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Implante de eletrodos no pescoço é indicado para tratar de depressão resistente, diz médico

Aplicado pela primeira vez no Brasil, o tratamento consiste em estimular o nervo vago; Anvisa aprovou o aparelho


Um implante para tratar depressão resistente será aplicado pela primeira vez no Brasil. O aparelho, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já foi usado para controlar crises epilépticas anteriormente. Dois pacientes receberão implantes do aparelho, que estimula o nervo vago. 

Leandro Valiengo
, médico e coordenador do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, afirma que a depressão é a doença que mais incapacita no mundo. 

Ainda que existam tratamentos para o distúrbio, até um terço dos pacientes não melhora, o que pode resultar em um caso de depressão resistente, termo usado para classificar aqueles pacientes que têm a doença e que não respondem a dois tratamentos com medicações antidepressivas em doses adequadas e por um período de tempo determinado.

O acompanhamento feito pelos profissionais pode durar a vida toda, dependendo da gravidade dos casos.

“Se você tiver um episódio depressivo na vida e depois do tratamento ficar tudo bem, não será preciso tratamento a longo prazo, apenas pelos próximos meses ou até por um ano", diz. 

"Quando um paciente tem mais de três episódios depressivos na vida, a chance de voltar a ter é muito alta, acima de 80%, o que pode resultar em tratamento e acompanhamento pelo resto da vida, ou por um tempo muito extenso.” 

Valiengo informa que
o tratamento já é usado
para tratar epilepsia

Com o tratamento de longo prazo e de difícil processo, o médico destaca o desafio do estigma social sobre essa condição mental, na medida em que contribui para um receio em recorrer à ajuda psicológica e psiquiátrica.

Por isso, afirma ele, os médicos buscam cada vez mais desenvolver pesquisas a fim de melhorar os tratamentos para a condição.

O tratamento

O aparelho usado para tratar esses casos de depressão já é conhecido na comunidade médica. Desde a década de 1990, segundo o médico, esse dispositivo, que é implantado na região do pescoço para estimular o nervo vago, já era usado para tratar pacientes com quadros de epilepsia.

“Pacientes com epilepsia têm um fator de risco maior para ter depressão. Depois do tratamento, os médicos perceberam que esses pacientes também melhoraram seus quadros depressivos, então criou-se uma hipótese: será que esse procedimento também serve para tratar depressão, independentemente da epilepsia?”

No final dos anos 1990, principalmente nos Estados Unidos, iniciaram-se estudos para o tratamento específico de pacientes com depressão através da estimulação do nervo vago.

Os momentos iniciais da análise mostraram que os pacientes tinham taxas de resposta entre 20% e 30%. Em cinco anos de seguimento, os estudos mostraram que as taxas de respostas aumentaram, chegando a 67% de melhora. 

Os indivíduos que não aderiram ao aparelho tiveram 40% de melhora. Já nos casos de remissão da doença – quando os sintomas somem totalmente –, as taxas atingiram 43%.

O médico acrescenta que, mesmo com a implantação do aparelho, os pacientes ainda podem continuar com outros procedimentos simultâneos, como terapias e usos de medicamentos controlados. Valiengo explica que, caso haja uma melhora nos sintomas, os pacientes provavelmente ficarão com o aparelho pelo resto da vida, realizando os ajustes necessários ao longo do tempo. 

Por se tratar de uma cirurgia, o procedimento pode causar uma infecção – o que não é comum, acrescenta o médico. Outros efeitos colaterais mais comuns são tosse e rouquidão, já que o nervo vago possui um controle das cordas vocais.

Com informação de 

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