Pular para o conteúdo principal

Você já sofreu 'breadcrumbing'? Descubra o que são migalhas emocionais

Cerca de 35% dos usuários de aplicativos de namoro são vítimas de quem só quer "enrolar", sem interesse em relacionamento sério 


JON ANDONI DUÑABEITIA
diretor da Cátedra em Saúde
Cognitiva na Universidade
de  Nebrija, em Madrid, 
Espanha

The Conversation
plataforma de informação
e análise produzida por 
acadêmicos e jornalistas

Muitas pessoas hoje usam aplicativos de namoro nos quais estranhos iniciam conversas com um objetivo aparentemente comum: encontrar um parceiro. O primeiro erro que muitos usuários desses aplicativos cometem é pensar justamente isso, já que nossos interlocutores nem sempre estão em busca do amor verdadeiro.

Na verdade, alguns estudos sugerem que as motivações para interagir através deste tipo de plataformas são extremamente variadas, podendo ir desde a mera intenção de falar com as pessoas até fofocar sobre outros perfis. Ou seja, a busca pelo amor nem sempre é um objetivo compartilhado pelos usuários desses aplicativos.

Neste desconcertante mundo moderno de aplicativos de namoro, encontramos uma paisagem que lembra um conto clássico, cheio de personagens intrigantes e desafios emocionais. Eles nos levam a um mundo com lobos astutos e mentirosos, migalhas de pão que podem nos desencaminhar e fantasmas que desaparecem misteriosamente.

O lobo das mentiras

Nesta história, o lobo das mentiras espreita na floresta dos aplicativos de namoro. Como o lobo mau em Chapeuzinho Vermelho, este lobo se esconde atrás de um véu de engano. No mundo do namoro online, aproximadamente 7% do que se diz na fase inicial das conversas é mentira .

Muitas vezes as pessoas recorrem à mentira para tornar seu perfil mais atraente ou para evitar conversas estranhas. E embora nas histórias clássicas a verdade seja sempre revelada, no mundo dos aplicativos de namoro é muito mais difícil distinguir entre mentiras e verdades, e muitos usuários podem ficar céticos e desconfiados após se sentirem enganados. Mau começo para estabelecer um relacionamento duradouro.

A armadilha na floresta do namoro

Nesta história, muitos protagonistas se aventuram em uma floresta, onde migalhas de pão são usadas não para encontrar o caminho de volta para casa, mas para manter as pessoas presas em um intrincado labirinto emocional. Essa prática é conhecida como “ breadcrumbing ” e é derivada da palavra breadcrumb , que em inglês significa “breadcrumb”.

O termo tem origem na prática de deixar migalhas de pão como sinais, em referência à história de João e Maria em que os personagens deixavam pistas para marcar seu caminho na floresta.

Assim, breadcrumbing consiste em dar sinais intermitentes de interesse sem um compromisso real de avançar no relacionamento. Alguém que despertou o nosso interesse de vez em quando nos deixa sinais que mantêm viva a ilusão ou a esperança, mas que nunca levam a mais nada. Como nas histórias, quem segue as migalhas muitas vezes se perde em uma floresta de expectativas não realizadas.

De acordo com um estudo recente, cerca de 35% dos usuários de aplicativos de namoro iniciaram ou experimentaram o breadcrumbing. Longe de ser uma curiosidade, o 'breadcrumbing" tem um forte impacto negativo na vida de quem o sofre, levando-os a sentirem-se perdidos num labirinto emocional do qual é difícil sair emocionalmente intactos.

Há estudos que mostram que, à medida que as migalhas continuam, as pessoas podem sentir menos satisfação na vida e sentir-se mais sozinhas e desamparadas, visto que o seu interlocutor não tem intenção real de levar o relacionamento a um nível mais profundo.

O fantasma

Neste conto moderno, também encontramos um fantasma misterioso. Como fantasmas em histórias de terror, “fantasmas” em aplicativos de namoro envolvem alguém desaparecendo repentinamente sem deixar rastros. Ghosting (ghost em inglês significa fantasma) seria traduzido como “desaparecimento fantasmagórico” ou “desaparecimento repentino”, e também é conhecido coloquialmente como “deixar alguém a ver navio" [na versão em português].

Como se fossem personagens de um romance de mistério, as pessoas que sofrem fantasmas são abandonadas em meio à incerteza, sem pistas do que aconteceu. Após diversas interações através de um aplicativo de namoro, e tendo gerado expectativas na outra pessoa, o fantasma desaparece, causando um sentimento de perplexidade que, por vezes, tem forte impacto emocional.

O relacionamento Chapeuzinho
Vermelho como o Lobo Mau é
real 
no mundo dos aplicativos
ILUSTRAÇÃO: REDE SOCIAL

Vamos relembrar o momento em que o príncipe e a Cinderela se encontram no baile e fazem uma partida mágica e emocionante. Ambos se sentem instantaneamente atraídos um pelo outro, semelhante ao que acontece em muitos aplicativos de namoro quando duas pessoas começam a interagir. Porém, Cinderela pratica fantasmas e desaparece misteriosamente, deixando o príncipe sozinho com um sapatinho de cristal e se perguntando o que aconteceu. Felizmente para o príncipe, a história termina bem e o amor prevalece.

Por outro lado, o ghosting na história dos aplicativos de namoro nem sempre termina bem. Um estudo recente relata que cerca de 20% dos usuários dessas plataformas iniciaram ou sofreram ghosting.

Busca de relacionamentos sólidos

No mundo dos aplicativos de namoro, lobos de mentiras, migalhas liderando o caminho e fantasmas são apenas alguns dos desafios. Esses problemas podem levar à desconfiança, frustração e confusão nos relacionamentos. No entanto, nem tudo está perdido.

Assim como na história da Cinderela, onde a história continua depois do baile, na vida real relacionamentos significativos são construídos à medida que as pessoas se conhecem mais profundamente por meio de encontros reais e conversas honestas. 

Em vez de desaparecerem como fantasmas, estudos científicos demonstraram que as pessoas podem encontrar um maior sentido de ligação e autenticidade investindo tempo e esforço no desenvolvimento de relações que vão além da superfície, criando a sua própria história de amor duradouro.

Na verdade, estima-se que dois terços dos relacionamentos românticos de jovens adultos começaram como amizades. Assim como nas histórias de infância, onde os personagens criaram laços antes de encontrar o amor verdadeiro, a construção de relacionamentos fortes é baseada no conhecimento mútuo, na confiança e na comunicação eficaz. Não vamos esquecer como nasceu o amor entre a Bela e a Fera .

Cada um de nós é protagonista da sua própria história e está em nossas mãos escrever o final.

Comentários

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Seleção de vôlei sequestrou palco olímpico para expor crença cristã

Título original: Oração da vitória por Daniel Sottomaior (foto) para Folha de S.Paulo Um hipotético sujeito poderoso o suficiente para fraudar uma competição olímpica merece ser enaltecido publicamente? A se julgar pela ostensiva prece de agradecimento da seleção brasileira de vôlei pela medalha de ouro nas Olimpíadas, a resposta é um entusiástico sim! Sagrado é o direito de se crer em qualquer mitologia e dá-la como verdadeira. Professar uma religião em público também não é crime nenhum, embora costume ser desagradável para quem está em volta. Os problemas começam quando a prática religiosa se torna coercitiva, como é a tradição das religiões abraâmicas. Os membros da seleção de vôlei poderiam ter realizado seus rituais em local mais apropriado. É de se imaginar que uma entidade infinita e onibenevolente não se importaria em esperar 15 minutos até que o time saísse da quadra. Mas uma crescente parcela dos cristãos brasileiros não se contenta com a prática privada: para

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê

Psicóloga defende Feliciano e afirma que monstro é a Xuxa

Marisa Lobo fez referência ao filme de Xuxa com garoto de 12 anos A “psicóloga cristã” Marisa Lobo (foto) gravou um vídeo [ver abaixo] de 2 minutos para defender o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) da crítica da Xuxa segundo a qual ele é um “monstro” por propagar que a África é amaldiçoada e a Aids é uma “doença gay”. A apresentadora, em sua página no Facebook, pediu mobilização de seus fãs para que Feliciano seja destituído da presidência da Comissão de Direitos Humanos e das Minorias da Câmara. Lobo disse que “monstro é quem faz filme pornô com criança de 12 anos”. Foi uma referência ao filme “Amor Estranho Amor”, lançado em 1982, no qual Xuxa faz o papel de uma prostituta. Há uma cena em que a personagem, nua, seduz um garoto, filho de outra mulher do bordel. A psicóloga evangélica disse ter ficado “a-pa-vo-ra-da” por ter visto nas redes sociais que Xuxa, uma personalidade, ter incitado ódio contra um pastor. Ela disse que as filhas (adolescentes) do pastor são fãs