Há pessoas para as quais Jesus não tem nenhum significado; e a Bíblia nada tem a ver com Deus, mas com política e poder
BERNARDO CARVALHO
romancista
Folha de S.Paulo
Há algumas semanas, durante um megaevento evangélico, o pastor Silas Malafaia, velho comparsa de Jair Bolsonaro, disse que o Brasil é de Jesus. Não é, mas vai que cola.
Em tese o Brasil é dos brasileiros e entre eles há muitos para quem Jesus não diz absolutamente nada. Há também quem não acredite em Deus. Nenhum Deus. O Brasil, que ainda é uma república e uma democracia, também é deles.
Dizer que o Brasil é de Jesus é uma maneira esperta de dizer que o Brasil é de quem fala em nome de Jesus, já que Jesus não fala por si. Nem Deus. Se falassem, quem fala por eles seria obrigado a calar a boca. E sair de fininho, se tivesse sorte. Imagine Silas Malafaia dizendo que o Brasil é de Silas Malafaia e de sua turma, na frente de Jesus. Não pegava bem. O que leva a crer que, para falar com segurança e tranquilidade em nome de Deus, só tendo certeza de que ele não vai aparecer ou não existe.
Os gays costumam ser uma obsessão de quem fala em nome de Jesus. E não só. Mundo afora a população LGBTQIA+ é alvo das fantasias mais raivosas e assassinas dos porta-vozes de Deus. Vai saber por quê. Os próprios incomodados não sabem responder. Não sabem exatamente onde está o problema nem a lógica. Repetem que está na Bíblia ou no Corão. É estranho que quem não respeita a vida dos outros espere que respeitem a sua. Também está na Bíblia. A Bíblia está cheia de contradições.
A Bíblia existe bem antes de Jesus nascer. Foi escrita há milhares de anos, ao longo de séculos, por gerações de escribas anônimos. Recém-publicado pela Cambridge University Press, "Why the Bible Began" (por que a Bíblia teve início), de Jacob L. Wright, professor de estudos bíblicos da Universidade Emory, tenta dar uma resposta histórica para a origem do Velho Testamento. Não tem a ver com Deus, mas com os homens, com poder e política, com a invenção e a sobrevivência de um povo e de uma nação.
BERNARDO CARVALHO
romancista
Folha de S.Paulo
Há algumas semanas, durante um megaevento evangélico, o pastor Silas Malafaia, velho comparsa de Jair Bolsonaro, disse que o Brasil é de Jesus. Não é, mas vai que cola.
Em tese o Brasil é dos brasileiros e entre eles há muitos para quem Jesus não diz absolutamente nada. Há também quem não acredite em Deus. Nenhum Deus. O Brasil, que ainda é uma república e uma democracia, também é deles.
Dizer que o Brasil é de Jesus é uma maneira esperta de dizer que o Brasil é de quem fala em nome de Jesus, já que Jesus não fala por si. Nem Deus. Se falassem, quem fala por eles seria obrigado a calar a boca. E sair de fininho, se tivesse sorte. Imagine Silas Malafaia dizendo que o Brasil é de Silas Malafaia e de sua turma, na frente de Jesus. Não pegava bem. O que leva a crer que, para falar com segurança e tranquilidade em nome de Deus, só tendo certeza de que ele não vai aparecer ou não existe.
Velho comparsa de Bolsonaro |
Os gays costumam ser uma obsessão de quem fala em nome de Jesus. E não só. Mundo afora a população LGBTQIA+ é alvo das fantasias mais raivosas e assassinas dos porta-vozes de Deus. Vai saber por quê. Os próprios incomodados não sabem responder. Não sabem exatamente onde está o problema nem a lógica. Repetem que está na Bíblia ou no Corão. É estranho que quem não respeita a vida dos outros espere que respeitem a sua. Também está na Bíblia. A Bíblia está cheia de contradições.
A Bíblia existe bem antes de Jesus nascer. Foi escrita há milhares de anos, ao longo de séculos, por gerações de escribas anônimos. Recém-publicado pela Cambridge University Press, "Why the Bible Began" (por que a Bíblia teve início), de Jacob L. Wright, professor de estudos bíblicos da Universidade Emory, tenta dar uma resposta histórica para a origem do Velho Testamento. Não tem a ver com Deus, mas com os homens, com poder e política, com a invenção e a sobrevivência de um povo e de uma nação.
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