Psicólogo aponta a solidariedade entre os homens como fator que tende a perpetuar a hegemonia da masculinidade
HUGO LUQUE
jornalista
Jornal da USP
O machismo se desenvolve de várias formas na sociedade, e uma das mais discretas e poderosas é a cumplicidade entre homens, de modo que vários tipos de violência acabam escondidos ou minimizados.
Recentemente, o caso que envolveu Neymar e a traição à sua namorada colocou o tema em alta e dividiu as redes sociais. O motivo, além da traição, assumida publicamente em uma publicação realizada pelo jogador, foi o número de comentários apoiando o atleta.
Para André Villela de Souza Lima Santos, psicólogo, mestrando pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicologia da Saúde de Ribeirão Preto da USP e cocoordenador do grupo Masculinidades, que estuda gênero e questões relativas às masculinidades, esse tipo de atitude não apenas reforça o discurso machista, mas o perpetua de forma ativa.
“A cumplicidade entre os homens não só intensifica o discurso machista, mas é uma forma de manutenção do machismo em si, não só enquanto enunciado, mas enquanto prática. A cumplicidade é uma das principais características do machismo em si", diz.
Para André Villela de Souza Lima Santos, psicólogo, mestrando pelo Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicologia da Saúde de Ribeirão Preto da USP e cocoordenador do grupo Masculinidades, que estuda gênero e questões relativas às masculinidades, esse tipo de atitude não apenas reforça o discurso machista, mas o perpetua de forma ativa.
“A cumplicidade entre os homens não só intensifica o discurso machista, mas é uma forma de manutenção do machismo em si, não só enquanto enunciado, mas enquanto prática. A cumplicidade é uma das principais características do machismo em si", diz.
"Claro, não dá para falar de um grupo de homens, de uma forma de machismo, mas essa cumplicidade, principalmente a vista no caso do Neymar, é uma forma de se desresponsabilizar pelas práticas machistas. Então não se fala sobre, não se traz à tona nenhuma reflexão sobre isso. Isso é sempre varrido para debaixo do tapete, não é conversado. É como se o problema não existisse.”
E as mulheres?
E as mulheres?
A cumplicidade é uma das caracterizas do machismo IMAGEM: DALL·E |
Letícia Carolina Boffi, psicóloga, mestra e doutoranda em Psicologia no mesmo laboratório de Santos, além de coordenadora do Videverso, grupo de ação e pesquisa em diversidade sexual e de gênero, acredita que, por terem sido criadas no mesmo ambiente patriarcal desses homens, as mulheres, muitas vezes, também colaboram para que esse tipo de comportamento seja reforçado e, por vezes, encorajado.
“O que fundamenta a noção de patriarcado, de machismo e de masculinidade tóxica é a submissão das mulheres para os homens. Então, se as mulheres se unissem e tivessem o mesmo nível de proteção que os homens têm entre eles, estaríamos quebrando essa masculinidade hegemônica. É o que é difícil de acontecer”, pontua.
Letícia afirma que são as pequenas ações do dia a dia que validam a cumplicidade entre os homens em temas delicados, em que não deveria haver apoio. Ela menciona que “nós somos ensinadas a ver a outra como interesseira, como rival, a partir de uma competição. Se nós nos vemos dessa forma, também alimentamos o patriarcado. Nós também somos pessoas que acabam, vez ou outra, reproduzindo o patriarcado”.
Por isso, a psicóloga acredita que o melhor caminho para combater essa parceria indevida é também por meio da cumplicidade e união, mas entre as mulheres.
“A gente pode começar pensando sobre como nós olhamos outras mulheres, questionando esses olhares sociais de submissão do patriarcado que nós temos também como herança e que também é fonte da nossa subjetividade.”
Para chegar ao ponto desejado, a especialista explica que é importante se questionar. “Ao olharmos para essa mulher que é vítima dessas violências, que é vítima dessa exposição, como é que eu olho para ela? Eu julgo as escolhas dela? Eu compreendo e tenho compaixão? Eu penso em como eu poderia acolher essa mulher, no lugar de violentá-la, em expô-la mais? Então, acho que a gente começa pensando, principalmente, como eu olho para essa mulher.” (Com supervisão de Ferraz Jr.)
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Para chegar ao ponto desejado, a especialista explica que é importante se questionar. “Ao olharmos para essa mulher que é vítima dessas violências, que é vítima dessa exposição, como é que eu olho para ela? Eu julgo as escolhas dela? Eu compreendo e tenho compaixão? Eu penso em como eu poderia acolher essa mulher, no lugar de violentá-la, em expô-la mais? Então, acho que a gente começa pensando, principalmente, como eu olho para essa mulher.” (Com supervisão de Ferraz Jr.)
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