Pular para o conteúdo principal

É promissor o estudo sobre a existência de novo planeta no sistema solar, diz astrônomo

Cálculos estimam que o Planeta 9 seria entre 1,5 a três vezes maior que a Terra; um dos autores do estudo é brasileiro que mora no Japão


RENATO COELHO
jornalista

Jornal da UNESP

Haverá um planeta ainda desconhecido vagando pelo Sistema Solar? É o que sugere uma pesquisa conduzida por astrônomos de universidades japonesas que ganhou grande repercussão, publicada em setembro de 2023 na revista The Astronomical Journal.

Os estudiosos sugerem que um astro de expressivas dimensões pode existir em uma área situada depois da órbita de Netuno, chamada Cinturão de Kuiper.

Os pesquisadores buscaram por perturbações nas órbitas de objetos situados na região do Cinturão de Kuiper que possam indicar a influência gravitacional de algum corpo de maiores dimensões.

Os cálculos dos astrônomos sugerem a possibilidade da existência de um objeto com tamanho entre 1,5 e três vezes o da Terra, e seguindo uma órbita com inclinação de 30 graus em relação ao plano do Sistema Solar.

Othon Winter, físico, astrônomo e professor da Unesp no Campus de Guaratinguetá, diz que a pesquisa se destaca por seu ineditismo, embora a possibilidade de um planeta desconhecido no Sistema Solar já tenha sido proposta antes.

Ele explica que o novo estudo se baseia na observação dos chamados objetos transnetunianos. Eles têm este nome porque estão situados além da órbita de Netuno, que é o planeta mais distante conhecido.

O novo planeta estaria
"escondido" próximo
ao Cinturão de Kuiper
IMAGEM ILUSTRATIVA

Ao estudarem alguns desses corpos, os estudiosos observaram a ocorrência de alguns padrões em suas órbitas, incluindo alguns alinhamentos. A ocorrência desses padrões poderia ser sinal da influência exercida por algum corpo de dimensões maiores nas proximidades. Segue daí a proposta dos estudiosos quanto à existência de um planeta desconhecido na região.

Netuno fica a uma distância de quase 30 unidades astronômicas – uma unidade astronômica equivale a aproximadamente 150 milhões de km. Logo após da sua órbita origina-se a região do Sistema Solar denominada Cinturão de Kuiper.

“Um estudo semelhante foi apresentado há alguns anos, que sugeria a existência de um objeto que foi chamado de planeta nove. Este planeta nove, porém, ficaria a uma distância imensa, da ordem de muitas e muitas centenas de unidades astronômicas”, diz Winter.

“Agora, o que está sendo sugerido é a existência de um objeto mais próximo da região do Cinturão de Kuiper,"

No Cinturão de Kuiper são encontradas rochas geladas e certos objetos de maior parte, que chegam a ser classificados como planetas anões. Estão nessa categoria Plutão, Quaoar, Orcus e Makemake. Todos, porém, são muito menores do que a Terra. Mesmo Plutão, que já foi classificado como planeta no passado, tem apenas 18% do tamanho da Terra, ou seja, é menor até do que a Lua.

Descoberta de Netuno seguiu roteiro semelhante

Os principais autores do novo estudo são Patryk Lykawka, da Universidade Kindai, e Takashi Ito, do Observatório Astronômico Nacional do Japão.

“Acho interessante salientar que, embora muitas notícias digam que os autores do estudo são todos japoneses, seu primeiro autor, Patryk Lykawka, é um brasileiro e colega nosso, ainda que more no Japão há décadas”, diz Winter.

O docente da Unesp diz que a descoberta de Netuno, o último planeta localizado no Sistema Solar, em 1846, seguiu um roteiro mais ou menos parecido com o que está sendo proposto pelo novo artigo.

 “Os astrônomos do século 19 observavam a órbita de Urano, que era o último planeta conhecido, mais distante, e constatavam um comportamento um pouco estranho. A forma para explicar esse comportamento foi assumir que existisse um planeta depois de Urano perturbando sua órbita”, conta.

A partir dessa previsão, os astrônomos observacionais passaram a buscar por observações do hipotético oitavo planeta em seus telescópios. Assim Netuno foi finalmente encontrado.

“Por essa abordagem primeiro, se produz a teoria e depois vem a procura do objeto. Se esse corpo realmente existir e for encontrado, seria uma repercussão gigantesca. Afinal, os planetas que a gente conhece foram descobertos há mais de um século”.

Winter diz que, embora o estudo seja preliminar, apresenta resultados bastante fortes, que servem como indícios. Porém, é preciso desenvolver muitos outros trabalhos teóricos e aperfeiçoar o que se sabe até agora. 

“Em paralelo a esse trabalho teórico, é provável também que o pessoal de observação comece a ampliar a procura nessa região, buscando aperfeiçoar os dados. Esse aperfeiçoamento permite restringir a região onde se irá procurar o objeto. Devido as imprecisões que este estudo apresenta, não é fácil fazer esta busca”, diz.

O debate sobre o conceito de planeta

Em 2006, por decisão tomada durante a Assembleia Geral da União Astronômica Internacional (IAU), realizada na República Tcheca, Plutão, que até então era contabilizado como o nono planeta do Sistema Solar, perdeu este status. O motivo foi a elaboração de uma nova definição do termo planeta aprovada pela IAU, que resultou no reconhecimento de apenas oito planetas em nossas vizinhanças.

Othon Winter explica as causas para o que ficou conhecido como “rebaixamento”, de Plutão. “Após a descoberta de Netuno, posteriormente foram observadas certas perturbações em sua órbita, e sugeriu-se que poderiam indicar a existência de outro planeta. Só que os cálculos estavam errados; na verdade, não havia nenhuma perturbação significativa na órbita de Netuno. Mas, mesmo assim, os astrônomos começaram a procurar outro planeta e encontraram Plutão. Foi o primeiro corpo que se observou além da órbita de Netuno”, relata. 

Porém, com o tempo ficou claro que Plutão é bem menor do que os demais planetas. Suas dimensões o aproximam mais da Lua do que da Terra. “Mas era o corpo mais distante conhecido, e foi considerado planeta”, diz o docente.

No entanto, em 1992, foi descoberto o primeiro objeto na região do Cinturão de Kuiper, situado além de Netuno – e também além de Plutão. Estes objetos são uma espécie de material remanescente do período de formação do Sistema Solar, que foi ejetado para uma região um pouco mais distante e periférica. Hoje conhecemos uma centena de objetos no Cinturão de Kuiper. Vários possuem tamanho comparável ao de Plutão. Esse acúmulo de descobertas ensejou o processo de revisão do conceito de planeta.

 “Não fazia sentido definir todos como planeta. Então, organizou-se uma convenção da União Astronômica Internacional para discutir o tema e propor uma nova definição”, diz Winter.

Ele explica que, para que um corpo seja classificado como planeta, precisa atender a três requisitos. “Primeiro, o corpo precisa estar em órbita o Sol, pois estamos falando do Sistema Solar. Segundo, precisa ser grande o suficiente para adquirir um formato que seja aproximadamente esférico. Corpos pequenos, como asteroides, em geral não têm formato esférico, são bem irregulares. E Plutão atende esses dois quesitos”, diz Winter. 

Foi a exigência do terceiro quesito que tirou Plutão da lista planetária. Ela estipula que a região do espaço onde se situa a órbita de um corpo “deve ser dominada por ele”.

“Ele não pode estar numa região onde existem muitos outros corpos de tamanho semelhante. E foram encontrados vários outros corpos em órbitas parecidas com a de Plutão”, diz Winter. 

Os astrônomos instituíram então a categoria de planeta anão, destinadas aos corpos que preenchem dois dos três requisitos para a classificação como planeta. Por exemplo, o asteroide Ceres, que fica entre as órbitas de Marte e de Júpiter, é grande o suficiente para possuir formato esférico. E também orbita o Sol. Mas, não é dominante na região onde está. 

“Por isso, Ceres é considerado um planeta anão, assim como Plutão e vários outros objetos que estão na região do Cinturão de Kuiper “, diz.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê