de avião de Santarém até Brasília. “A nossa dormida na Marcha das Margaridas foi no chão mesmo, com colchonete que ganhamos de doação ou até de outros companheiros que estavam participando”.
O café da manhã no Pavilhão do Parque Dona Sarah Kubitschek começou a ser servido às 4h da manhã. A marcha partiu às 7h e chegou no gramado em frente ao Congresso Nacional por volta das 10h. A multidão se aglomerou em frente a um palco que devagar foi tomado pelas autoridades.
Entre ministros, deputados e presidentes de entidades estavam mulheres como a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva, a Deputada Federal Célia Xakriabá, a Ministra da Igualdade Racial Anielle Franco e a Secretária de Mulheres da Contag e coordenadora geral da Marcha das Margaridas Mazé Morais.
O evento foi encerrado com discurso do presidente Lula. Ele assinou oito decretos em resposta às demandas das mulheres.
> Este texto foi publicado originalmente com o título 100 mil mulheres lotaram Brasília na Marcha das Margaridas.
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