Estudo analisa a vegetação dos ecossistemas rupestres e os impactos gerados nela pelas alterações climáticas
CAMILLA ALMEIDA
Foram realizados testes de correlações para verificar o impacto das alterações climáticas nos índices de diversidade. A vegetação instalada nas áreas estudadas é próxima evolutivamente – o que implica em um compartilhamento de características importantes que asseguram sua sobrevivência em tais ambientes. Contudo, com a alteração de clima, espécies de outros tipos de vegetação e com diferentes aspectos podem se estabelecer nas localidades.
“Isso pode gerar problemas como invasão biológica. Se espécies que ocorrem naturalmente fora desses ambientes encontram condições para se estabelecer e formar populações viáveis, as espécies locais podem ter suas populações reduzidas, já que há outras espécies competindo pelos mesmos recursos e nutrientes e as condições climáticas já não são mais ideais para sua manutenção”, diz Massante.
CAMILLA ALMEIDA
jornalista
Jornal da USP
Paisagens que escapam das visões clássicas de diversidade biológica também guardam informações valiosas sobre a vida no Planeta. Esse é o caso dos ecossistemas rupestres, que se desenvolvem em condições consideradas extremas. Entre eles estão os campos rupestres, como os que crescem nos solos ácidos da Chapada Diamantina (BA); as cangas, vegetação das crostas de ferro da Serra dos Carajás (PA); e os campos de altitude, encontrados na Serra Geral, no Sul do país.
Paisagens que escapam das visões clássicas de diversidade biológica também guardam informações valiosas sobre a vida no Planeta. Esse é o caso dos ecossistemas rupestres, que se desenvolvem em condições consideradas extremas. Entre eles estão os campos rupestres, como os que crescem nos solos ácidos da Chapada Diamantina (BA); as cangas, vegetação das crostas de ferro da Serra dos Carajás (PA); e os campos de altitude, encontrados na Serra Geral, no Sul do país.
Pesquisa do Instituto de Biociências (IB) da USP, do Instituto Tecnológico Vale e da University of Tartu, da Estônia, buscou analisar a diversidade evolutiva da vegetação de ambientes como estes. Os pesquisadores constataram que, mesmo com suas adaptações, a flora sofre impactos das mudanças climáticas.
A diversidade evolutiva, ou filogenética, diz respeito a uma medida de biodiversidade que se baseia nas relações evolutivas entre um grupo de espécies.
A diversidade evolutiva, ou filogenética, diz respeito a uma medida de biodiversidade que se baseia nas relações evolutivas entre um grupo de espécies.
“Não existe tanta informação disponível sobre biomas rupestres. Então, quando surgiu a oportunidade de estudar esse assunto, achei que seria interessante tentar entender a diversidade evolutiva de plantas e sua relação com o clima”, explica Johnny Massante, pós-doutorando no IB, ao Jornal da USP.
No canto superior esquerdo, um campo rupestre; no superior direito, a canga; no inferior esquerdo, campo de altitude; e no inferior direto, o inselbergue REPRODUÇÃO DA IMAGEM: WHENDEL SILVA |
Foram realizados testes de correlações para verificar o impacto das alterações climáticas nos índices de diversidade. A vegetação instalada nas áreas estudadas é próxima evolutivamente – o que implica em um compartilhamento de características importantes que asseguram sua sobrevivência em tais ambientes. Contudo, com a alteração de clima, espécies de outros tipos de vegetação e com diferentes aspectos podem se estabelecer nas localidades.
“Isso pode gerar problemas como invasão biológica. Se espécies que ocorrem naturalmente fora desses ambientes encontram condições para se estabelecer e formar populações viáveis, as espécies locais podem ter suas populações reduzidas, já que há outras espécies competindo pelos mesmos recursos e nutrientes e as condições climáticas já não são mais ideais para sua manutenção”, diz Massante.
Ele ainda alerta para o perigo de extinção de espécies endêmicas – aquelas próprias de tais áreas e que detém características muito específicas de sobrevivência.
O estudo levou em consideração quase 6 mil espécies vegetais lenhosas e ervas de 129 localidades de paisagens antigas, climaticamente estáveis e com solos inférteis – OCBILs, em inglês.
O estudo levou em consideração quase 6 mil espécies vegetais lenhosas e ervas de 129 localidades de paisagens antigas, climaticamente estáveis e com solos inférteis – OCBILs, em inglês.
Foram analisadas áreas de campos rupestres, campos de altitude, cangas e inselbergues (formações rochosas isoladas em meio a superfícies planas, como os monólitos de Quixadá, no sertão do Ceará).
Além disso, dados de variação de temperatura e precipitação foram levados em consideração para calcular métricas de biodiversidade para cada área. Traçada a estrutura, foi possível inferir que em ecossistemas rupestres, a vegetação não possui uma grande idade e diversidade evolutivas, e que as espécies possuem um alto grau de parentesco.
“Geralmente ambientes montanhosos são considerados verdadeiras arenas de rápida e recente evolução porque pesquisas já mostraram que a taxa de geração de novas espécies nesses ambientes é muito alta. A literatura também sugere que ambientes climaticamente mais estáveis permitem a persistência de linhagens de plantas diversificadas em tempos mais remotos”, explica o pesquisador.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), há uma probabilidade de 66% de a média anual de aquecimento ultrapassar o limite de 1,5°C nos próximos cinco anos.
“Geralmente ambientes montanhosos são considerados verdadeiras arenas de rápida e recente evolução porque pesquisas já mostraram que a taxa de geração de novas espécies nesses ambientes é muito alta. A literatura também sugere que ambientes climaticamente mais estáveis permitem a persistência de linhagens de plantas diversificadas em tempos mais remotos”, explica o pesquisador.
Conservação e preservação
Os biomas rupestres são conhecidos pela sua flora de características marcantes: árvores com folhas pequenas, espessas e quebradiças. Essas são adaptações que dificultam a perda de nutrientes e água, assim auxiliando as plantas a viverem em um ambiente onde tais elementos são escassos. Essas áreas ainda contam com um alto grau de endemismo e são essenciais para a manutenção de múltiplos rios e nascentes.De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), há uma probabilidade de 66% de a média anual de aquecimento ultrapassar o limite de 1,5°C nos próximos cinco anos.
O aumento da temperatura mundial pode ocasionar graves consequências para a fauna e a flora mundial em larga escala. Dentro desse preocupante cenário, o pesquisador destaca a necessidade de estudos sobre tais impactos negativos sobre essas vegetações a fim de se traçar estratégias de conservação e restauração.
Além disso, o baixo número de pesquisas que exploram a biodiversidade de ecossistemas rupestres também desperta preocupação no especialista.
Além disso, o baixo número de pesquisas que exploram a biodiversidade de ecossistemas rupestres também desperta preocupação no especialista.
“A quantidade de estudos nessas regiões é comparativamente menor do que comparada à florestas. No entanto, as vegetações rupestres são cruciais, comparáveis em importância com as florestas. Sua diversidade extraordinária de plantas desempenha funções essenciais nos ecossistemas, como a preservação de rios”, explica Massante.
> Os resultados do estudo foram publicados no artigo Looking similar but all different: Phylogenetic signature of Brazilian rocky outcrops and the influence of temperature variability on their phylogenetic structure, na revista Journal of Ecology. Mais informações: email jhonny.massante@usp.br, com Jhonny Capichoni Massante.
> Os resultados do estudo foram publicados no artigo Looking similar but all different: Phylogenetic signature of Brazilian rocky outcrops and the influence of temperature variability on their phylogenetic structure, na revista Journal of Ecology. Mais informações: email jhonny.massante@usp.br, com Jhonny Capichoni Massante.
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