Pular para o conteúdo principal

Pesquisadora sobre por que mulher tem salário menor ganha Nobel de Economia

A americana Claudia Goldin é pioneira em abordar a discriminação salarial sofrida pelas mulheres; ela tem analisado o mercado de trabalho com a inclusão de novas tecnologias


FABRÍCIO MARQUES
jornalista

Revista FAPESP
site da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo

A economista Claudia Goldin, 77, pesquisadora da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, foi agraciada nesta segunda-feira (9/10) com o Nobel de Economia em reconhecimento a seus estudos sobre a evolução da participação feminina no mercado de trabalho dos Estados Unidos e por ajudar a compreender as causas das desigualdades salariais entre homens e mulheres. 

“As mulheres estão sub-representadas no mercado de trabalho global e, quando trabalham, ganham menos que os homens. Claudia Goldin coletou mais de 200 anos de dados dos Estados Unidos. Isso lhe permitiu demonstrar como e por que as diferenças de gênero nos ganhos e taxas de emprego mudaram ao longo do tempo”, informou a Real Academia de Ciências da Suécia ao justificar a escolha.

Goldin vai receber um prêmio de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 5 milhões). Ela é a terceira mulher a ganhar um Nobel de Economia – depois de Elinor Ostrom (1933-2012) e Esther Duflo –, mas é a primeira a conquistar o prêmio sozinha, sem precisar dividi-lo com colegas do sexo masculino.

Doutora em economia pela Universidade de Chicago, ela também foi a primeira mulher a alcançar, em 1989, o posto de professor efetivo no Departamento de Economia em Harvard, um status acadêmico que garante estabilidade e autonomia.

“Goldin tem uma contribuição pioneira e relevante em duas áreas: a da desigualdade de salários e de direitos entre homens e mulheres nos Estados Unidos e a do papel da educação para explicar as desigualdades salariais no país”, explica o economista Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância, sediado no Insper e financiado pela FAPESP. 

“Ela adotou uma abordagem baseada em dados históricos e chamou a atenção para a questão dos salários menores e da discriminação que as mulheres sofrem no mercado de trabalho muito tempo antes de esses tópicos ganharem a relevância que têm hoje”, afirma.

Em obras como Understanding the gender gap: An economic history of american women, de 1990, ela demonstrou que o emprego entre mulheres casadas diminuiu no século XIX, quando a economia se tornou menos dependente da agricultura e se industrializou, e aumentou no início dos anos 1900, com a expansão do setor dos serviços.

Gondin diz que a pílula anticoncepcional
ajudou mulheres no mercado de trabalho,
mas as novas tecnologias não
FOTO: DIVULGAÇÃO


Gondin define a década de 1970 como um período “revolucionário” em que as mulheres norte-americanas começaram a se casar mais tarde, a progredir no ensino superior e a avançar no mercado de trabalho.

A vencedora do Nobel escreveu vários trabalhos em coautoria com o marido, Lawrence Katz, também economista de Harvard. Em 2002, o casal produziu o artigo “The power of the pill: Oral contraceptives and women’s career and marriage decisions”, mostrando como o advento da pílula anticoncepcional adiou a idade que as norte-americanas tinham o primeiro filho, afastou-as do casamento precoce e permitiu que estudassem mais, o que contribuiu de modo decisivo para que avançassem no mercado de trabalho, e reduzissem a desigualdade salarial. 

Também lançaram juntos em 2009 o livro The race between education and technology, que ajuda a elucidar o papel da tecnologia e da educação para explicar a desigualdade de renda. A obra faz uma análise da relação entre o avanço do nível de escolaridade e a estrutura salarial dos Estados Unidos durante o século XX – e conclui que a estratégia de educar as massas no nível secundário a partir de 1900 o tornou o país mais rico do mundo. Mostra, contudo, que a partir da década de 1980 as mudanças tecnológicas arrefeceram os ganhos salariais da população e ampliaram as desigualdades.

Golding observou que o processo de redução das desigualdades salariais entre homens e mulheres perdeu ímpeto nos últimos anos – hoje, a média salarial das mulheres equivale a 80% da dos homens no país. 

Em um estudo feito ao longo de 15 anos com estudantes que concluíram MBA em gestão na Universidade de Chicago, a economista e seus colaboradores constataram que, embora homens e mulheres começassem a carreira com salários semelhantes, logo surgia uma desvantagem para profissionais do sexo feminino, associada à maternidade e à busca por uma jornada de trabalho flexível. O trabalho foi publicado em 2010 no periódico American Economic Journal: Applied Economics.

“Como as mulheres são as responsáveis pelos cuidados domésticos e dos filhos, elas acabam procurando empregos que ofereçam alguma flexibilidade, de meio período, por exemplo, enquanto os homens se habilitam às ocupações que exigem tempo integral. Os papéis culturais de homens e mulheres estão na origem da persistência da desigualdade salarial”, explica Naércio Menezes Filho

Goldin cunhou o termo “trabalho ganancioso” para se referir a empregos que pagam desproporcionalmente a mais por hora quando o trabalhador está disponível por mais tempo ou quando ele não tem controle sobre as horas trabalhadas – o que exclui quem busca trabalho com flexibilidade de horário.

Dias antes de ganhar o Nobel, a economista publicou um documento de discussão no repositório do National Bureau of Economic Research, intitulado “Por que as mulheres ganharam”, em que analisa por que a força de trabalho feminina obteve avanços notáveis na década de 1970 e qual a razão de esse progresso ter encontrado obstáculos nos anos seguintes.

“Dos 155 momentos críticos na história dos direitos das mulheres que compilei de 1905 a 2023, 45% ocorreram entre 1963 e 1973”, escreveu. 

“O grande aumento do emprego das mulheres, a formação de associações pelos direitos das mulheres, a crença de que o voto das mulheres era importante e os esforços de vários membros do Congresso estiveram por trás dos avanços. Mas as mulheres rapidamente ficaram divididas pelo estado civil, pelo emprego, pela origem geográfica e pela religião, muito mais do que aconteceu com os homens. Um grupo substancial de mulheres surgiu na década de 1970 para se opor a vários direitos das mulheres, tal como aconteceu durante o movimento sufragista, e continua sendo uma força poderosa.”

> Com informação da Real Academia de Ciências da Suécia e de outras fontes.

• Mulheres ocupam apenas 20% dos cargos de direção do serviço público

• Barroso diz que mulher não é útero a serviço da sociedade

• Juiz diz que a mulher é a causa da desgraça humana

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Roger tenta anular 1ª união para se casar com Larissa Sacco

Médico é acusado de ter estuprado pacientes Roger Abdelmassih (foto), 66, médico que está preso sob a acusação de ter estuprado 56 pacientes, solicitou à Justiça autorização  para comparecer ao Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de São Paulo de modo a apresentar pedido de anulação religiosa do seu primeiro casamento. Sônia, a sua segunda mulher, morreu de câncer em agosto de 2008. Antes dessa união de 40 anos, Abdelmassih já tinha sido casado no cartório e no religioso com mulher cujo nome ele nunca menciona. Esse casamento durou pouco. Agora, o médico quer anular o primeiro casamento  para que possa se casar na Igreja Católica com a sua noiva Larissa Maria Sacco (foto abaixo), procuradora afastada do Ministério Público Federal. Médico acusado de estupro vai se casar com procuradora de Justiça 28 de janeiro de 2010 Pelo Tribunal Eclesiástico, é possível anular um casamento, mas a tramitação do processo leva anos. A juíza Kenarik Boujikian Felippe,  da 16ª

Estudante expulsa acusa escola adventista de homofobia

Arianne disse ter pedido outra com chance, mas a escola negou com atualização Arianne Pacheco Rodrigues (foto), 19, está acusando o Instituto Adventista Brasil Central — uma escola interna em Planalmira (GO) — de tê-la expulsada em novembro de 2010 por motivo homofóbico. Marilda Pacheco, a mãe da estudante, está processando a escola com o pedido de indenização de R$ 50 mil por danos morais. A primeira audiência na Justiça ocorreu na semana passada. A jovem contou que a punição foi decidida por uma comissão disciplinar que analisou a troca de cartas entre ela e outra garota, sua namorada na época. Na ata da reunião da comissão consta que a causa da expulsão das duas alunas foi “postura homossexual reincidente”. O pastor  Weslei Zukowski (na foto abaixo), diretor da escola, negou ter havido homofobia e disse que a expulsão ocorreu em consequência de “intimidade sexual” (contato físico), o que, disse, é expressamente proibido pelo regulamento do estabelecimento. Consel

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Cristianismo é a religião que mais perseguiu o conhecimento científico

Cristãos foram os inventores da queima de livros LUÍS CARLOS BALREIRA / opinião As epidemias e pandemias durante milhares de anos antes do cristianismo tiveram as mais estapafúrdias explicações dos deuses. Algumas mentes brilhantes da antiguidade, tais como Imhotep (2686-2613 a.C.) e Hipócrates (460-377 a.C.) tentaram passar explicações científicas para as massas de fanáticos religiosos, ignorantes, bestas humanas. Com a chegada ao mundo das feras cristãs, mergulhamos numa era de 2000 anos de trevas e ignorância. Os cristãos foram os inventores da queima de livros e bibliotecas. O cristianismo foi a religião que mais perseguiu o conhecimento científico e os cientistas. O Serapeu foi destruído em 342 d.C. por ordem de um bispo cristão de Alexandria, sob a proteção de Teodósio I.  Morte de Hipatia de Alexandrina em ilustração de um livro do século 19 A grande cientista Hipátia de Alexandria (351/370) foi despida em praça pública e dilacerada viva pelas feras e bestas imundas cristãs. So

Seleção de vôlei sequestrou palco olímpico para expor crença cristã

Título original: Oração da vitória por Daniel Sottomaior (foto) para Folha de S.Paulo Um hipotético sujeito poderoso o suficiente para fraudar uma competição olímpica merece ser enaltecido publicamente? A se julgar pela ostensiva prece de agradecimento da seleção brasileira de vôlei pela medalha de ouro nas Olimpíadas, a resposta é um entusiástico sim! Sagrado é o direito de se crer em qualquer mitologia e dá-la como verdadeira. Professar uma religião em público também não é crime nenhum, embora costume ser desagradável para quem está em volta. Os problemas começam quando a prática religiosa se torna coercitiva, como é a tradição das religiões abraâmicas. Os membros da seleção de vôlei poderiam ter realizado seus rituais em local mais apropriado. É de se imaginar que uma entidade infinita e onibenevolente não se importaria em esperar 15 minutos até que o time saísse da quadra. Mas uma crescente parcela dos cristãos brasileiros não se contenta com a prática privada: para

Com 44% de ateus, Holanda usa igrejas como livrarias e cafés

Livraria Selexyz, em Maastricht Café Olivier, em Utrecht As igrejas e templos da Holanda estão cada vez mais vazios e as ordens religiosas não têm recursos para mantê-los. Por isso esses edifícios estão sendo utilizados por livrarias, cafés, salão de cabeleireiro, pistas de dança, restaurantes, casas de show e por aí vai. De acordo com pesquisa de 2007, a mais recente, os ateus compõem 44% da população holandesa; os católicos, 28%; os protestantes, 19%; os muçulmanos, 5%, e os fiéis das demais religiões, 4%. A maioria da população ainda acredita em alguma crença, mas, como ocorre em outros países, nem todos são assíduos frequentadores de celebrações e cultos religiosos. Algumas adaptações de igrejas têm sido elogiadas, como a de Maastricht, onde hoje funciona a livraria Selexyz (primeira foto acima). A arquitetura realmente impressiona. O Café Olivier (a segunda foto), em Utrecht, também ficou bonito e agradável. Ao fundo, em um mezanino, se destaca o órgão da antiga ig

Drauzio Varella afirma por que ateus despertam a ira de religiosos

Malafaia diz que Feliciano é vítima do PT, gays e ateus

Para pastor Malafaia,  há um  complô  contra seu colega Silas Malafaia (foto) afirmou que são os petistas, gays e ateus que estão movendo uma campanha de descrédito contra o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP). Em uma nota de alerta aos pastores para que não assinem uma carta pedindo o afastamento de Feliciano da presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, Malafaia disse estar em jogo, nesse caso, o interesse dos petistas que querem desviar a atenção da opinião pública para a posse de dois de seus integrantes condenados pelo crime do mensalão em uma das mais importantes comissões da Câmara. Trata-se dos deputados José Genoíno e João Paulo Cunha, que agora fazem parte da Comissão de Constituição e Justiça. “Eles [os petistas] precisavam desviar da sociedade o foco deste fato”, afirmou Malafaia. Outro motivo, segundo ele, é que Feliciano é “um ferrenho opositor dos privilégios” defendidos pelos ativistas gays, além de combater, por exemplo, a legaliza

Xuxa pede mobilização contra o 'monstro' Marco Feliciano

Pela primeira vez a apresentadora se envolve em uma polêmica A apresentadora da Rede Globo Xuxa (foto) afirmou em sua página no Facebook que o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP), o novo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, não é “um religioso, é um monstro”. Sem citar o nome de Feliciano, ela ficou indignada ao ler que “esse deputado disse que negros, aidéticos e homossexuais não têm alma”. “Vamos fazer alguma coisa! Em nome de Deus, ele não pode ter poder.” É a primeira vez que Xuxa pede mobilização de seus fãs em uma questão polêmica. Amiga do padre Marcelo Rossi, ela é católica praticante. No Facebook, em seu desabafo, escreveu sete vezes a palavra "Deus" e argumentou que todos sabem que ela respeita todas as religiões. A apresentadora também se mostrou abalada ao saber que Feliciano, durante uma pregação, pediu a senha do cartão bancário de um fiel. “O que é isso, meu povo?” “Essa pessoa não pode ser presidente da C