Pular para o conteúdo principal

Cuidar dos outros nos tornou humano

O primeiro sinal de civilização pode ser considerado o fêmur fraturado e curado de 15.000 anos atrás encontrado em um sítio arqueológico


Professor associado de pesquisa
Universidade San Jorge


Paula Fernández Martínez
bioestatística

The Conversation
plataforma de informação e análise produzida por acadêmicos e jornalistas

Quando adoecemos, a primeira coisa que procuramos é alguém que cuide de nós. Se possível, que seja nossa mãe, pai ou companheiro. O cuidado é definido como atenção amorosa que preserva, protege e promove o bem-estar.

Devido ao processo evolutivo, o cuidado está presente na espécie humana desde que começamos a existir. Vários estudos mostram que na antiguidade se cuidava dos doentes.

É o caso de Atapuerca (Burgos, Espanha), em cujos locais foi encontrada “Benjamina”, uma menina com uma doença chamada craniossinostose. Apesar de ter sofrido retardo psicomotor e apresentar feições deformadas, a menina faleceu aos dez anos, o que indica que eram muito atenciosos com ela. Isso teria ocorrido há cerca de 530.000 anos.

Mais tarde, durante a Idade Média, também chamaram a atenção os restos mortais de um homem com cerca de 50 anos encontrados na necrópole de Maro (Málaga, Espanha). Datado entre os séculos X e XI, seus ossos apresentavam uma fratura vertebral que cicatrizou naturalmente. Essa pessoa provavelmente ficou tetraplégica, o que implica que foi cuidada e acompanhada para garantir sua sobrevivência.

A antropóloga americana Margaret Mead disse aos seus alunos que o primeiro sinal de civilização foi um fêmur fraturado e depois curado.

O que determina a necessidade de cuidado?

O cuidado sempre esteve no centro das sociedades porque, sem ele, a vida humana não seria possível. Aqui podemos falar de “tarefas de manutenção”, que incluem atividades como gravidez, parentalidade, preparação de alimentos, cuidado de doentes… O que não é pouca coisa.

Cuidando uns dos outros, os
homines sapientes asseguraram
sua sobrevivência no planeta

São atividades repletas de conhecimento, tecnologia e inovação. Porém, historicamente, essas tarefas foram relegadas a segundo plano, como um trabalho menor, e sempre associadas à figura da mulher. É, talvez, esta associação que prejudica estas tarefas. Embora, na realidade, a convivência coletiva faça com que todos participemos desse cuidado.

E os idosos desempenham aqui um papel essencial. Em muitos momentos da história, as sociedades humanas foram governadas por pessoas idosas e sábias, conhecidas como gerontocracia

Atualmente, em algumas instituições ou países ainda existe um apego a este tipo de estrutura. Sem ir mais longe, as próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos serão provavelmente decididas entre dois candidatos de idade avançada.

A hipótese da avó

O início do envelhecimento na nossa espécie está associado ao fim da idade reprodutiva, especialmente nas mulheres. O fato de vivermos para além desta fase está relacionado, segundo a hipótese da avó, com a nossa capacidade de cuidar dos outros e transmitir-lhes conhecimentos. Um estudo recente em chimpanzés mostra que talvez não sejamos a única espécie que desenvolve esta estratégia.

A investigação realizada com um grupo de chimpanzés de Ngogo (Uganda) relaciona esta vida pós-produtiva a duas teorias. Por um lado, postula-se a já mencionada hipótese da avó. Embora, por outro lado, também possa ser devido ao fato de as fêmeas mais velhas deixarem de competir com as jovens pelo acasalamento quando chegam à menopausa, favorecendo a variabilidade genética da prole.

Bebês

No nosso caso, o Homo sapiens, também somos muito vulneráveis ​​ao nascer, e novamente isso é uma questão de evolução. Agora estamos sobre duas pernas e a pélvis das mulheres é mais estreita por causa disso. Além disso, sendo uma espécie com o maior cérebro, ficamos “cabeçudos” e nossas cabeças não cabem no canal do parto. Isso explica porque nascemos cedo, aos nove meses de gestação.

Desta forma, e embora dificulte o processo, garantimos que o parto ocorre, com a consequente necessidade de cuidados ao nascer.

Em suma, a existência de ossos antigos de pessoas doentes e longevas indica que o cuidado das pessoas indefesas tinha que ser feito por todos. Foi o cuidado que nos trouxe até aqui como sociedade. Isso nos permitiu sobreviver.

Cuidar e acompanhar a doença faz com que sejam implementadas atividades, conhecimentos, estratégias e tecnologias que auxiliam na recuperação das pessoas. Tudo isso ajuda a criar relações sociais essenciais para o funcionamento da sociedade, como a solidariedade e a empatia.

• Cientistas identificam os mais antigos fósseis de Homo sapiens

• Homo sapiens se espalhou pelo planeta a partir do Norte de Boswana, diz estudo

• Somos as últimas gerações de Homo Sapiens; vem aí o cyborg, afirma Harari

Comentários

betoquintas disse…
Tudo feito sem ter necessidade de evidência.😏🤭

Post mais lidos nos últimos 7 dias

90 trechos da Bíblia que são exemplos de ódio e atrocidade

Veja 14 proibições das Testemunhas de Jeová a seus seguidores

Dawkins é criticado por ter 'esperança' de que Musk não seja tão estúpido como Trump

Tibetanos continuam se matando. E Dalai Lama não os detém

O Prêmio Nobel da Paz é "neutro" em relação às autoimolações Stephen Prothero, especialista em religião da Universidade de Boston (EUA), escreveu um artigo manifestando estranhamento com o fato de o Dalai Lama (foto) se manter neutro em relação às autoimolações de tibetanos em protesto pela ocupação chinesa do Tibete. Desde 16 de março de 2011, mais de 40 tibetanos se sacrificaram dessa dessa forma, e o Prêmio Nobel da Paz Dalai Lama nada fez para deter essa epidemia de autoimolações. A neutralidade, nesse caso, não é uma forma de conivência, uma aquiescência descompromissada? Covardia, até? A própria opinião internacional parece não se comover mais com esse festival de suicídios, esse desprezo incandescente pela vida. Nem sempre foi assim, lembrou Prothero. Em 1963, o mundo se comoveu com a foto do jornalista americano Malcolm Wilde Browne que mostra o monge vietnamita Thich Quang Duc colocando fogo em seu corpo em protesto contra a perseguição aos budistas pelo

Proibido o livro do padre que liga a umbanda ao demônio

Padre Jonas Abib foi  acusado da prática de  intolerância religiosa O Ministério Público pediu e a Justiça da Bahia atendeu: o livro “Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação”, do padre Jonas Abib (foto), terá de ser recolhido das livrarias por, nas palavras do promotor Almiro Sena, conter “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”. O padre Abib é ligado à Renovação Carismática, uma das alas mais conservadoras da Igreja Católica. Ele é o fundador da comunidade Canção Nova, cuja editora publicou o livro “Sim, Sim!...”, que em 2007 vendeu cerca de 400 mil exemplares, ao preço de R$ 12,00 cada um, em média. Manuela Martinez, da Folha, reproduz um trecho do livro: "O demônio, dizem muitos, "não é nada criativo". (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde no

Condenado por estupro, pastor Sardinha diz estar feliz na cadeia

Pastor foi condenado  a 21 anos de prisão “Estou vivendo o melhor momento de minha vida”, diz José Leonardo Sardinha (foto) no site da Igreja Assembleia de Deus Ministério Plenitude, seita evangélica da qual é o fundador. Em novembro de 2008 ele foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por estupro e atentado violento ao pudor. Sua vítima foi uma adolescente que, com a família, frequentava os cultos da Plenitude. A jovem gostava de um dos filhos do pastor, mas o rapaz não queria saber dela. Sardinha então disse à adolescente que tinha tido um sonho divino: ela deveria ter relações sexuais com ele para conseguir o amor do filho, e a levou para o motel várias vezes. Mas a ‘profecia’ não se realizou. O Sardinha Jr. continuou não gostando da ingênua adolescente. No texto publicado no site, Sardinha se diz injustiçado pela justiça dos homens, mas em contrapartida, afirma, Deus lhe deu a oportunidade de levar a palavra Dele à prisão. Diz estar batizando muita gen

Veja os 10 trechos mais cruéis da Bíblia

TJs perdem subsídios na Noruega por ostracismo a ex-fiéis. Duro golpe na intolerância religiosa

Profecias de fim do mundo

O Juízo Final, no afresco de Michangelo na Capela Sistina 2033 Quem previu -- Religiosos de várias épocas registraram que o Juízo Final ocorrerá 2033, quando a morte de cristo completará 2000. 2012 Quem previu – Religiosos e teóricos do apocalipse, estes com base no calendário maia, garantem que o dia do Juízo Final ocorrerá em dezembro, no dia 21. 2011 Quem previu – O pastor americano Harold Camping disse que, com base em seus cálculos, Cristo voltaria no dia 21 de maio, quando os puros seriam arrebatados e os maus iriam para o inferno. Alguns desastres naturais, como o terremoto seguido de tsunami no Japão, serviram para reforçar a profecia. O que ocorreu - O fundador do grupo evangélico da Family Radio disse estar "perplexo" com o fato de a sua profecia ter falhado. Ele virou motivo de piada em todo o mundo. Camping admitiu ter errado no cálculo e remarcou da data do fim do mundo, que será 21 de outubro de 2011. 1999 Quem previu – Diversas profecias

Santuário Nossa Senhora Aparecida fatura R$ 100 milhões por ano

Basílica atrai 10 milhões de fiéis anualmente O Santuário de Nossa Senhora de Aparecida é uma empresa da Igreja Católica – tem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – que fatura R$ 100 milhões por ano. Tudo começou em 1717, quando três pescadores acharam uma imagem de Nossa Senhora no rio Paraíba do Sul, formando-se no local uma vila que se tornou na cidade de Aparecida, a 168 km de São Paulo. Em 1984, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concedeu à nova basílica de Aparecida o status de santuário, que hoje é uma empresa em franca expansão, beneficiando-se do embalo da economia e do fortalecimento do poder aquisitivo da população dos extratos B e C. O produto dessa empresa é o “acolhimento”, disse o padre Darci José Nicioli, reitor do santuário, ao repórter Carlos Prieto, do jornal Valor Econômico. Para acolher cerca de 10 milhões de fiéis por ano, a empresa está investindo R$ 60 milhões na construção da Cidade do Romeiro, que será constituída por trê