A herbácea tem folhas recobertas por pelos (tricomas) brancos, uma característica incomum em bromélias.
Uma bromélia com folhas aveludadas e cheia de pelos foi descoberta recentemente por pesquisadores brasileiros, com a participação de um cidadão cientista.
Os pesquisadores alertam para a conservação da Krenakanthus ribeiranus, que já nasce extremamente ameaçada.
AGÊNCIA BORI
A nova espécie foi nomeada Krenakanthus ribeiranus e a sua descrição está publicada nesta quinta (5), na revista Phytotaxa, em artigo assinado por pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) e das universidades federais de São João del-Rei (UFSJ), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Rio de Janeiro (UFRJ).
A bromélia-peluda foi encontrada em novembro de 2022 em uma montanha no município de Alvarenga, no vale do rio Doce, em Minas Gerais.
A bromélia-peluda foi encontrada em novembro de 2022 em uma montanha no município de Alvarenga, no vale do rio Doce, em Minas Gerais.
A descoberta teve um início inesperado, quando Júlio César Ribeiro, morador da região, explorava uma área com muitas cachoeiras. Em um paredão rochoso, ele se deparou com pequenas plantas de folhas verdes pálidas e, entre as folhas, havia uma pequena flor de cor rosa.
“Além de ser uma planta que eu nunca tinha visto na região, as folhas peludas, como as do capim, chamaram a minha atenção, e também as flores saindo no meio das folhas”, conta Ribeiro, que fotografou a planta e enviou as fotos para os pesquisadores, que já desenvolvem estudos naquela região.
“Quando se fala em bromélias, a imagem mais comum que vem à mente é de plantas com folhas brilhantes que acumulam água ou de plantas espinhentas como o abacaxi. É difícil imaginar uma bromélia com folhas aveludadas e cheia de pelos e isso é só um dos motivos que tornam essa descoberta tão empolgante”, explica Dayvid Couto, pesquisador do INMA.
“Quando se fala em bromélias, a imagem mais comum que vem à mente é de plantas com folhas brilhantes que acumulam água ou de plantas espinhentas como o abacaxi. É difícil imaginar uma bromélia com folhas aveludadas e cheia de pelos e isso é só um dos motivos que tornam essa descoberta tão empolgante”, explica Dayvid Couto, pesquisador do INMA.
“Essa planta é tão diferente que, quando recebemos a foto enviada pelo Júlio, achamos que ela pudesse ser várias outras espécies, menos uma bromélia!”, revela o especialista. Isso porque, entre outras características, a planta possui as folhas recobertas por pelos (tricomas) brancos, uma característica incomum em bromélias.
Os pelos da bromélia-peluda podem ter como função absorver água ou proteger contra a perda de água para o ambiente, sugerem os pesquisadores no estudo. “Antes da descoberta dessa nova espécie, apenas uma outra espécie, que não é peluda, era conhecida do gênero Krenakanthus, cujo nome significa ‘flor dos Krenak’, uma homenagem ao povo originário dessa região, no vale do rio Doce”, conta Paulo Gonella, co-autor do estudo, professor da UFSJ.
O epíteto dessa nova espécie, ribeiranus, é uma homenagem ao seu descobridor, Júlio César Ribeiro. Segundo Gonella, “a homenagem é um reconhecimento ao olhar apurado do Júlio, que já contribuiu na descoberta de outras espécies da região, atuando como cidadão cientista”.
A ciência cidadã é uma parceria entre cientistas e cidadãos no desenvolvimento da pesquisa científica, na qual os cidadãos podem participar em várias fases da pesquisa, como coleta, interpretação e análise de dados, e na elaboração conjunta de projetos para responder questões científicas.
Os pelos da bromélia-peluda podem ter como função absorver água ou proteger contra a perda de água para o ambiente, sugerem os pesquisadores no estudo. “Antes da descoberta dessa nova espécie, apenas uma outra espécie, que não é peluda, era conhecida do gênero Krenakanthus, cujo nome significa ‘flor dos Krenak’, uma homenagem ao povo originário dessa região, no vale do rio Doce”, conta Paulo Gonella, co-autor do estudo, professor da UFSJ.
O epíteto dessa nova espécie, ribeiranus, é uma homenagem ao seu descobridor, Júlio César Ribeiro. Segundo Gonella, “a homenagem é um reconhecimento ao olhar apurado do Júlio, que já contribuiu na descoberta de outras espécies da região, atuando como cidadão cientista”.
A ciência cidadã é uma parceria entre cientistas e cidadãos no desenvolvimento da pesquisa científica, na qual os cidadãos podem participar em várias fases da pesquisa, como coleta, interpretação e análise de dados, e na elaboração conjunta de projetos para responder questões científicas.
Os pelos brancos da Krenakanthus ribeiranus surpreenderam os estudiosos FOTO: JÚLIO CÉSAR RIBEIRO / ARQUIVO PESQUISADORES |
“No caso dessa pesquisa, o Júlio contribuiu desde o levantamento de uma questão que era ‘que espécie é essa que eu não conheço?’ até a coleta de dados, fundamental não só para confirmar que se tratava de uma espécie nova, mas também para estimar seu risco de extinção”, completa Gonella.
Os pesquisadores alertam para a conservação da Krenakanthus ribeiranus, que já nasce extremamente ameaçada.
“Com base na distribuição muito restrita e no avançado grau de degradação da região onde foi encontrada, nós avaliamos essa espécie como Criticamente em Perigo de Extinção, o grau mais alto de risco”, destaca Eduardo Fernandez, coordenador de Projeto Núcleo de Avaliação do Estado de Conservação da Flora, do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), órgão do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) responsável pela elaboração da Lista Vermelha Nacional.
No estudo, os pesquisadores destacam ameaças à espécie e ao seu habitat, como o desmatamento para abertura de pastagens, o aumento na frequência e na intensidade de incêndios descontrolados e a expansão das lavouras de café.
No estudo, os pesquisadores destacam ameaças à espécie e ao seu habitat, como o desmatamento para abertura de pastagens, o aumento na frequência e na intensidade de incêndios descontrolados e a expansão das lavouras de café.
Fernandez salienta que “algumas medidas urgentes precisam ser tomadas para a proteção dessa espécie, como um estudo para a criação de uma Unidade de Conservação e a inclusão da espécie em políticas de conservação que vêm sendo elaboradas para a região. Essas medidas, combinadas a outras estratégias de conservação, podem nos ajudar a assegurar um futuro próspero para a bromélia-peluda”.
A descoberta se soma a diversos outros achados recentes realizados nas serras do leste de Minas Gerais, que consolidam a região como uma das últimas fronteiras do conhecimento botânico no sudeste do Brasil.
A descoberta se soma a diversos outros achados recentes realizados nas serras do leste de Minas Gerais, que consolidam a região como uma das últimas fronteiras do conhecimento botânico no sudeste do Brasil.
Só na última década, mais de 30 novas espécies de plantas foram descobertas na região. “Além de abrigarem uma biodiversidade única, essas serras funcionam como ‘caixas d’água’, protegendo nascentes que abastecem os municípios da região e que foram fundamentais para assegurar água de qualidade para muitas cidades quando o rio Doce foi afetado pelo desastre de Mariana”, comenta Gonella.
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