Na fronteira, quem não for fuzilado tem direito de escolha: tiro na perna direita ou na esquerda
MARÍLIA FIORILIO
Professora de Filosofia Política e Retórica
MARÍLIA FIORILIO
Professora de Filosofia Política e Retórica
da Escola de Comunicações e Artes da USP
Jornal da USP
A velocidade de disseminação de fake news e deep fakes é assustadora, assim como os danos provocados. Mas talvez notícias reais e verificadas por fontes de alta credibilidade não fiquem nada a dever, em termos de urgência e emergência para sua solução.
Jornal da USP
A velocidade de disseminação de fake news e deep fakes é assustadora, assim como os danos provocados. Mas talvez notícias reais e verificadas por fontes de alta credibilidade não fiquem nada a dever, em termos de urgência e emergência para sua solução.
Estamos nos referindo ao aumento exponencial das violações aos direitos humanos, em particular àquelas que afetam o universo gigante de migrantes que fogem de guerras e da fome.
Um relatório da Human Rights Watch, publicado esta semana pela BBC, acusa a Arábia Saudita de promover o assassinato em massa de migrantes que tentam entrar no país em busca de trabalho na indústria de petróleo. Aqueles que se arriscam são abatidos a tiros pelos guardas de fronteira.
Governada de fato pelo príncipe Mohamed Bin Salman (o mesmo que encomendou o esquartejamento do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul), a Arábia Saudita, graças à amizade e zelo de seus amigos poderosos, consegue o feito de acobertar crimes que, se fossem cometidos no Irã, Crimeia ou Venezuela, seriam manchetes.
Governada de fato pelo príncipe Mohamed Bin Salman (o mesmo que encomendou o esquartejamento do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul), a Arábia Saudita, graças à amizade e zelo de seus amigos poderosos, consegue o feito de acobertar crimes que, se fossem cometidos no Irã, Crimeia ou Venezuela, seriam manchetes.
O relatório, intitulado They fired on us like rain (Atiram na gente como uma chuva), descreve em detalhes como as pessoas (a maioria etíopes) são alvos de explosivos e tiroteios da polícia quando tentam cruzar a fronteira do Iêmen.
Os sobreviventes, que já haviam sido submetidos à extorsão do tráfico humano e jornadas penosas, acabam encurralados no Iêmen (alguns em campos de detenção na capital Saana) ou voltando, feridos, à Etiópia.
Conforme a Organização Mundial para a Migração, da ONU, mais de 200 mil pessoas por ano tentam essa perigosa travessia do Chifre da África para o Iêmen, e de lá para o Eldorado saudita.
Crimes contra a humanidade não são privilégio do século 21. Basta lembrar os campos da morte no Camboja, durante o odioso regime do Khmer Vermelho e Pol Pot.
A novidade é a escala e o padrão adotados pelo governo saudita. Basta dizer que a polícia de fronteira pergunta às suas vítimas se preferem levar um tiro na perna esquerda ou direita. “São assassinatos em massa”, diz o relatório sobre o período entre março de 22 e junho de 2023FF.
É esperado, mesmo desejável para nossa saúde mental, que se dê mais relevo à chegada na Lua de uma espaçonave da Índia. Mas seria importante que não se sonegasse da opinião pública fatos tão graves como esses.
É esperado, mesmo desejável para nossa saúde mental, que se dê mais relevo à chegada na Lua de uma espaçonave da Índia. Mas seria importante que não se sonegasse da opinião pública fatos tão graves como esses.
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